01 Julho 2024
Em um primeiro turno de participação histórica dos franceses, o partido Reunião Nacional, de extrema direita, saiu na frente, conquistando 34% dos votos, segundo as primeiras estimativas.
A reportagem é publicada por RFI, 30-06-2024.
A Nova Frente Popular, união dos partidos da esquerda, ficou em segundo, com 28,5% dos votos. Já o grupo do presidente Emmanuel Macron chegou em terceiro, com 20,05% dos votos. Com isso, a primeira definição é que Gabriel Attal não será mais primeiro-ministro e o presidente terá de governar com um opositor político.
O partido conservador Os Republicanos e aliados obteve 10,2% dos votos.
A participação dos franceses foi histórica, cerca de 65,5% dos eleitores comparecerem às urnas, a maior dos últimos 40 anos.
Diante dos primeiros resultados, as projeções indicam que o partido Reunião Nacional pode obter entre 230 e 280 cadeiras na Assembleia Nacional. Para ter maioria absoluta é preciso ao menos 289 cadeiras.
Segunda maior força do parlamento, segundo os resultados das urnas, a Nova Frente Popular pode atingir entre 125 e 165, enquanto o Juntos para a República, liderado pelo partido Renascimento e outros aliados do presidente Macron, teria entre 70 e 100 cadeiras.
Reações
Após o anúncio das primeiras estimativas, a líder do partido Reunião Nacional (RN), Marine Le Pen, falou aos apoiadores na sua zona eleitoral, no departamento de Pas-de-Calais (norte da França). Ela agradeceu a participação dos franceses que, segundo ela, demonstraram uma "vontade de virar a página". No entanto, ela lembrou que é preciso não antecipar a vitória.
"Nada está ganho e o segundo turno será determinante", disse ela, lembrando que a disputa do RN será contra a união da esquerda.
Já Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, que integra a Nova Frente Popular, disse que o resultado mostra a insatisfação da população com o governo de Emmanuel Macron. Ele também convocou o centro e a esquerda a se unirem contra a vitória da extrema direita no segundo turno e lembrou: "O que é certo agora é que Gabriel Attal não será mais primeiro-ministro", destacou.
Mélenchon disse ainda que, para barrar a extrema direita e evitar a divisão dos votos, a Nova Frente Popular vai retirar sua candidatura nas zonas eleitorais em que o partido ficar em terceiro lugar.
Segundo turno decisivo
O primeiro-ministro, Gabriel Attal, disse que os franceses devem fazer tudo para evitar que o RN conquiste a maioria dos assentos na Assembleia. Por isso, ele, assim como Mélenchon, anunciou que o grupo presidencial vai retirar a candidatura de seus candidatos nas zonas em que eles figurarem em terceiro lugar.
"A extrema direita está nas portas do poder. Nunca a nossa democracia esteve tão ameaçada. Por isso, temos o dever moral de impedir esse projeto funesto para proteger a República e os nossos valores", disse.
Votação histórica
Os franceses votaram em massa neste domingo. A participação dos eleitores foi de 65,5%, num país em que o voto é facultativo, o número representa 20 pontos percentuais a mais que nas eleições de 2022, segundo o Ministério do Interior. Quase 50 milhões de pessoas foram às urnas, registrando a participação mais alta desde o primeiro turno das legislativas de 1981 (70,86%).
A grande adesão da população demonstra a polarização política que divide o país e a relevância da disputa, que é o tema mais debatido no país desde a dissolução da Assembleia Nacional pelo presidente Emmanuel Macron há três semanas.
O resultado das legislativas será anunciado após o segundo turno, marcado para 7 de julho.
Leia mais
- Ultradireita larga na frente em eleição na França
- A jornada da França do centro para a periferia. Entrevista com Tarik Bouafia
- “A incerteza das eleições na França é culpa de Macron”. Entrevista com Jérome Fenoglio, editor do Le Monde
- França - eleições. “O Evangelho não está à disposição das nossas opiniões”. Entrevista com Olivier Leborgne
- Avanço da ultradireita europeia preocupa imigrantes
- Europa: o Partido da Guerra perdeu. Artigo de Antonio Martins
- Políticas climáticas e ambientais da UE estão ameaçadas com vitórias da extrema direita no Parlamento Europeu
- O Parlamento Europeu se torna mais direitista com a ascensão das forças ultraconservadoras e a queda dos progressistas e verdes
- Extrema direita sobe posições na Europa e vence na Áustria, Itália e França
- Os fantasmas do passado que pairam sobre as eleições europeias. Artigo de Robert Misik
- Extremas direitas mais fortes: o que arrisca a Europa. Artigo de Massimo Cacciari
- A três meses das eleições europeias, a extrema-direita ganha força
- Bispos pedem “humanismo do diálogo” e “respeito pelo indivíduo” nas próximas eleições da União Europeia
- A opção da Europa pelas trevas. Artigo de Luiz Marques
- Von der Leyen, gastos com armas, populismo militar e doutrina do choque
- Uma nova geração de ultradireita se levanta na Europa
- Partidos europeus de ultradireita são nacionalistas vendidos. Artigo de Eduardo Febbro
- Europa, entre a guerra e a paz. Artigo de Jürgen Habermas
- A crise na Europa é o resultado da democracia raivosa e aos brados
- Crise da democracia. O fetiche dos fatos e o suicídio da consciência. Entrevista especial com Eugênio Bucci
- Von der Leyen, gastos com armas, populismo militar e doutrina do choque
- Entre a extrema-direita e o conservadorismo radicalizado. Entrevista com Natascha Strobl
- Civitas: na encruzilhada entre extrema-direita e fundamentalismo católico na França
- “A extrema direita conseguiu implantar a ideia de que as elites são de esquerda”. Entrevista com Pablo Stefanoni
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Eleições na França: extrema direita lidera primeiro turno com 34% dos votos e união da esquerda fica com 28% - Instituto Humanitas Unisinos - IHU