29 Outubro 2024
Muitos observadores notaram a grande cautela demonstrada pela Conferência Episcopal Francesa após as vitórias do Rassemblement National nas urnas em 9 e 30 de junho de 2024.
O artigo é de Pierre-louis Choquet, sociólogo francês. A tradução é de Luisa Rabolini.
Agradecemos à revista Esprit por ter publicado este artigo em acesso livre em sua edição de setembro de 2024. O autor, Pierre-Louis Choquet, é professor e pesquisador do Institut de recherche pour le développement. Publicou, com Jean-Victor Elie e Anne Guillard, Palidoyer pour un nouvel engagement chrétien (Editions de l'Atelier, 2017).
Essa atitude se deve, em parte, à dependência estrutural do Estado para o financiamento de locais de culto e do ensino privado autorizado, e, em parte, à crescente influência de dois bilionários de extrema-direita, Vincent Bolloré e Pierre-Édouard Stérin. Nos últimos dois meses, o ciclo político que começou com a ampla vitória do Reagrupamento National (RN) nas eleições europeias, continuou com a dissolução da Assembleia Nacional e, finalmente, terminado com as eleições legislativas, marcou um ponto de virada na história da Quinta República.
Entramos em um período de incerteza, no qual a instabilidade política provavelmente terá o efeito a curto prazo de reforçar a atratividade da “promessa de ordem” que já favoreceu o sucesso do RN. Embora tenha sido derrotado no segundo turno, em 7 de julho, graças à manutenção da frente republicana, o partido lepenista ainda assim obteve mais de 10 milhões de votos, ou 37% dos votos expressos. Portanto, mais do que nunca, temos que imaginar que possa chegar ao poder, com uma maioria e os meios para governar. Afinal de contas, suas ideias, apoiadas pelas mídias e pelos algoritmos das redes sociais, já polarizaram amplamente o debate público e permearam o imaginário coletivo.
Nesse contexto de decomposição política, a Igreja Católica tem dificuldades para assumir uma posição explícita. Deve-se dizer que um número crescente de seus membros, “praticantes” ou não, agora votam na extrema-direita. Muitos observadores notaram a grande cautela demonstrada pela Conferência Episcopal após as vitórias do RN nas urnas em 9 e 30 de junho de 2024. Os excessos do Manif pour tous e os escândalos dos abusos sexuais são frequentemente citados para explicar a discrição dos bispos na esfera pública (“quem somos nós para dar lições de moralidade?”, etc.). Entretanto, essa hipótese parece ter limites. Em 2023, durante os debates sobre o projeto de lei sobre o fim da vida, vários bispos intervieram na mídia para lembrar claramente as posições do Magistério, como fizeram há pouco tempo na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris. Como explicar então o silêncio quase geral dos bispos diante do risco de o RN chegar ao poder no início do verão de 2024? Não seria indicativo de uma incapacidade crescente de analisar as mudanças políticas que estão ocorrendo, de tomar uma posição sobre elas e de denunciá-las claramente, em nome da fé cristã, quando as circunstâncias o exigirem?
De fato, a instituição eclesial está necessariamente envolvida nas realidades do momento histórico; ela é moldada por processos que definem sua forma de existir na sociedade. A maneira como concebe e articula a liturgia, a pastoral, a teologia, a missão e as obras nunca está desvinculada do contexto sociopolítico no qual está imersa. Em cada época, portanto, é importante analisar com rigor e lucidez as formas eclesiais existentes ou que estão prestes a emergir, a fim de tentar compreender melhor a relação dialética que criam com os poderes temporais. Essa crítica tem como objetivo desvendar possíveis pontos cegos e precaver-se contra possíveis compromissos. Em outras palavras, o desafio é lançar as bases de uma eclesiologia política reflexiva, atenta à distância saudável que a Igreja Católica pode e deve manter em relação aos poderosos, se quiser continuar a ter credibilidade na proclamação da Boa Nova a todas as pessoas que os poderosos desprezam, rejeitam, brutalizam.
Desse ponto de vista, antecipar as prováveis consequências de uma tomada de poder pelo RN - uma perspectiva ainda hipotética, mas cada vez menos irreal - parece ser um exercício heurístico necessário e urgente. O desafio é identificar, entre as muitas realidades que já estruturam o presente da Igreja, aquelas que poderiam, no futuro, ser prejudiciais ao seu discernimento se não forem questionadas. Identificamos duas delas: a primeira, a mais presente, é a dependência estrutural do Estado para o financiamento de locais de culto e de ensino privado autorizado. A segunda pode ser mais anedótica, mas não menos significativa, e é a influência crescente de dois bilionários de extrema-direita, Vincent Bolloré e Pierre-Édouard Stérin, que multiplicam as iniciativas para mobilizar e tornar visíveis as correntes mais conservadoras do catolicismo. A análise dessas realidades permite, em nossa opinião, explicar o silêncio dos bispos, não apenas pelos fatores morais evocados anteriormente, mas também por fatores materiais, que muitas vezes permanecem invisíveis nas discussões.
As relações entre a Igreja Católica e o Estado francês parecem hoje assombradas por um passado bastante embaraçoso, do qual ninguém sabe o que fazer. Depois de ter sido, até recentemente, a matriz da sociedade (o ápice da França cristã não deve ser buscado na Idade Média, mas no início do século XX, com a figura do Cura d'Ars), a instituição Igreja continuou a se enfraquecer e a perder influência. A crise dos abusos sexuais, que continua a revelar reviravoltas, acelerou essa dinâmica.
Mais de um século após sua entrada em vigor, a lei de 1905 criou uma situação paradoxal: torna a Igreja mais dependente do que nunca do Estado para a manutenção dos locais de culto construídos antes daquela data. Embora o número de católicos praticantes seja agora muito baixo, a Igreja continua a se beneficiar indiretamente de transferências financeiras significativas do Estado e dos entes locais, que ela não seria capaz de gerar por conta própria e que lhe conferem uma vantagem considerável sobre outras religiões. Alguns dirão que isso permite que ela se concentre em sua missão espiritual, mas, a longo prazo, essa situação também favorece uma forma sutil de neutralização política. Já lutando contra o declínio das vocações sacerdotais em suas dioceses e a diminuição da renda proveniente das ofertas, os bispos são fortemente incentivados a cultivar boas relações com os serviços estatais (representantes eleitos, prefeitos, etc.) para garantir a continuidade desse acordo, que lhes permite utilizar edifícios religiosos. O mesmo se aplica ao ensino privado autorizado, que também se beneficia de transferências financeiras muito significativas.
Inicialmente concebido para permitir que as famílias dessem a seus filhos uma educação cristã, não foi poupado pelas dinâmicas da secularização e sente dificuldades para renovar suas orientações pastorais devido à falta de cristãos e cristãs empenhadas no país. Em ambos os casos, parece que o passado deixou a Igreja com uma espécie de “corpo grande e pesado” com o qual realmente não sabe o que fazer, mas que os financiamentos públicos lhe permitem sustentar apesar de tudo. O fato de que essa dependência tacitamente aceita e constantemente atualizada possa correr o risco de submissão à política é algo que décadas de alternância de partidos governantes bastante moderados basicamente fizeram esquecer.
A chegada ao poder do Reagrupamento National (RN) poderia revelar brutalmente a dura realidade dessa submissão. A menos que, novamente, o processo de desintegração fosse longo e insidioso, entorpecendo as consciências morais ao longo do caminho. Anna Colin Lebedev, uma observadora atenta do regime autoritário de Vladimir Putin, lembrou, por exemplo, às vésperas das eleições, que um poder liberticida “está gradualmente se instalando, quase imperceptivelmente; [...] se coloca do lado do razoável e do consensual, e marginaliza os oponentes rotulando-os de alarmistas; promete comodidades, segurança e poder de compra; é importante saber que às vezes cumpre suas promessas; garante a lealdade das instituições mais vulneráveis [...]. [...] Resistir a ele não é fácil. Dever-se-ia recusar [o que oferece], quando em troca, a princípio, não pede muito? O preço a ser pago é conhecido bem mais tarde, quando a armadilha já está fechada”.
Para a Igreja Católica, resistir certamente não será fácil; será que a instituição, preocupada com seu próprio declínio, conseguirá não se deixar seduzir pelos avanços de um governo de extrema-direita? Este último, mais cedo ou mais tarde, não deixaria de exaltar o patrimônio religioso (o Ministério da Cultura já estava planejando um corte acentuado nos orçamentos destinados à criação artística e seu redirecionamento maciço para o patrimônio) para implementar políticas familiares mais generosas ou para favorecer as escolas privadas; qualquer crítica da Igreja poderia, ao contrário, fornecer um pretexto para uma chantagem financeira. Nas garras das crescentes forças centrífugas, poder-se-ia imaginar que a conferência episcopal acabe por se fragmentar e que alguns bispos (talvez os mais ambiciosos) poderiam tomar a iniciativa de tentar se afirmar como interlocutores privilegiados do poder - mesmo continuando a usar a linguagem da “neutralidade”.
As consequências desse pragmatismo não podem, entretanto, ser subestimadas. Em quase todos os países onde forças políticas conservadoras iliberais chegaram ao poder, o apoio mais ou menos explícito de alguns membros do alto clero teve o efeito de reduzir gradualmente a dimensão do ensinamento social da Igreja a poucas áreas muito restritas, ou seja, mais ou menos aos “pontos não negociáveis” enunciados por Bento XVI.
O autor provavelmente não tinha ideia de como esses famosos “pontos” seriam usados para justificar interpretações tão seletivas do ensinamento social da Igreja e para alimentar as guerras culturais (principalmente sobre os direitos LGBT e o aborto) nas redes sociais e em outros lugares. Na Hungria, onde a hierarquia episcopal é agora amplamente subserviente ao governo de Orbán, o cardeal-arcebispo Dom Péter Erdo, de Budapeste e primaz da Hungria, foi e continua sendo o rosto de uma Igreja que se acomoda ao poder iliberal. Embora fiel ao Papa Francisco, se opôs ao acolhimento de refugiados já em 2015, que comparou ao “tráfico de seres humanos”, acrescentando que a chegada de migrantes era como uma “invasão”.
Nos Estados Unidos, o primeiro mandato de Donald Trump acentuou definitivamente as divisões dentro da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA e acelerou o surgimento de figuras controversas como Mons. Carlo Viganò (recentemente expulso por cisma), Dom Joseph Strickland e Dom Robert Barron, prelados que contribuíram muito ativamente para empobrecer a voz pública da Igreja, concentrando-a quase exclusivamente em questões pró-vida. Em um momento em que as nuvens mais escuras se acumulam sobre a democracia estadunidense, causa temor que esse estreitamento de ideias acabe dificultando os católicos a entender como possam trabalhar pelo bem comum.
Na França, como em muitos outros países, há o risco de uma regressão autoritária por parte do Estado.
Nesse contexto, não seria melhor para a Igreja Católica se preparar para enfrentar a história e mais uma vez “aprender a ser oprimida”, em vez de tentar se tranquilizar confiando unicamente no diálogo? Desse ponto de vista, a análise eclesiológica de William Cavanaugh sobre os erros e as recuperações da Igreja chilena diante do regime de Pinochet permanece de inquietante atualidade e mereceria uma reflexão mais aprofundada.
A crescente influência dos bilionários que se declaram abertamente católicos representa outro tipo de problema eclesiológico. Embora seja difícil de avaliar, há pouca dúvida de que essa influência esteja crescendo. No que diz respeito a Vincent Bolloré, trata-se, acima de tudo, de uma influência midiática: com a CNews, é claro, que há alguns anos vem transmitindo um novo programa religioso, “En quête d'esprit”, em que colunistas e padres de batina fazem coro contra o “relativismo” e a “perda de valores”, e instrumentalizam a piedade popular para alimentar a nostalgia de um catolicismo triunfante - tudo baseado em uma teologia rígida e restrita. Com o Paris Match, que reserva primeiras páginas elogiosas ao Cardeal Robert Sarah ou à peregrinação a Chartres organizada pela Notre-Dame-de-Chrétienté.
