10 Junho 2024
Eis o artigo.
Segunda-feira, 10 de junho, amanhece com a seguinte notícia: o trem da extrema-direita continua avançando a toda velocidade em nossa direção, persistindo em seu afã de nos atropelar. A história exibe seu gosto sádico por becos sem saída, essas obstruções do possível onde antes estiveram nossos antepassados, de onde só se sai dizimado e com um novo trauma na memória coletiva. Cheira a guerra contra a humanidade no horizonte, fede à impugnação das coisas que gostaríamos de dar como certas: o direito à vida, a justiça social, a preferência pela paz em vez da guerra, a imoralidade de qualquer genocídio. O cenário já é outro, gritam os resultados eleitorais. Nossas respostas não podem ser as mesmas.
Esse revolver cansativo na impotência, vale a pena? Vamos passar as próximas semanas falando de esquilos? Vamos nos passear pelos lamentos do Twitter com o cilício estrangulando nossas pernas, amargando qualquer possibilidade de caminhar para outro lugar que não sejam os mesmos becos batidos? Talvez seja hora de desistir de algumas apostas. Abandonar esse jogo de apostar contra os outros, quando já não se sabe por qual futuro apostar. Parar de olhar para longe, onde nada podemos fazer, e escolher uma certa miopia, para redescobrir o que está perto, onde talvez sim, possamos fazer outras coisas. Pessoas que já estão fazendo outras coisas e não têm tempo para desperdiçá-lo comentando as jogadas dos Alvises da vida.
Talvez seja hora de olhar de outra maneira para essa juventude a quem tantos apontam como responsável por esse empobrecimento político, e ver que foi a única que soube se posicionar fora do discurso em acampamentos contra o genocídio, numa resposta internacionalista de baixo para cima, rica em novas formas de pensar os vínculos políticos, agitando o pragmatismo da afinidade entre barracas Quechua, frente à cultura do inimigo que nutre a política do Twitter. Pessoas que souberam entusiasmar-se como antes nos entusiasmamos, fora da triste coreografia das urnas, apontando certeiramente a objetivos concretos nas instituições, arrancando da cantilena da impotência algumas vitórias não menores.
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A extrema-direita está muito forte e tudo está ruim. Artigo de Sarah Babiker - Instituto Humanitas Unisinos - IHU