06 Abril 2022
"No momento seria irrealista e altamente arriscado imaginar uma viagem com eventos públicos, mesmo que mínimos, ou deslocamentos normais e com jornalistas fazendo cobertura".
A entrevista com Visvaldas Kulbokas é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 05-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Monsenhor Visvaldas Kulbokas, núncio apostólico na Ucrânia, o Papa disse que o projeto está na mesa: poderia realmente vir muito em breve para Kiev?
A viagem seria viável através da Polônia, mas continua a ser uma viagem por terra realmente estafante. Partindo de Roma leva meio dia (entre uma conexão e outra) só para chegar à Polônia e de lá é preciso continuar até Lviv. O translado para Kiev continua sendo longo, é necessário calcular um dia de viagem. Então seria necessário um dia só para ir e outro só para voltar.
Seria uma presença simbólica sobretudo para os que sofrem na Ucrânia...
Em Kiev tudo depende da situação bélica daquele dia. Sábado, por exemplo, foi um dia relativamente calmo. Nenhum míssil ou ataque aéreo foi ouvido. Não tivemos que ir aos abrigos.
Vocês têm um abrigo na nunciatura?
Bem, na verdade não. É apenas um porão que montamos para nos abrigar. Nós nos protegemos junto com as freiras, com os colaboradores da nunciatura: nossa pequena família. Nenhum de nós queria deixar a sede. Pelo que sei, existem apenas dois embaixadores residentes em Kiev; além de mim, há o embaixador polonês.
Se o Papa chegasse a Kiev, de forma realista o que ele poderia fazer?
Esse é o principal problema a ser resolvido. Certamente seria uma presença emblemática muito importante, mas há um aspecto ligado à segurança: estou me referindo à segurança das pessoas que costumam ir vê-lo. As perguntas a serem feitas tornam-se, portanto, imprescindíveis: quem poderia ir vê-lo, o que poderia fazer? Existem condições mínimas para se deslocar? Claro, também se pode imaginar uma viagem bem curta, sem comitiva e sem eventos de massa. Mas no momento seria irrealista e altamente arriscado imaginar uma viagem com eventos públicos, mesmo que mínimos, ou deslocamentos normais e com jornalistas fazendo cobertura.
Então a viagem só depende da logística e da segurança?
Imagino que também haja outras questões relacionadas às relações com Moscou a serem consideradas, que suponho que não esteja vendo de bons olhos um projeto semelhante, mas não cabe a mim avaliar isso e cabe a Roma fazer uma avaliação completa. Eu só tenho um quadro parcial sob meus olhos. Certamente, nestas condições, seria uma viagem papal atípica, não uma verdadeira viagem apostólica que envolve o encontro com as pessoas. No entanto, posso imaginar alguns momentos proféticos de proximidade com o povo sofredor, talvez a missa na catedral e talvez também o encontro com o Conselho das Igrejas. Um organismo que neste momento está realmente muito unido. Mas acredite, as minhas são apenas análises.
Leio nos sites e vejo na TV que essa viagem está sendo dada quase como certa. No momento, porém, o estado das coisas é este.
Viver sob os mísseis é uma experiência chocante, pode-se ver nos rostos dos refugiados que chegam à Europa...
Nestes dois dias não ouvimos nenhum míssil, sábado passado foi o primeiro dia sem artilharia. As notícias chegam até nós misturadas e cheias de dor. Karkhiv e Mariupol, cidades muito grandes, tiveram muitos bairros praticamente destruídos. Há pessoas que ainda estão se refugiando no metrô. Observa-se o que acontece nas áreas onde o exército russo completou a retirada. Civis mortos na rua com as mãos amarradas nas costas. Em Bucha, testemunhas falam de corpos de mulheres nuas prontos para serem queimados, evidentemente haviam sido violadas. Crianças atingidas por arma de fogo à queima-roupa, na cabeça. Os militares roubaram as casas, esvaziando-as de tudo, lava-louças, chuveiros, banheiros.
A guerra tem uma face feroz.
O que pode ser feito?
Rezar, rezar, rezar. Desta vez precisamos realmente da ajuda de Deus.
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“Aqui o nosso refúgio é um porão. O papa em Kiev? Só se houver condições” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU