Mesmo que "antigamente em nossas Igrejas se falasse de guerra santa ou guerra justa", hoje "não se pode mais falar assim". De fato, desenvolveu-se a "consciência cristã da importância da paz".
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 16-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolni.
As palavras proferidas por Francisco em uma conversa telefônica com o patriarca ortodoxo de Moscou Kirill confirmam a vontade de fazer tudo para que a guerra termine. E mesmo que não haja uma mediação política da Santa Sé em ato, o Papa está pressionando para que a Rússia e a Ucrânia venham a negociar.
Não por acaso, tanto Francisco como Kirill sublinharam a excepcional importância do processo de negociação em curso porque, disse o Papa, "a Igreja não deve usar a linguagem da política, mas a linguagem de Jesus". E mais: "quem paga a conta da guerra são as pessoas, são os soldados russos e são as pessoas que são bombardeadas e morrem". E "como pastores, temos o dever de estar perto e ajudar todas as pessoas que sofrem com a guerra. Nossos corações não podem deixar de chorar diante das crianças, das mulheres mortas, de todas as vítimas da guerra. A guerra nunca é o caminho. O Espírito que nos une nos pede como pastores que ajudemos os povos que sofrem com a guerra".
O telefonema de hoje também serve a Francisco para manter abertas as relações com o patriarcado. No domingo passado, no Angelus, o Papa havia tomado implicitamente distância do sermão chocante do patriarca que justificava a guerra como uma ação contra os lobbies homossexuais. E hoje ele confirma sua posição ao confirmar que está ciente de que o que está sendo travada é uma verdadeira guerra: "Não é apenas uma operação militar, mas uma guerra que semeia morte, destruição e miséria", disse não por acaso o secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, durante a missa na Basílica de São Pedro pela paz na Ucrânia, na presença do Corpo Diplomático acreditado junto à Santa Sé.
O plano que o Papa seguirá aqui será puramente religioso. Ontem ele convocou, para o próximo dia 25 de março, durante a Celebração da Penitência na Basílica de São Pedro, a consagração ao Imaculado Coração de Maria da Rússia e da Ucrânia. O mesmo ato, no mesmo dia, será realizado em Fátima pelo Cardeal Krajewski, Esmoleiro de Sua Santidade.
Leia mais
- Conversa Kirill-Francisco: um momento necessário, mas muito difícil e doloroso. Papa: “não há guerras santas ou guerras justas”. Kirill não menciona a questão
- “Em nome de Deus, peço-lhe: parem este massacre!”
- “Deixemo-nos perturbar pelo grito de sofrimento do mundo. Como levamos à oração a guerra em curso?”, questiona o Papa Francisco
- A opção do Papa Francisco: nenhuma mediação e, portanto, uso dos verdadeiros “poderes” da Igreja, oração e verdade
- Os cristãos diante da guerra russa na Ucrânia e o “ecumenismo de sangue”. O diálogo com a Igreja ortodoxa assassinado pelo patriarca de Moscou, cuja consciência está agora manchada de sangue
- Ucrânia: impotência ecumênica
- “Kiev não pode ser a nova Aleppo. A guerra derrotada do ecumenismo”. Entrevista com Andrea Riccardi
- Pelo menos 236 padres e diáconos da Igreja Ortodoxa Russa contra Putin: “Guerra Fratricida”
- 236 padres e diáconos da Igreja Ortodoxa Russa contra Putin: “Guerra fratricida”
- Declaração de teólogos ortodoxos em oposição à doutrina do “mundo russo” (russkii mir)
- Presidente da Conferências das Igrejas Europeias - CEC - pede a Kirill para condenar a invasão
- “As origens do confronto estão nas relações entre o Ocidente e a Rússia”, afirma o Patriarca Kirill
- A reviravolta do patriarca Kirill sobre o pacifismo e a condenação do Vaticano: agora o conflito na Ucrânia corre o risco de minar o diálogo entre as igrejas
- Kirill transforma a guerra de Putin em uma cruzada contra o “grande Satanás”. Artigo de Pasquale Annicchino
- Carta aberta a Sua Santidade Kirill Patriarca de Moscou
- Carta a Kirill, de Jean-Claude Hollerich
- O apocalipse pan-eslavo de Kirill a serviço de Putin. Artigo de Pasquale Annicchino
- Kirill, o fidelíssimo ao Kremlin que virou as costas ao Papa
- “Kirill estreitamente ligado ao Kremlin. É impensável um seu ‘não’ ao conflito”. Entrevista com Enrico Morini
- Kirill se contradiz?
- Teologia ‘ad usum Cyrilli’: formas de discurso eclesial em tempo de guerra. Artigo de Andrea Grillo
- Ucrânia, choque pelas palavras do Patriarca Kirill sobre os gays: a divergência com Francisco agora é total. Artigo de Marco Politi
- O patriarca de Moscou abençoa a “guerra anti-gay”
- Para o Patriarca Kirill, a guerra é moralmente justa e útil para parar o lobby gay ocidental
- Kirill vai romper com a unidade ortodoxa
- O sermão de Kirill talvez seja uma péssima pregação com uma teologia ainda pior – mas é o suprassumo da rejeição à democracia liberal
- Patriarca Kirill defende: a guerra metafísica contra o pecado sexual