Mas também com o Europe 1 e o Journal du Dimanche, que recentemente se juntaram ao círculo do bilionário e repetem cada vez mais as afirmações tristemente previsíveis sobre o “choque de civilizações”.
Essas fantasias de uma França eternamente cristã estão bem longe de refletir a realidade da vida da Igreja - e muitos cristãos só podem suspirar diante dessas caricaturas. Mas, quer gostemos ou não, essas caricaturas estão contribuindo para construir uma certa visibilidade pública do catolicismo, que ocorre fora de qualquer controle institucional e de forma puramente discricionária. Os efeitos dessa nova forma de visibilidade não podem ser subestimados, principalmente para as pessoas que têm apenas uma conexão tênue com o cristianismo: para alguns, a inquietação despertada pelo zelo de Bolloré os leva a equiparar suas posições reacionárias com as da Igreja, maximizando o efeito da repulsa; para outros, mais ou menos confusamente ligados a uma “identidade cristã”, mas livres de qualquer prática, a habituação aos conteúdos midiáticos do grupo Bolloré acaba por legitimar a equiparação entre nação e religião.
Como resultado, os mal-entendidos aumentam, mesmo que ainda não se tenha plena consciência de sua extensão. Entretanto, a hierarquia episcopal, que podemos imaginar um tanto constrangida, não parece decidida a tomar uma posição. Por enquanto, a perspectiva de “fazer audiência” ainda parece irresistível demais - e ninguém expressou publicamente a preocupação de que um simples leigo, por mais rico que seja, seja capaz de realizar um boicote de tal magnitude, pisoteando as frágeis aquisições da Igreja conciliar no espaço público.
Quanto a Pierre-Édouard Stérin, parece que sua influência seja sentida com mais intensidade nos círculos católicos. Empresário de sucesso que fez fortuna com a venda do site de reservas La Fourchette e do especialista em caixas de presente SmartBox, ele agora dirige o Otium, um fundo de investimento com 1,3 bilhão em ativos em gestão. Em 2021, deserdou seus cinco filhos e transferiu todo seu patrimônio para um fundo de doação, o Fonds du bien commun, para o qual quase metade dos ganhos do Otium (entre 80 e 120 milhões de euros) são depositados todos os anos. Descrevendo-se como um “ator híbrido dentro do ecossistema filantrópico francês”, o Fonds apoia associações (quase 60% de sua atividade), investe em start-ups, administra uma incubadora e desenvolve um fundo imobiliário de solidariedade. Ao financiar redes de patronatos (Esprit de patronage), os guias espirituais em hospitais e casas de repouso (Alliance Siméon), moradias compartilhadas (Simon de Cyrène), abrigos para mulheres grávidas em dificuldade (La Maison de Louise) e a restauração das cruzes nas estradas e pequenas igrejas rurais (SOS Calvaires), o Fonds sustenta um trabalho que antes era realizado diretamente pelas dioceses.
Não se trata de negar a sinceridade do empenho das pessoas envolvidas em todos esses projetos, mas de enfatizar que a concepção de Pierre-Édouard Stérin sobre o “bem comum” é, de fato, fortemente seletiva e, como tal, bastante imperfeitamente católica. Libertário declarado, cortejado por todos os tenores da extrema-direita, a quem agora afirma apoiar na conquista do poder com seu projeto Périclès, o empresário não esconde sua hostilidade em relação aos migrantes, sobre os quais não hesita em declarar que “não serve a nada acolhê-los”; os temas de justiça social e ecológica estão, obviamente, ausentes do Fonds. O modelo filantrópico, de fato, baseia-se na ideia de que indivíduos mais ricos podem ter um impacto no mundo (e demonstrar virtude) doando grandes somas de dinheiro; mas quase sempre ignora a possível injustiça dos processos pelos quais o dinheiro foi acumulado anteriormente. Embora se insira, e com coragem, em uma longa tradição de capitalismo ascético, Pierre-Édouard Stérin certamente não é original nesse aspecto: ele afirma que deve sua riqueza principalmente ao seu próprio trabalho e talento. E certamente não ao Estado, cujos mecanismos de solidariedade coletiva ele abomina.
Seja como for, o Fonds du Bien Commun está se tornando, queira ele ou não, e por causa de sua base financeira, um lugar de poder; e, no momento, esse poder está sendo exercido de maneira discricionária, delineando, por meio das obras que apoia, um certo rosto da Igreja. Sua influência já está se estendendo além das simples obras; ao aculturar os ambientes cristãos à cultura das start-ups e louvando os méritos da tecnologia digital - por exemplo, patrocinando o festival Pitch my Church, que celebra os influencers católicos ativos no YouTube, Instagram ou TikTok, ou apoiando diretamente os projetos do frade dominicano Paul-Adrien d'Hardemare - o Fonds está ajudando a fazer com que orientações pastorais pareçam normais, cujos pressupostos teológicos e efeitos eclesiológicos permanecem, por enquanto, em grande parte indiscutidos.
Como Massimo Faggioli, um eclesiologista especializado no catolicismo estadunidense, corretamente apontou, essa influência crescente dos bilionários conservadores faz parte dos paradoxos inesperados da “teologia do laicato” que emergiu do Concílio Vaticano II. Testemunha, desde a década de 1950, do vigor dos movimentos da Ação Católica e o afrouxamento da rigidez clerical, Yves Congar não hesitou em afirmar que “se a Igreja, firme em seus alicerces, se abrisse corajosamente à ação dos leigos, viveria uma primavera da qual não temos ideia”.
Para a instituição eclesial, era uma questão de finalmente reconhecer certa autonomia para o temporal e abrir-se para um diálogo autêntico com o mundo moderno. Setenta anos depois, a teologia do laicato de Yves Congar não parece ter perdido nada de sua atualidade teológica, pelo contrário, mas também mostra seus pontos de vulnerabilidade. O dominicano provavelmente teria ficado surpreso ao saber que um dia alguns leigos, enriquecidos pelo domínio das regras do capitalismo financeiro, tirariam proveito dos progressos teológicos que ele havia possibilitado, usando sua riqueza para tentar reposicionar a Igreja em um nicho antimoderno e pró-negócios.
Se hoje investem nas mídias, financiam obras sociais, influenciam a pastoral e até mesmo se destacam na arena política ao “reforçar a direita”, o que os impedirá, amanhã, quando os cofres da Igreja estiverem reduzidos à penúria, de financiar seminários e cátedras de teologia católica?
Os dois fatores que mencionamos talvez expliquem melhor do que outros o constrangimento da Igreja Católica diante do risco de o RN chegar ao poder. Atormentada pela perspectiva de seu próprio declínio e, ao mesmo tempo, presa em suas modalidades de operação, aquelas de um “corpo que se tornou grande demais”, a instituição eclesiástica enfrenta desafios materiais e financeiros de magnitude cada vez maior. Esses desafios, que são profundamente sentidos pela hierarquia episcopal, provavelmente explicam por que ela quase sempre favorece o diálogo com as elites políticas e econômicas - mesmo quando estas parecem determinadas a empurrar o país para um regime libertário-autoritário, fomentando a xenofobia e o racismo.
Mas, felizmente, nada já está escrito. Cabe às comunidades cristãs e a seus pastores discernir as maneiras de combater a influência desastrosa dos “pios bilionários”, cuja religiosidade identitária parece ser um sintoma dos tormentos de nosso tempo; talvez esse seja o papel que podem desempenhar na luta contra a extrema-direita. Ao mesmo tempo, cabe a eles empreender reformas de amplo alcance para acabar com a “Igreja monumental”, que pertence ao passado e não voltará; o desafio é ousar se despojar de pesos desnecessários para continuar no caminho e voltar a ser um “pequeno resto”, um sinal de contradição, reconhecido como boa notícia por todos os pobres e excluídos.
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A Igreja Católica francesa diante da ascensão da extrema-direita. Artigo de Pierre-Louis Choquet - Instituto Humanitas Unisinos - IHU