O espanhol Jordi Bertomeu, um dos investigadores enviados pelo Papa ao Chile para enfrentar a crise causada pelos abusos sexuais e o acobertamento de alguns bispos, garantiu que, após os encontros que Francisco teve com o Episcopado “haverá medidas concretas a curto prazo”.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 17-05-2018. A tradução é de André Langer.
Nesta quinta-feira, 17 de maio, terminaram os encontros que, durante três dias, levaram os bispos da Igreja chilena ao Vaticano. Os 34 bispos foram convocados por Francisco depois de receber o relatório preparado por Charles J. Scicluna e Bertomeu. “Acredito que haverá medidas concretas de curto prazo. O Papa é um homem de palavra e se disse que haverá mudanças, elas virão”, disse Bertomeu, segundo a agência de notícias argentina Télam.
“Podemos esperar alguma conclusão importante. Haverá pontos de reflexão, e certamente estamos diante de um momento muito particular da Igreja universal, não apenas para o Chile”, acrescentou o padre espanhol, um dos principais homens para a resolução desta crise.
Terminaram no final da tarde desta quinta-feira os encontros do Papa com os bispos chilenos, que aconteceram de forma confidencial, como solicitou expressamente a Santa Sé. Sabe-se apenas que durante o primeiro encontro Francisco entregou a cada um deles um texto com temas de meditação e ordenou-lhes um tempo de meditação e oração.
Após dois encontros de pouco mais de uma hora, realizados sucessivamente na terça e na quarta-feira, os religiosos tiveram ontem, quinta-feira, a terceira reunião do grupo com o Pontífice, antes de iniciar a quarta conversa, às 17h.
“O Papa nos ouviu e houve um diálogo que foi muito interessante, muito profundo; estamos muito contentes”, disse na quarta-feira o porta-voz da Conferência Episcopal, Fernando Ramos.
Entretanto, o cardeal Errázuriz, um dos principais responsáveis pelo acobertamento do ‘caso Barros’, de acordo com as vítimas, defendeu-se por carta das acusações, e denunciou que foi tachado de “delinquente, acobertador, criminoso e pessoa desprezível”. Ao mesmo tempo, assegurou que “jamais acobertei ninguém durante toda a minha vida”, e disse que investigou Karadima conforme ordena “a lei canônica”.
Na carta, dirigida em 10 de maio aos bispos chilenos, Errázuriz queria deixar claro que “o processo penal exigiu um longo tempo devido às dificuldades que teve que enfrentar”. Na sua opinião, “a veracidade ficou clara quando o terceiro acusador, o senhor Juan Carlos Cruz, apresentou a sua denúncia”.
O cardeal relatou que em agosto de 2009 recebeu a denúncia de Cruz e viajou para Roma, onde se encontrou com Charles J. Scicluna, que “me deu excelentes indicações para a investigação e o desenvolvimento do processo penal. Entre outras coisas, ele me disse que receberia muitas cartas elogiando o acusado, que não são úteis para o processo, e por isso, na verdade, não cheguei a lê-las”.
O cardeal detalha o seguinte: “No dia 18 de junho daquele ano e em conformidade com o mandato canônico, toda a documentação foi enviada à Santa Sé, incluindo o julgamento negativo ao qual tinha chegado também o segundo promotor de justiça. Eu acrescentei duas petições: que a sentença fosse proferida o quanto antes e que o prazo de prescrição dos fatos fosse levantado, de maneira que fosse julgado de acordo com a verdade e a justiça, considerando sua gravidade. Com base na documentação enviada e sem solicitar investigações adicionais, antes do final do ano a sentença condenatória tinha sido proferida. Um tempo depois, foi rejeitada a apelação feita pelo acusado”.
“Está claro que não houve, da minha parte, crime ou acobertamento algum; caso contrário, não teria pedido que a prescrição fosse levantada no julgamento canônico. No entanto, reconheço uma importante omissão: como bispo, foi a primeira vez que tive que agir como juiz. E como juiz, estava obrigado a tomar distância para julgar com objetividade”, acrescentou o cardeal.
“Como juiz, estava obrigado a tomar distância para julgar com objetividade. Por essa razão, as acusações foram recebidas por um bispo auxiliar, o chanceler da cúria, um promotor de justiça. Mas essa distância me impediu de agir com a proximidade do pastor. Há anos, em uma entrevista, afirmei que não o faria novamente se tivesse que abordar outro caso semelhante: eu optaria pela proximidade e o apoio que as vítimas desejam e esperam do pastor e delegaria a função judicial. A distância causou nas vítimas uma dor imerecida, que não tive a intenção de provocar”, concluiu.
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