08 Novembro 2023
"Alguns viram nisso uma maneira hábil de navegar na complexa teia diplomática. De fato, a Santa Sé abriu um canal de comunicação com Teerã para buscar um cessar-fogo na guerra que está inflamando Gaza e Israel. No domingo, houve uma ligação telefônica entre o presidente iraniano Ebrahim Raisi e o papa sobre o que está acontecendo na Faixa de Gaza, enquanto em 30 de outubro houve outra ligação entre o ministro das Relações Exteriores iraniano, Hossein Amir Abdollahian, e Paul R. Gallagher, Secretário de Relações com os Estados da Santa Sé", escreve Francesco Peloso, jornalista, em artigo publicado por Domani, 06-11-2023.
O presidente Raisi liga para o papa depois que os ministros das Relações Exteriores do Irã e do Vaticano já haviam se falado; a Igreja de Roma pode servir como intermediária entre Teerã e Washington para um cessar-fogo, a chave para o acordo e para convencer Israel, no entanto, são os reféns nas mãos do Hamas. Até agora, ninguém quer a expansão do conflito, o Irã está buscando consolidar sua liderança na região.
Francisco ontem foi vítima de um "resfriado" ou mal-estar tão repentino que suspeitaram que fosse uma espécie de doença diplomática. Na manhã de ontem, o papa deveria se encontrar em audiência com a Conferência dos Rabinos da Europa; a reunião ocorreu como planejado, mas o pontífice, devido ao resfriado, não leu o discurso oficial e quis cumprimentar os rabinos pessoalmente.
O discurso, que continha referências ao conflito na Terra Santa e aos surtos de antissemitismo em várias partes do mundo, foi divulgado pela Sala de Imprensa da Santa Sé. Algumas horas depois, no entanto, um papa aparentemente recuperado encontrou uma delegação de milhares de crianças de todo o mundo na Sala Paulo IV. Ele leu um discurso e respondeu às perguntas delas, fazendo com que o mal-estar anterior fosse esquecido.
Alguns viram nisso uma maneira hábil de navegar na complexa teia diplomática. De fato, a Santa Sé abriu um canal de comunicação com Teerã para buscar um cessar-fogo na guerra que está inflamando Gaza e Israel. No domingo, houve uma ligação telefônica entre o presidente iraniano Ebrahim Raisi e o papa sobre o que está acontecendo na Faixa de Gaza, enquanto em 30 de outubro houve outra ligação entre o ministro das Relações Exteriores iraniano, Hossein Amir Abdollahian, e Paul R. Gallagher, Secretário de Relações com os Estados da Santa Sé. As autoridades iranianas apreciaram a posição do Vaticano a favor de um cessar-fogo devido à séria preocupação com a crise humanitária. Na verdade, a pressão do Irã sobre a Santa Sé mostra, antes de tudo, o envolvimento de Teerã no conflito, seu papel direto como apoiador do Hamas e, portanto, sua influência na cena internacional.
A agência iraniana Irna, ao relatar a ligação entre Raisi e o papa, explicou como, depois de denunciar os crimes de Israel, o presidente do Irã havia "prometido usar todo o potencial diplomático para interromper imediatamente os ataques e enviar ajuda humanitária para a região".
Isso é uma expressão de quem sabe que desempenha um papel de destaque no assunto. Além disso, a Santa Sé preferiu não fornecer sua própria versão do conteúdo da conversa entre os dois líderes, limitando-se a confirmar a ligação.
Não foi assim quando os dois ministros das Relações Exteriores conversaram; nessa ocasião, o Vaticano informou que Gallagher "expressou a séria preocupação da Santa Sé com o que está acontecendo em Israel e na Palestina, reafirmando a absoluta necessidade de evitar a escalada do conflito e chegar a uma solução de dois Estados para uma paz estável e duradoura no Oriente Médio."
Portanto, por parte da liderança teocrática e política iraniana, há também a busca de interlocutores no Ocidente capazes de exercer pressão diplomática, uma espécie de persuasão moral, sobre Israel e os Estados Unidos; de fato, a Santa Sé provavelmente está entre os poucos atores capazes de servir como intermediário entre os aiatolás e a Casa Branca, considerando que esta última parece ser a única capaz de influenciar a reação militar do governo de Benjamin Netanyahu.
Por outro lado, nos últimos dias, em apoio ao ativismo diplomático do Vaticano, foram divulgadas outras ligações do papa: em 2 de novembro com o presidente palestino Mahmoud Abbas, em 26 de outubro com o presidente turco Recep Tayyip Erdoğan e em 22 de outubro com o presidente americano Joe Biden.
Para o Irã, no entanto, a questão é séria: se as operações militares israelenses continuarem em Gaza, haverá o risco de uma derrota sem precedentes para o Hamas, com um número incalculável de baixas entre os civis palestinos. Isso colocaria Teerã em uma situação delicada de ter que aceitar ou não a expansão da guerra na frente libanesa com o envolvimento direto do Hezbollah. Uma expansão que, até o momento, ninguém deseja: nem o Irã, nem o líder do Hezbollah Nasrallah, que depende de Teerã, nem a Casa Branca, nem os outros países do Oriente Médio, nem a Europa, e nem mesmo Israel.
Além disso, a política iraniana na região, neste momento, visa expandir e consolidar sua presença, do Iraque à Síria, passando pelo Líbano. Assim, enquanto um conflito dramático se desenrola no terreno e a batalha da propaganda continua com a troca de acusações entre Tel Aviv e as milícias do Hamas, a Santa Sé, com sua presença histórica na Terra Santa, parece ser um dos poucos interlocutores capazes de servir como uma ponte, um canal de diálogo, entre Teerã e Washington. Certamente, além das milhares de vítimas civis contadas na armadilha de Gaza, a questão-chave para qualquer negociação possível continua sendo a dos reféns; não é por acaso que o papa, em cada uma de suas intervenções, repete o apelo pelo cessar-fogo e pela libertação dos reféns nas mãos do Hamas.
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Resfriado diplomático, o papa fala com o Irã e deixa os rabinos esperando. Artigo de Francesco Peloso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU