10 Janeiro 2025
"Alguém pode pensar que essa solução realmente representa um grande avanço no caminho para alcançar a dignidade igual para homens e mulheres na igreja? Para fazer uma comparação: será que basta que, em um regime de apartheid em que é negado o direito de voto aos negros, uma pessoa de pele negra seja designada como colaboradora pelo chefe de estado (obviamente branco) para que se possa dizer que a igualdade foi alcançada?", questiona o sociólogo italiano Marco Marzano, em artigo publicado por Domani, 09-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
A surpreendente decisão do Papa Francisco de nomear uma mulher, a Irmã Simona Brambilla, como chefe do dicastério para os Institutos de Vida Consagrada causou, com razão, grande alvoroço. Trata-se de uma decisão sem precedentes, possibilitada por uma inovação jurídica aprovada há algum tempo, que torna possível confiar um dicastério do Vaticano a um leigo não ordenado e, portanto, também a uma mulher.
O valor e a importância da medida são evidentes: de agora em diante, uma função importante como a que foi confiada à Irmã Brambilla não é mais prerrogativa exclusiva do clero, não pertence mais à competência exclusiva dos sacerdotes.
Dito isso, é difícil considerar essa uma decisão realmente revolucionária. Ao lado da luz proveniente da nomeação, vejo se delineando duas grandes sombras, de dimensões crescentes.
A primeira provém de outra circunstância inédita presente na decisão de Francisco: a de colocar ao lado da Ir. Brambilla um pró-prefeito na pessoa do Cardeal Ángel Fernández Artime, 64 anos, ex-superior geral da poderosíssima congregação dos salesianos. Os argumentos que surgiram nos últimos dias para justificar essa surpreendente parceria não são nada convincentes e não são, no geral, suficientes para afastar a suspeita muito concreta de que o verdadeiro chefe do dicastério será o cardeal espanhol e não a freira italiana. Além disso, o altíssimo prelado era apontado em todas as previsões como o favorito para o cargo de prefeito.
A segunda sombra é decididamente maior do que a primeira e consiste no fato de que a linha que o papa pretende seguir em relação às mulheres agora parece clara: por um lado, negar a elas qualquer possibilidade de acesso à ordenação diaconal (muito menos à ordenação sacerdotal!), enquanto lhes consente, pelo outro, o acesso a funções gerenciais na Cúria Romana. Em outras palavras, as únicas mulheres a quem é oferecida a possibilidade de ocupar cargos de responsabilidade na igreja bergogliana são aquelas pouquíssimas que o papa-monarca ou, no nível mais baixo, os bispos (sempre homens, também eles como o papa) em suas dioceses escolhem com absoluta liberdade como suas colaboradoras.
Alguém pode pensar que essa solução realmente representa um grande avanço no caminho para alcançar a dignidade igual para homens e mulheres na igreja? Para fazer uma comparação: será que basta que, em um regime de apartheid em que é negado o direito de voto aos negros, uma pessoa de pele negra seja designada como colaboradora pelo chefe de estado (obviamente branco) para que se possa dizer que a igualdade foi alcançada? A nomeação da Irmã Brambilla (e daquelas poucas que serão depois dela empossadas para cargos semelhantes) pode realmente compensar o sufocamento das aspirações de milhares de mulheres em todo o mundo que gostariam de ser diáconas ou sacerdotisas e que já teriam hoje todas as competências teológicas necessárias?
E, afinal, a questão não se resume em satisfazer algumas aspirações pessoais, embora legítimas, mas sim o impacto político, cultural e simbólico que a decisão de introduzir a ordenação feminina teria para toda a Igreja em todo o mundo.
A nomeação da Irmã Brambilla foi recebida, pelo menos pela imprensa italiana, como um evento revolucionário. O sinal da extraordinária benevolência do pontífice para com o gênero feminino, mas podemos apostar que dela, cujo cargo é, de qualquer forma, fiduciário e revogável pelo próprio pontífice, nunca mais ouviremos falar uma vez que não é feminista e nunca demonstrou qualquer desejo de promover instâncias de mudança radical. A irmã Brambilla desempenhará sua importante missão com a discrição, a reserva e a moderação que convêm a quem ocupa assentos como a dela. Temos certeza disso.
Muito diferente seria o impacto do sacerdócio feminino. Pensemos naquelas meninas em idade de catequese que participassem a uma missa vendo uma mulher adulta no altar usando paramentos e no ato de consagrar as hóstias, ler o Evangelho, proferir a homilia, fazer tudo o que apenas os padres homens fazem no catolicismo atual. Pensemos no efeito que isso teria sobre a imagem que essas meninas, e obviamente também seus pares masculinos, teriam de Deus, da lei, da autoridade e assim por diante. Em suma, parece claro para mim, para usar uma fórmula, que uma nomeação não vale uma missa e que, para o caminho acidentado das mulheres na igreja, as reformas estruturais que - agora já entendemos, não virão deste pontificado - representam uma ferida profunda para a qual uma nomeação como a da Irmã Brambilla é pouco mais do que um band-aid remendado.
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A nomeação da Irmã Brambilla como prefeita não cura a ferida da falta de igualdade na igreja. Artigo de Marco Marzano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU