13 Março 2025
"Aquele sobre o qual é descarregada toda a pressão de um sistema social baseado na hipercompetitividade, na compressão de custos e na urgência de minimizar os tempos para maximizar os lucros. É nesse verdadeiro faroeste das relações de trabalho que se mostra a face bárbara e violenta de um empreendedorismo que, justamente por operar sem fronteiras, não tolera limites para sua atuação", escreve Marco Revelli, professor da Universidade do Piemonte Oriental “Amedeo Avogadro”, em artigo publicado em La Stampa, 10-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A última, benemérita ação da promotoria distrital antimáfia de Milão contra uma gigantesca rede de evasão fiscal e exploração de mão de obra que beira o trabalho escravo trouxe à tona mais uma peça de um sistema bastante generalizado. O objeto da investigação foi a onipresente Dhl, que não é exatamente uma pequena empresa. É um gigante presente em 220 países em todo o mundo, com uma frota de 420 aviões e 76 mil veículos, um número de funcionários próximo a 600 mil e um faturamento de 82 bilhões de euros. Sua filial italiana, a que é diretamente o objeto da investigação, tem um faturamento de quase um bilhão e meio de euros: o confisco preventivo de urgência de 46,8 milhões ordenado pelo Ministério Público, cerca de 3% da receita de um ano, certamente não a prejudica tanto assim. E, de fato, “sujeitos” desse tipo geralmente não hesitam em pagar as sanções sem pestanejar, a fim de evitar processos judiciais inconvenientes que poderiam revelar as condições desumanas em que trabalha uma parte substancial de sua mão de obra.
Não estamos diante, aqui, de resquícios arcaicos de relações de trabalho semifeudais, como no caso do “caporalato”, trabalho escravo contemporâneo na zona rural de Rosarno ou Latina. Estamos diante de plataformas transnacionais que têm a cabeça na hipermodernidade da inteligência artificial e da conectividade total e, ao longo das cadeias de suprimentos de subcontratação, plantam suas raízes nas zonas cinzentas de microcooperativas fantasmas, onde homens e mulheres valem menos do que animais. No alto, nas camadas rarefeitas do marketing e das finanças, códigos de ética, cultura woke, retórica da sustentabilidade e do verde. Na parte inferior, sangue e lama, gente trabalhando dezoito horas por dia por quatro euros para cumprir prazos de entrega impiedosos.
O sociólogo Aldo Bonomi definiu essas novas realidades como “o auge da inovação e o auge da mediocridade” (onde o termo mediocridade é um eufemismo para barbárie). Ela expressa a condição generalizada do trabalho em setores como segurança, distribuição em larga escala, parte da moda e, acima de tudo, logística, o verdadeiro coração negro do capitalismo italiano (e não só), o verdadeiro sistema circulatório que alimenta o organismo transterritorial da nova economia. Aquele sobre o qual é descarregada toda a pressão de um sistema social baseado na hipercompetitividade, na compressão de custos e na urgência de minimizar os tempos para maximizar os lucros.
É nesse verdadeiro faroeste das relações de trabalho que se mostra a face bárbara e violenta de um empreendedorismo que, justamente por operar sem fronteiras, não tolera limites para sua atuação.
Um primeiro rasgo no véu do silêncio foi visto em 18 de junho de 2021 com a morte de Adil Belakhdim em frente aos portões da área de logística de Biandrate, na região de Novara, na Itália: um piquete em defesa dos empregos, um motorista (também vítima do mesmo sistema vexatório) jogando seu caminhão contra os grevistas, um corpo estendido sob uma lona azul no pátio do galpão de uma das muitas empresas que haviam contribuído para exasperar o confronto. Adil Belakhdim tinha 37 anos, dois filhos e era o coordenador do sindicato autônomo SiCobas. Alguns dias depois, em Tavazzano, perto de Lodi, houve a agressão a outro piquete de trabalhadores por energúmenos nos moldes dos Pinkertons estadunidenses do tardio 1800, com tacos de beisebol, barras de ferro, socos ingleses, vários trabalhadores no chão, um deles em estado grave. A matilha estava saindo de um armazém da FedEx, outro gigante do transporte global - cerca de 400 mil colaboradores, 160 mil veículos, 657 aeronaves, 70 bilhões de dólares de faturamento - que havia decidido fechar suas instalações de Piacenza devido a um excesso de resistência.
O gabinete do promotor antimáfia de Milão dirigiu seu olhar sobre essa turba selvagem. Seja bem-vindo. Mas também a política, aquela “de governo”, não deveria permanecer cega e muda. Por exemplo: o que espera para estabelecer por lei o salário mínimo? Isso não acalmaria os instintos animais dos grandes predadores, mas pelo menos indicaria um limite para sua voracidade. A recusa obstinada em introduzi-lo apenas incentiva essas lógicas perversas.