11 Abril 2022
Sobrepor a visita do Papa ao encontro ecumênico seria um desastre para o Líbano.
A reportagem é publicada por Il Sismografo, 09-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sabe-se que antes da agressão russa contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro passado, estava se preparando e organizando um segundo encontro entre o Papa Francisco e o Patriarca de Moscou Kirill após o histórico encontro de 12 de fevereiro de 2016, no Aeroporto Internacional "José Martí" de Havana. No evento, único em quase 10 séculos, os dois líderes religiosos assinaram uma Declaração Conjunta sobre a qual se falou nas últimas semanas, especialmente a respeito dos 4 pontos sobre a Ucrânia que Kirill desconsiderou sem o mínimo problema.
Como sempre, por férrea vontade do Patriarcado Ortodoxo Russo, e como já havia acontecido em 2016, o local do eventual encontro deve necessariamente ser “neutro”, portanto, "não" a Moscou e "não" ao Vaticano. Seis anos atrás, a hospitalidade da ilha de Cuba e a disponibilidade de suas autoridades, quando Raúl Castro ainda era presidente, permitiram o encontro histórico esperado para um milênio. Os negociadores de Kirill desde o início disseram: um encontro só é possível fora da Europa, fora da terra onde ocorreu o cisma e onde as igrejas católica e ortodoxa se combateram ferozmente.
No dia 3 de abril, no avião que o trouxe de volta de Malta, o Papa Francisco, em conversa com jornalistas, confirmou tudo o que havia circulado até aquele momento de forma não oficial: "Há algum tempo, estava sendo pensado um encontro com o Patriarca Kirill: estamos trabalhando nisso, estamos trabalhando e estamos pensando em fazê-lo no Oriente Médio. Esta é a situação nesse momento".
Esta frase do Pontífice fez vários analistas pensarem que o encontro poderia acontecer em Jerusalém, em Amã ou até mesmo nos Emirados Árabes Unidos. Nada confirmado. Apenas hipóteses e talvez fantasias.
Alguns estudiosos do assunto confirmam que negociar com a Igreja Ortodoxa Russa é extremamente difícil porque sua hierarquia está muito atenta não apenas às formas rituais, mas sobretudo a não fazer, não assinar e dizer nada que a coloque em conflito com o poder político, com o Kremlin, com Vladimir Putin. A Ortodoxia Russa é substancialmente uma igreja de estado.
O secretário de Estado, cardeal Parolin, respondendo em 7 de abril a uma pergunta sobre o local da reunião confirmada pelo Santo Padre, segundo o La Stampa, disse que poderia ser o Líbano.
O Corriere della Sera destacou esta pergunta e resposta de Parolin: "Poderia ser no Líbano, onde se prepara uma visita do Papa em junho? ‘Sim, há várias hipóteses sobre o local do encontro, a busca é de um lugar neutro, está é basicamente a condição, estamos trabalhando também de nossa parte, mas nada há de decidido'”.
No mesmo dia, o Vatican News reproduzia textualmente: “Sempre no âmbito das relações com o Patriarcado de Moscou, o secretário de estado do Vaticano confirmou que ‘já havia sido iniciada certa programação’ para realizar um encontro entre o Papa e o Patriarca Kirill, após aquele de 12 de fevereiro de 2016 em Cuba. 'Pelo que entendo, esta preparação continua', disse, explicando que a busca no momento 'é de um local neutro'. 'Esta é a condição. Mas nada está decidido. Estamos trabalhando, de nossa parte, mas sobretudo pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que é o Dicastério competente'”.
Neste ponto, pode-se dizer:
1. Apesar da guerra russa contra a Ucrânia, continua a preparação do encontro que começou há vários meses.
2. A Igreja Ortodoxa Russa nada disse ao Vaticano sobre sua posição em relação à guerra que Putin estava preparando contra a Ucrânia e que o Patriarcado estava acompanhando atentamente.
3. Com a mesma firmeza intransigente com que o Patriarcado tem sublinhado há muitos anos que "nos territórios russos há apenas um Patriarca", argumento com o qual há anos bloqueia a nomeação como Patriarca do Arcebispo Maior dos gregos-católicos ucranianos, hoje volta a enfatizar como condição sine qua non que Kirill só pode encontrar-se com o Papa de Roma fora da Europa.
4. Esses elementos resumidos em poucas palavras ajudam a compreender bem por que o Papa não poderá ir a Moscou nos próximos anos e por que uma possível e cada vez mais difícil visita de Francisco a Kiev é malvista pelo Patriarcado de Moscou. De acordo com algumas fontes que consultamos, em Moscou acredita-se que Francisco em Kiev seria considerado uma provocação em importantes círculos ortodoxos.
5. Finalmente, alguns expoentes maronitas em Roma e Beirute, embora aclamem como importante o encontro Francisco-Kirill, dizem ao mesmo tempo que se por acaso fosse programado durante a visita do Papa ao Líbano, acabaria obscurecendo tristemente a tragédia libanesa pela qual a viagem do Papa está prevista para breve. Sobrepor a visita do Papa ao encontro ecumênico seria um desastre para o Líbano.
A pergunta de sempre permanece: qual é a razão concreta, tangível e específica pela qual os dois líderes religiosos devem se encontrar novamente se, pelo menos por enquanto, não há nada diferente e novo do que eles assinaram em Havana e que o Patriarca Kirill não respeitou?
É só para a fotografia? Para o Santo Padre, certamente não.
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O novo abraço Francisco-Kirill no Líbano? Apenas uma hipótese que não agrada a muitos maronitas. O risco das condições políticas do Patriarcado de Moscou - Instituto Humanitas Unisinos - IHU