07 Agosto 2024
"Com um Oriente Médio cada vez mais instável, é fácil perceber a importância crescente do óleo venezuelano", destaca César Benjamin, em comentário publicado em sua página do Facebook, 05-08-2024.
César Benjamin é cientista político, editor e político brasileiro. Durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), participou da luta armada contra o regime, foi perseguido e exilado. Cofundador do Partido dos Trabalhadores - PT, foi também filiado ao Partido Socialismo e Liberdade - PSOL, tendo se desligado dos dois partidos. Atualmente, César Benjamin é o editor da Contraponto Editora.
Estou novamente sem acesso aos meios de comunicação e à internet. Não acompanhei os últimos acontecimentos relevantes, se existiram. Mesmo assim, corro o risco de redigir uma breve nota, usando a tela do celular (coisa que detesto fazer).
1. Até uns três anos atrás, havia uma disputa “normal” pela hegemonia no mundo. Seguia um ritmo relativamente cadenciado e tinha algumas regras. A partir da desestabilização da Ucrânia pelo Estados Unidos e da intervenção militar da Rússia, tudo mudou. Agora, a disputa é frenética e sem regras. Passa, cada vez mais, para o âmbito militar.
2. É nesse novo contexto que se desdobra o drama atual da Venezuela, país que detém as maiores reservas mundiais de petróleo. Com um Oriente Médio cada vez mais instável, é fácil perceber a importância crescente do óleo venezuelano.
3. O processo eleitoral, que, em tese, poderia ser um caminho para estabelecer um consenso básico e estabelecer regras compartilhadas para a luta política, teve um papel oposto, acirrando os antagonismos. Os dois lados principais têm força social expressiva e redes de apoios internacionais. A dinâmica que se estabeleceu leva a um aumento das tensões e prepara uma ruptura, que não sei qual será.
4. Neste contexto, praticamente todas as análises que tenho visto permanecem no mundo das histórias da carochinha. No mundo real da disputa venezuelana — que, repito, não é só local, mas internacional —, ninguém mais quer ter razão, do ponto de vista formal. Trata-se de uma disputa aberta e crua pelo poder. Um decreto presidencial já definiu a Venezuela como um caso de segurança nacional para os Estados Unidos, o que não é pouca coisa.
5. Os meios de comunicação, que sempre foram instrumentos de poder, agora agem como uma tropa militar em ordem unida. A informação é parte importante do campo de batalha. As pessoas comuns não fazem um esforço específico de reflexão e nem tem meios para isso. Tudo o que pensam que sabem decorre do que querem que saibam.
6. Aqui, só quero destacar o seguinte: hoje, a Venezuela é um dos principais espaços de uma disputa mundial de poder que não segue regras minimamente civilizadas, pois a própria hegemonia está em jogo. Qualquer análise que omita isso é uma mistificação. A crise atual, provavelmente, só será superada (provisoriamente) quando um dos laços reunir as condições de golpear o outro mais profundamente. Esta não é uma afirmação simpática e otimista, mas me parece realista.
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Caso da Venezuela revela disputa internacional pelo poder. Comentário de Cesar Benjamin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU