14 Março 2025
É preciso “investir no canteiro de obras da Europa”, e não em uma Europa qualquer: uma Europa promotora do diálogo e do multilateralismo, contraponto às rajadas de nacionalismo, uma Europa que não deixe prevalecer “a lógica das armas” ou “a narrativa da inevitabilidade da guerra”.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 10-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Cardeal Matteo Zuppi aproveita a oportunidade do Conselho Episcopal Permanente, o parlamento dos bispos italianos, para indicar qual é, para a Igreja, o caminho a ser seguido e qual deve ser evitado. São claros para ele os desequilíbrios globais, os desmandos de Donald Trump, o debate sobre o exército europeu, o papel da Itália. Ele pensa na Ucrânia. O presidente da Conferência Episcopal Italiana dedica seu primeiro pensamento ao Papa Francisco, que está hospitalizado na policlínica Gemelli: “Alguém”, afirma, “recordando a comovente e dramática oração de 27 de março de 2020, quando o Papa Francisco rezou sozinho pelo mundo inteiro, escreveu-me que agora é o mundo inteiro que se une em oração por ele”. Mesmo os não crentes, ressalta, “se unem à invocação por sua saúde, considerando-o um apóstolo da paz e da espiritualidade”.
Já há algum tempo, Francisco confiou a ele uma missão humanitária para encontrar brechas de paz na Ucrânia: ele foi a Kiev, Moscou, Washington e Pequim. “Acompanhamos com atenção ansiosa o que acontece na Ucrânia, submetida a bombardeios e ataques sistemáticos”, diz o arcebispo de Bolonha. “Todos os dias as sirenes rompem as noites que gostaríamos que fossem tranquilas para todos, especialmente para as crianças e os doentes, incluindo muitos feridos e mutilados. Olhamos com atenção e esperança para o possível diálogo entre a Ucrânia e a Rússia, enquanto almejamos que isso possa marcar uma nova temporada para todos aqueles países - incluindo os Estados Unidos, a Europa e a China - que, de várias maneiras, estão envolvidos na busca pela paz.
Finalmente, estão sendo tomadas medidas para a paz. Isso - insiste Zuppi - precisa de diálogo, como o Papa Francisco sempre pediu”. Diálogo: uma palavra que Zuppi repete nada menos que quinze vezes.
O presidente da CEI transforma em positivo o papel que Giorgia Meloni está desempenhando entre os Estados Unidos de Trump e os tumultos de Bruxelas. “Vemos com interesse”, diz ele, ”o esforço do governo italiano para conectar o crescimento da responsabilidade europeia para o diálogo intraocidental na busca de uma paz justa e duradoura e a indispensável visão multilateral na resolução de conflitos. No entanto, “no grande confronto global”, adverte Zuppi, “somente uma Europa unida pode preservar o humanismo europeu”.
O cardeal, que está relançando o empenho dos católicos na política, lançado na Semana Social de Trieste no verão passado, identifica claramente um caminho a ser evitado, ou melhor, a ser desminado, e um horizonte em direção ao qual se deve avançar. O horizonte é o europeu, a necessidade de relançar o sonho dos pais fundadores. Se para a praça europeia lançada por Michele Serra também aderiu à Comunidade de Santo Egídio, da qual é originário, Zuppi explica: “Devemos investir no canteiro de obras da Europa”, uma Europa que “nunca renuncia a investir no diálogo como método para a resolução de conflitos, para não deixar que a lógica das armas prevaleça, para não permitir que a narrativa da inevitabilidade da guerra se instale”.
Já se foram os dias de batalhas em torno das raízes cristãs. “Não reivindicamos uma Europa confessional”, diz Zuppi, mas “a Europa é uma terra arada pelo cristianismo” e “como crentes, estamos em casa no processo europeu”. O caminho errado é o caminho do nacionalismo (“Está em contradição com o Evangelho”, enfatiza) e da guerra (“O fantasma de uma nova guerra mundial tem pairado nos últimos anos e o Papa o denunciou”). Se a Segunda Guerra Mundial “foi fruto da loucura nacionalista da Alemanha nazista e da Itália fascista”, hoje “o mal do nacionalismo veste nova roupagem, sopra em muitas regiões, dita políticas, exalta partes dos povos, aponta inimigos”. O presidente da CEI está preocupado com o fato de que fóruns como a ONU tenham sido “esvaziados de significado e prestígio”. O caminho para a paz, diz ele, “é sempre aquele do diálogo, que hoje também assume as conotações do multilateralismo. O enfraquecimento das estruturas internacionais logo se tornará para todos causa de maior incerteza e não certamente de maior segurança. Sem espaços para o diálogo, as posições individuais se tornam rígidas e tendem a se impor pela violência. Também nisso - Zuppi está convencido - a Igreja pode voltar a ser mestra da humanidade”.