Conforme se esperava, segundo fontes da Fraternidade de Schoenstatt, o cardeal Francisco Javier Errázuriz Ossa finalmente viajou para Roma em um voo direto. O que o fez mudar de ideia? O chamado de atenção do Papa Francisco ou prestar contas in situ de suas aventuras e intrigas... Só Deus e sua consciência sabem.
A reportagem é de Jaime Escobar M., publicada por Liberación y Reflexión, 12-05-2018. A tradução é de André Langer.
Nos últimos dias, o cardeal havia dado duas explicações diferentes sobre sua não participação no encontro entre o Papa e os bispos do Chile, que começa neste dia 15 de maio. Primeiro falou de “razões pessoais” e, depois, fez referência à sua recente estada no Vaticano como membro do C9. Finalmente, disse: “retornei ao Chile há apenas alguns dias e já falei o que tinha a dizer...”. Acrescentou que tinha deixado com o Papa um relatório com 14 pastas sobre o tema do Pe. Karadima e sobre a crise da Igreja chilena, que chamou a atenção do mundo em consequência da visita e do relatório de dom Charles Scicluna e seu assistente Pe. Jordi Bertomeu.
Essa nova reviravolta do questionado cardeal em sua decisão anterior de se ausentar das reuniões convocadas pelo Santo Padre não foi bem recebida em vários ambientes do Vaticano e chegou-se a dizer que essa determinação de Errázuriz poderia ser interpretada como um “verdadeiro desprezo ao Sumo Pontífice”. O próprio cardeal prefeito da Congregação para os Bispos, Marc Ouellet, considerou muito complicado que seu par chileno não estivesse presente nas rodadas de diálogo com o Papa sobre vários temas, especialmente a questão dos abusos sexuais e o acobertamento desses graves crimes que minaram todo o trabalho da Igreja no mundo.
Visto de outra perspectiva, alguns observadores sérios da delicada realidade chilena, percebem que haverá uma reação não menor nas reuniões agendadas em Roma. E isso por parte tanto do grupo conhecido no Chile como os “Karadima Boys”, como pelo próprio cardeal Errázuriz. Este último, por ter uma boa equipe de assessoria que pode ser acionada para, de alguma forma, conter sua retumbante queda de credibilidade não só na cúria vaticana, mas em face da confiança nele depositada pelo próprio Papa Francisco. O Pontífice o chamou há cinco anos para integrar o seleto Comitê Assessor para implementar da melhor forma a série de reformas que Francisco realiza com poucas dificuldades e as preocupações de um setor que se opõe ou dificulta sua implementação prática.
Com este novo passo dado pelo cardeal Errázuriz, a primeira reunião de Francisco com a Conferência Episcopal do Chile – que já está em Roma pronta para as reuniões que começam na terça-feira, dia 15, cercadas por um genuíno interesse mundial – torna-se mais interessante. Alguns observadores italianos chegam a dizer que, em alguns aspectos, Francisco expõe uma parte importante de seu prestígio e liderança nos resultados concretos que saírem de tão importante reunião vaticana prestes a começar.
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