O petróleo no banco dos réus e o Brasil mirando na energia verde atira no próprio pé. Destaques da Semana no IHU

De 02 a 07 de Dezembro de 2023

Foto: Marcelo Zanotti | IHU

08 Dezembro 2023

Duas certezas desta COP28: não é mais possível continuar consumindo energias fósseis, mas nós não vamos deixá-las tão cedo. Contradições que se materializam na realidade brasileira. E ainda: uma mina que afunda uma cidade no nordeste e os riscos cada vez maiores da energia e das armas nucleares. Na semana, ainda foi destaque a saúde do Papa, mas sua tenacidade em tempos tão difíceis nos levam a pensar: como celebrar o Natal em 2023? Estes e outros assuntos nos Destaques da Semana do IHU.

Petróleo no banco dos réus

Se uma só coisa ficou clara nesta COP28, é que os combustíveis fósseis, especialmente o petróleo, estão no banco dos réus. O mundo parece ter se dado conta de que não é mais possível frear o aquecimento global com esta matriz energética. Do contrário, como diz António Guterres, estaremos apagando incêndio com uma mangueira de petróleo.

Nada como um bom advogado

E se, por um lado, colocamos os combustíveis fósseis no banco dos réus, eles arrumaram bons advogados. Afinal, nesta COP há mais lobistas do petróleo do que indígenas. São lobistas que têm feito sua farra no encontro. E, o pior, têm chamado a imprensa que faz a cobertura do evento para sua festa. O presidente da COP tenta limpar a sua barra, mas será efetivo? Há ver...

Com uma mão, aceno verde. Com a outra, petróleo

Todo mundo conhece o ditado popular de que “não se pode servir a dois senhores”. Quer dizer, quase todo mundo, pois, pelo visto, o governo brasileiro o ignora solenemente. Se, por um lado, na COP ele faz acenos com o avanço das suas políticas verdes, por outro lado diz que não abre mão do petróleo. Nesta semana, na entrevista do dia, ouvimos o professor Philip Fearnside, que foi categórico ao afirmar que o Brasil faz discurso bonito, mas pouco efetivo na questão do clima. Para aprofundar a reflexão, vale ler o artigo dele, intitulado O que o Brasil deveria ter dito na COP 28, mas não disse, que também publicamos.

Tiro no pé?

Não há dúvida de que as lições sobre a Amazônia que Lula levou para COP são concretas  e importantíssimas. Mas elas parecem ignorar as consequências de longo prazo ao manter a Petrobras enfiada em combustíveis fósseis. Além do mais, especialistas já dizem que seguir extraindo petróleo pode anular os ganhos com as florestas, sem falar dos riscos ambientais que se corre ao explorar petróleo na Foz do Amazonas. Parecemos estar brincando com fogo, podendo ainda dar um belo tiro em nosso próprio pé.

Mudanças importantes

Enquanto vivemos estas contradições no Brasil, é importante registrar que na América Latina há avanços. A Colômbia anunciou que está pulando fora dos combustíveis fósseis.

Dica de leitura

Caso você ainda esteja em dúvidas sobre a viabilidade de uso de energias fósseis e ache que a crise climática não é tudo isso, separamos alguns textos publicados esta semana sobre o tema.

Energia nuclear

Outro assunto que veio à agenda da COP28 é o uso maior de energia nuclear como um caminho para a descarbonização. O problema é que, alinhado a este contexto de guerra e ameaças de países detentores de armamento nucleare, os riscos são enormes. O tema também foi tratado em palestra no IHU ideias desta semana. Confira o vídeo abaixo.

UE e Mercosul. Será?

No cenário internacional, outro assunto que emergiu neste contexto da COP28 é a aproximação entre o Mercosul e a União Europeia. Trata-se da aproximação que o presidente Lula quer promover, mas que não é unanimidade  O presidente francês Emmanuel Macron é um dos críticos, mas por aqui o assunto também não é bem visto.

Mina da Braskem

Aqui no Brasil, foi mais uma semana de apreensão com a ameaça de desabamento da mina da Braskem em Alagoas. Com presença na COP28, a empresa chegou a cancelar um evento em que propagandearia sua agenda verde .

Talvez sejam sinais de que a própria Braskem sabe que aquilo é um crime e não somente uma tragédia.

Neste caso, ainda impressiona o silêncio do poder público local. Abaixo, compartilhamos um abaixo-assinado, uma mobilização online com vistas a punir a Braskem. Participe!

Conjuntura na América Latina

Na conjuntura latino-americana, o cenário é de tensões na Venezuela, envolvendo as questões da Guiana. Na Nicarágua, o regime de Daniel Ortega chega ao fim com um saldo nada positivo.

Sacrosanctum Concilium e um novo Concílio

Na semana que passou, também fizemos memória do primeiro documento publicado pelo Concílio Vaticano II – que leva seu mesmo nome –, que completou 60 anos. Em tempos de desejos de uma Igreja Sinodal, é emblemático lembrar do documento que, entre outras coisas, orienta a celebração da missa em língua local e de frente para a assembleia. Ainda nesta linha, publicamos o artigo de dom Erwin Kräutler, que provoca a pensar: o próximo papa deve convocar um novo concílio?

A saúde do Papa

Francisco demonstrou que sua saúde tem enviado não bons sinais. Na quarta, ele voltou a pedir ajuda para leitura da catequese semanal.

“O” feminino

No entanto, se por um lado Francisco demonstra saúde frágil, por outro ele vem assegurando sua tenacidade ao tratar assuntos como as guerras e a crise climática. E dentro da Igreja mesmo não tem fugido de assunto polêmico, como na carta que escreveu para mulheres alemãs e surpreendeu todo mundo. Como todos os limites de um homem no século passado e em uma instituição patriarcal, Francisco parece buscar entender a superação dessa violência e da necessidade de uma teologia que dê conta do feminino.

Adeus a Giulia

Aqui no Brasil, um país em que o machismo mata muitas mulheres, o tema, infelizmente, parece corriqueiro, mas a Itália ficou de joelhos diante do brutal feminicídio sofrido pela jovem Giulia. Como pontua Peter Ciaccio, são essas mortes que diminuem todos nós. Por isso, também fazemos um convite: leia a entrevista com Stefano Ciccone. É um convite à reflexão sobre a narrativa tóxica que nossa sociedade tem produzido.

Alexa, meu novo fetiche

E por falar em narrativas sociais tóxicas, é impressionante o fetiche que a tecnologia segue provocando em todos nós. Dá uma boa reflexão essa onda pelo novo objeto de desejo de muitos: a inteligência artificial Alexa, uma faz-tudo com voz de mulher que virou item deprimeira necesisdade. Veja, ela se chama Alexa, e não Alex.

Conflito em Gaza

Com o retorno dos ataques em casa, o cenário de horror  volta a revelar sua pior face, revelando aquela terra como uma fábrica de assassinatos.

Nesta guerra infindável, a situação parece se complexificar a cada dia. Israel, mesmo tendo visto os avanços com negociações

pacíficas, parece optar pela violência.

Mas e o Natal?

Com cenários tão sombrios, tanto pelas guerras como pela crise e pelos desastres climáticos, parece realmente complexo pensarmos nas festas de fim de ano. Como celebrar o Natal em Gaza? Ou, como celebrar o Natal lembrando do que ocorre em Gaza

Crer apesar de razões para não crer

Talvez, uma das chaves para este Natal, pois sempre se deve lembrar daquele Deus que se fez gente, esteja no texto de Leonardo Boff, em que ele diz:

“Na cruz no auge do sofrimento “gritou com voz forte” em seu dialeto aramaico: Eloí, Eloí lemá sabachtani: ”Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15,34) Para que este grito de esperança contra a esperança e da fé contra a fé não permanecesse um completo absurdo e uma voz que se perdesse no universo, crê-se que todos estes persistentes foram acolhidos no seio do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó. Anuncia-se também por aí, que o pregador ambulante que passou pelo mundo fazendo o bem, “o Justo, o Santo e o Verdadeiro” (1Jo 5,10), foi ressuscitado por seu Paizinho querido (Abba)”.

O presépio acima é uma iniciativa do pastor Munther Isaac, que juntamente com colegas quis expressar o que o Natal significa para eles agora. Ele é pastor da Igreja Luterana de Belém na Cisjordânia. Se Jesus está com os mais necessitados e abandonados, disse Munther Isaac, então hoje está nascendo entre os escombros. (Foto: Anadolu Agency)

Uma ótima semana a todas e todos!