16 Mai 2018
Nessa segunda-feira à noite, dia 14, enquanto dois bispos chilenos se encontravam com alguns jornalistas na Sala Marconi da Rádio Vaticano, e um deles, Dom Juan Ignacio González, fazia acrobacias pindáricas para negar seu passado, o Papa Francisco, em São João de Latrão – falando com o clero de sua diocese – dizia uma verdade monumental que os prelados de Chile, que se encontram com ele a partir dessa terça-feira até a próxima quinta-feira, deveriam escrever com fogo no coração: “Uma Igreja sem povo é uma Igreja sem sistema imunológico”.
A reportagem é de Luis Badilla, publicada em Il Sismografo, 15-05-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nessas 10 palavras de Francisco, está todo o drama da Igreja chilena que chegou hoje ao ponto que conhecemos e que lamentamos com angústia, dor e, como disse o próprio Santo Padre, “grande vergonha”.
A Igreja do Chile, há 40 anos, quando escolheu, entre profecia e poder, a segunda alternativa, “fechou-se em si mesma”, “negligenciou ou não fez seriamente as contas com a vida das pessoas que lhe tinham sido confiadas”, disse o papa nessa segunda-feira, falando de algumas doenças espirituais da sua diocese que, porém, logo evocaram, em muitos, o caso chileno.
De fato, a Igreja chilena, há décadas, é uma Igreja sem Povo de Deus e, portanto, sem sistema imunológico e, por isso, devastada por várias doenças, cuja cura não é mais adiável. O início dessa virada radical, porém, tem algumas condições mínimas sem as quais é impossível mudar o estado da situação. Essas condições são diferentes, mas vamos nos deter, por enquanto, em apenas uma, essencial e decisiva.
A primeira condição é a verdade, aquela que boa parte da hierarquia chilena, arrogante e às vezes soberba, nunca quis conservar como seu maior tesouro ou, melhor, tesouro que, mais de uma vez, desprezou acima de tudo no âmbito da pedofilia e em relação às vítimas, muitíssimas, e não apenas as três mais famosas ligadas ao caso Karadima.
Na hierarquia católica chilena, há muitos anos, existe um terrível déficit de verdade, pois quem levou a melhor foram os jogos de poder, as dialéticas de grupo, as conveniências e influências, em suma, tudo o que faz de um sacerdote não um bom pastor de Cristo a serviço do Povo de Deus, mas alguém que tem importância, reverenciado e respeitado pelo poder, amigo dos poderosos.
Nessa segunda-feira, o bispo de San Bernardo, Dom Juan Ignacio González, ativista e partidário do grupelho do cardeal Errázuriz – mesmo que tenha vendido a alguns jornalistas (e “vozes católicas”) a farsa de que ele era “neutro” – continuou mentindo, a ponto de provocar a ira das vítimas de pedofilia no Chile, que imediatamente o desmentiram, com um avalanche de comunicados.
Dom Juan Ignacio González sempre defendeu Karadima e Barros, sempre defendeu a atuação ambígua do cardeal Errázuriz, nunca recebeu as vítimas que assegura ter encontrado ou, melhor, em várias vezes desacreditou aqueles que denunciavam abusos.
Certamente, se começarmos como Dom Juan Ignacio González, começamos mal.
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A corajosa advertência do papa e a desavergonhada mentira do bispo chileno - Instituto Humanitas Unisinos - IHU