Num sábado de manhã, durante uma pausa no Sínodo, encontramos o Pe. Timothy Radcliffe para uma conversa sobre a Igreja no mundo e o mundo na Igreja. O frade dominicano se mostra muito disposto e feliz em acrescentar algo às entrevistas anteriores sobre esses temas, especialmente aquelas conduzidas pelo Pe. Elmar Salmann, pelos cardeais Zuppi e Hollerich e pelo Pe. Piero Coda. "Espero estar à altura de suas expectativas", ele antecipa. E explica: "Também porque me encontram muito cansado, o Sínodo é um evento muito intenso, acabei de terminar de corrigir os textos das meditações que fui chamado a realizar, juntamente com a madre Ignazia Angelini, que seus colegas da LEV (Livrararia Editora Vaticana) decidiram publicar".
Timothy Radcliffe, de 78 anos, foi mestre-geral da Ordem Dominicana até 2001. Ele é reconhecido como um dos teólogos mais apreciados por suas análises sobre o mundo contemporâneo, a vida cristã e a Igreja. Essas análises, embora dotadas de uma originalidade profunda e sofisticada, são sempre realizadas com uma linguagem clara e acessível, que foge de certa autorreferencialidade que sempre ameaça o mundo da teologia. A conversa, portanto, parte exatamente desse ponto, destacando como a pesquisa teológica deve começar e estar sempre acompanhada por uma observação atenta do ser humano. Uma teologia experiencial, como muitas vezes evocada pelo Papa Francisco.
A entrevista com Timothy Radcliffe é de Andrea Monda e Roberto Cetera, publicada por L'Osservatore Romano, 28-11-2023.
Timothy Radcliffe. (Foto: Reprodução | Vatican News)
Para onde está indo o mundo, padre Radcliffe?
Para responder, me vem à mente uma antiga canção que cantávamos quando éramos crianças, chamada "O Velho Cavaleiro ao Longo da Estrada". Desconheço suas origens, mas acredito que suas palavras se adequam bem à condição dos jovens de hoje. Diz assim: "Para onde você está indo?", disse o cavaleiro ao longo da estrada. "Estou indo encontrar o meu Deus", respondeu o jovem, permanecendo em pé. Ele permaneceu em pé, permaneceu em pé, e era bom que permanecesse assim. O falso cavaleiro então tentou o rapaz com a desesperança, mas ele permaneceu em pé, esperando no seu Senhor. Esta é uma canção para os jovens de hoje. Um hoje em que o futuro se tornou despojado e é difícil para os jovens permanecerem firmes.
Nesse sentido, não surpreende que o senhor tenha sido chamado para acompanhar, com suas reflexões e meditações, o Sínodo sobre a Sinodalidade. Uma teologia, portanto, muito "encarnada", que não pode ser confinada à dissertação metafísica, e muito menos vivida apenas nas salas das universidades e, consequentemente, que não pode prescindir das profundas mudanças antropológicas que estamos testemunhando. Para usar as palavras do cardeal Hollerich, a Igreja hoje corre o risco de falar a um homem e uma mulher que não existem mais.
Estou absolutamente de acordo. A teologia não estuda a encarnação: a teologia é encarnação. E essa realidade é muito evidente nos encontros que ocorreram no Sínodo, onde o coração de todo o processo foi o encontro uns com os outros e as mudanças que cada um pôde registrar no encontro com o outro. Esse é o mesmo enfoque que inspira diariamente o Papa Francisco: cada encontro é experiencial, e cada encontro é um encontro de imaginações. É extraordinário encontrar a imaginação do outro em relação à nossa. E não é apenas uma questão de coração, mas diz respeito ao pensamento, às categorias de pensamento que usamos, à poesia que está na vida de cada um de nós. Por isso, eu sempre luto contra a distinção, seguida por muitos, entre coração e cabeça. É uma falsa distinção, porque acredito que nossos sentimentos estão sempre em sintonia com nossos pensamentos, e vice-versa. Quando você lê os grandes poetas, eles mudam não apenas seus pensamentos, mas também seu coração, ou seja, transmitem uma nova imaginação.
O problema é que os lugares onde se desenvolve o discurso teológico parecem estar distantes dos movimentos do coração e da criatividade imaginativa. Surge a ideia de que o principal objetivo, mesmo que não declarado, de toda instituição é a preservação de si mesma, e parece que as academias teológicas não estão isentas disso, muitas vezes sendo impulsionadas para a autorreferencialidade, tanto na linguagem quanto no conteúdo.
Sempre viva em minha memória está a lembrança de um teólogo dominicano que teve um papel importante em minha formação; ele era do Sri Lanka, seu pai era cingalês de origem holandesa, e sua mãe era budista, e ele sempre repetia que a teologia é o encontro entre o Evangelho e o mundo, em uma relação de mútua iluminação. A cultura contemporânea nos ajuda a ler o Evangelho; portanto, a teologia também é sempre um encontro. Para este encontro, precisamos de estudiosos, de professores que caminhem pelas estradas do mundo, de professores que, por exemplo, saibam cozinhar. Uma querida amiga minha que leciona teologia em Cambridge e é mãe, uma vez me disse: "Alcanço picos contemplativos enquanto cozinho o jantar ou acordo à noite para trocar a fralda do meu filho". Precisamos de professores que não estejam apenas fechados o dia inteiro na biblioteca, precisamos de mestres. Meu mestre de noviços quando eu era jovem costumava dizer: se você separar a biblioteca da rua, é um desastre. Em Oxford, onde moro, procuramos sempre ter professores de teologia que vivam em casas paroquiais. Precisamos de professores que tenham tempo para estudar na biblioteca, mas também um contato com a vida pastoral cotidiana de uma paróquia. Somente assim você pode encontrar uma verdadeira teologia.
Se, como católicos, acreditamos na religião da Encarnação, o desenvolvimento de nosso discurso teológico não pode deixar de considerar, mas deve começar precisamente a partir do dado antropológico. E então devemos reconhecer a mutação antropológica ocorrida. Em uma conversa recente com Piero Coda, destacou-se como o Deus encarnado no homem Yeshua ben Joseph, naquele homem específico, induziu uma certa fixidez na ideia de homem.
Acredito que boa parte do problema pode encontrar uma resposta principalmente na encarnação do homem em si mesmo. Nós estamos pouco encarnados. Não podemos compreender a Encarnação de Deus se, por sua vez, não estivermos encarnados em nosso corpo. Acredito que nossa sociedade sofre um déficit na compreensão do corpo, na aceitação da plena unidade do humano em espírito e corpo. Uma grande filósofa da ciência em Oxford escreveu que todas as tentações de nossa cultura ocidental vêm do medo do corpo. Desde a antiguidade grega, ao maniqueísmo, ao neoplatonismo, a Descartes, sempre se enfatizou o conceito de que o humano se resolve em sua mente, e, portanto, a tentação do dualismo entre alma e corpo. Assim, penso que um grande desafio para os cristãos hoje não é apenas se adaptar a um mundo e a um homem que mudam, mas, sobretudo, orientar o homem de hoje para uma compreensão mais completa de si mesmo. Inclusive de sua corporalidade.
Hoje, nosso mundo parece doente principalmente no aspecto da corporalidade, que está no centro de todas as nossas discussões, pense nas doenças relacionadas à alimentação, nos cuidados paliativos no fim da vida, no domínio do fitness, na negação da morte corporal. E nossa doutrina tem muito a dizer sobre o corpo. Na verdade, ela é fundamentada no corpo. No presente de Jesus expresso com as palavras: "Isto é o meu corpo dado por vós". A ressurreição do corpo. A cura e a salvação que passam pelo corpo. No entanto, muitas vezes somos relutantes em anunciar esse "Evangelho do corpo". Podemos encontrar Deus através dos sentidos de nosso corpo. Não apenas através da mente. Jesus se revelou dessa maneira, encarnando-se. Como podemos, então, nos encarnar em nós mesmos? A boa notícia é que eu sou carne e osso, assim como meu Deus. Esta é a nossa afinidade com Deus.
Nos últimos dias, olhei para meus irmãos e irmãs no Sínodo e me perguntei: quantos deles têm consciência de sua afinidade com Deus através de sua corporalidade? Quanto de nossa espiritualidade declarada está relacionada à nossa existência física? Entre os cristãos do Oriente, a prática do yoga é difundida, que é um exercício baseado na unidade entre corpo e espírito. Mas mesmo hoje, entre muitos cristãos ocidentais, o yoga é visto com muita desconfiança. O homem não pode conhecer completamente Deus se não estiver reunificado. Mas quantos de nós podem realmente dizer que são um? A vida sacramental é uma vida do corpo e de seus sentidos. Cada sacramento se baseia em nossa experiência corporal.
O Papa Francisco se expressa muito através de sua fisicalidade. Sua linguagem em si, tão forte em termos de comunicação, é baseada mais na gestualidade do corpo e do rosto do que nos conceitos.
Um exemplo que todo padre deveria seguir. Eu sempre ensinava aos meus alunos e noviços: o rosto de vocês deve estar sempre radiante, deve expressar a alegria de uma verdade saboreada. A encarnação em nossos rostos. No Antigo Testamento, é dito que quem vê Deus morre. Moisés experimenta de maneira excepcional o encontro com Deus face a face. Mas com a nova aliança, Jesus nos mostra Deus face a face, e não morremos mais. Devemos imitar Jesus mostrando nosso verdadeiro rosto. Muitas vezes, no entanto, mostramos uma máscara. Não somos verdadeiros.
Muitas vezes conseguimos ser autênticos apenas quando a dor, o sofrimento, nos impõem isso. Estas horas de guerra são atrozes, por exemplo.
Sim, isso é muito verdadeiro. Diante da dor, jogamos fora a máscara. Fiquei muito impressionado nestas horas com o Patriarca Pizzaballa. Não apenas pelas sábias palavras que está usando, mas principalmente pela forma como as pronuncia. Como autêntico testemunho do Evangelho.
Outro aspecto muito evidente dessa virada antropológica é marcado pela mudança na relação entre os gêneros.
É um tema que apareceu muitas vezes nas discussões do Sínodo. Principalmente no perfil do enfraquecimento da figura paterna. Devo dizer que esse problema da fuga da paternidade também diz respeito a muitos padres. Eu diria que é, na minha opinião, o aspecto principal desta crise do presbiterado ordenado, sobre a qual falamos tanto sem encontrar soluções eficazes. É um problema enorme para a Igreja. Devemos absolutamente evitar o clericalismo. No entanto, ao abandonar o clericalismo, os padres ainda precisam de uma identidade própria. Eles precisam esclarecer para si mesmos quem são e que escolha de vida fizeram. Minha ideia é que essa busca deve ter suas raízes no conceito de fraternidade. Nesse sentido, Fratelli Tutti do Papa Francisco é um documento de extraordinária eficácia. O clericalismo é derrotado recuperando o valor da fraternidade em Cristo. Nós, por exemplo, na ordem dominicana, proibimos o uso do título "padre/pai". Todos nos chamamos de "irmãos", independentemente de nosso status canônico. É necessário encontrar uma identidade que não implique superioridade.
Essa reflexão, juntamente com a mencionada sobre o corpo, abre a questão estritamente relacionada ao tema dos abusos.
Exatamente. O Papa Francisco lembrou várias vezes: os abusos sexuais surgem de um exercício distorcido, abominável, do poder, da superioridade hierárquica, que leva a pensar que os outros estão à disposição própria. A amizade entre padres, e com os padres, é um elemento importante de suas vidas; o abuso é uma traição grave do sentimento de amizade. E atenção, a amizade é uma propriedade essencial do ser cristão. A traição da amizade é, portanto, a traição de nossa quintessência. Na Divina Comédia, o círculo mais baixo e menosprezado é aquele em que são condenados aqueles que traíram a amizade.
Antes, o senhor mencionou Fratelli Tutti. Como conciliar, em seu pensamento, a fraternidade universal e a evangelização?
Veja, se retrocedermos apenas 150 anos, à época dos impérios, perceberemos que dentro deles, muitas vezes, havia uma convivência harmoniosa em um mesmo território entre diferentes religiões. Acredito que isso dependia essencialmente de um sentido mais difundido e compreendido do transcendente. O transcendente unifica. Mas se isso se perde, então acabamos dando mais peso às nossas próprias palavras, e nos dividimos. O fundamentalismo é talvez a maior tentação destes tempos que vivemos. Fundamentalismos nacionalistas, econômicos, étnicos, científicos, religiosos. O reducionismo é a filosofia de nossos tempos. O antídoto é ir além da letra e buscar o significado alegórico, poético, imaginativo, simbólico das palavras. Que era o modo de falar de Jesus.
Imaginativo, no entanto, não significa mágico. Uma das razões que explicam a crise da religião é que as pessoas não aceitam mais uma visão mágica do religioso. Por exemplo, o fundamento de nossa religião, a ressurreição dos mortos, é percebido como uma perspectiva irrealista à luz da razão e da ciência.
Sim, eu acredito que devemos evitar atribuir toda a culpa à secularização, da qual seríamos vítimas inocentes. Em vez disso, acho que deveríamos considerar mais cuidadosamente o tema da superficialidade com a qual se olha para o futuro do homem; superficialidade que também aflige nossa pregação. Se quisermos olhar para nosso sistema de crenças, acredito que mais do que à lógica, devemos nos apegar à simplicidade das palavras e à imaginação, que é algo muito diferente da fantasia. A imaginação é a ferramenta para atravessar o transcendente. O futuro de nosso ser humano (e cristão) está nas mãos de escritores, diretores, poetas, pintores e músicos, todos aliados dos teólogos.
Por exemplo, fiquei muito impressionado com o último livro de Ian McEwan, Lições, um livro de extraordinária beleza que percorre toda uma vida, que, por uma questão geracional, poderia ser a minha. Não há nada de religioso nesse livro, mas em alguns momentos apresenta vestígios do transcendente, que em seguida são prontamente descartados. Há muita humanidade e muito gosto pela vida; apesar de tudo, no fim da leitura, eu gostaria de agradecer ao autor por me permitir entrar nos meandros de sua vida. Isso é o que quero dizer sobre a imaginação. McEwan expressa a riqueza do humano através da imaginação. O Sínodo também foi um evento de certa forma rico em imaginação. Ver jovens mulheres desafiando os cardeais do pequeno mundo antigo foi altamente imaginativo de uma Igreja que muda e encontra o mundo. E isso pôde acontecer porque Francisco é um homem, um pastor, rico em imaginação.