08 Junho 2018
Nessa quarta-feira, 6, foi oficialmente publicado o calendário da segunda visita dos enviados do Santo Padre ao Chile, o arcebispo de La Valletta, Dom Charles Scicluna, e o Mons. Jordi Bertomeu, oficial da Congregação para a Doutrina da Fé.
A reportagem é de Luis Badilla e de Francesco Gagliano, publicada em Il Sismografo, 07-06-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Esses enviados trabalharão em Santiago por quatro dias: 12, 13, 18 e 19 de junho. Na metade da visita, se transferirão por quatro dias para a cidade de Osorno (14, 15, 16 e 17), a mais de 800 km da capital, para se encontrar com o bispo da diocese, Dom Juan Barros, seus colaboradores e depois, obviamente, os leigos. Estes poderiam ser justamente o principal problema da missão vaticana [1].
É quase certo que o bispo Juan Barros, nomeado pelo papa em janeiro de 2015, deixará a diocese relativamente cedo. Por enquanto, ganha-se tempo para ver qual será a modalidade de “saída” do bispo, questão inseparável da permanência dos outros três prelados da ex-Pia União Sacerdotal de Karadima, hoje à frente de outras dioceses: o auxiliar de Santiago (Dom Andrés Arteaga, doente), Linares (Dom Tomislav Koljatic) e Talca (Dom Horacio Valenzuela).
Nesse contexto, não parece que a missão Scicluna-Bertomeu poderá encontrar grandes dificuldades, exceto alguns sacerdotes idosos horrorizados com o fato, inédito, de que grupos de leigos “se permitam contestar uma decisão do papa”.
Os leigos da diocese de Osorno hoje estão muito divididos, fragmentados e distantes por causa das controvérsias e polêmicas que surgiram desde o primeiro dia da nomeação de Barros.
Entre os diversos grupos, o antagonismo é forte e muitas vezes agressivo. Dentro do genérico “movimento dos leigos de Osorno”, há uma gama de posições diferentes, articuladas e às vezes um pouco enigmáticas, que vão desde os duros, puros e intransigentes (“fora Barros já”) até aqueles com posições mais mansas e inclusivas, abertos a possíveis estratégias de saída suaves e negociadas, e, no meio, alas de opiniões mais ou menos próximas ao bispo contestado e defensoras da ideia de processá-lo para determinar, definitivamente, se ele é ou não culpado de acobertar os abusos sexuais de Karadima.
Por fim, teoricamente, mas com considerações próximas ao dossiê Scicluna-Bertomeu entregue ao pontífice após a primeira missão de fevereiro, podem-se supor outros temas que os enviados deverão abordar, mas sempre no contexto da natureza específica do encargo papal, ou seja, escutar, coletar informações e elaborar cenários possíveis para as reflexões do papa.
Um primeiro tema diz respeito à nomeação dos bispos. O caso Barros, no Chile, e não só nesse país, reabriu com uma certa força o debate sobre os critérios e mecanismos que a Santa Sé e o papa utilizam há séculos para a escolha e a nomeação dos ordinários diocesanos.
Voltou-se a falar da participação das comunidades cristãs no processo que leva à nomeação do pastor, assim como era no primeiro milênio do cristianismo. Alguns leigos de Osorno, mas também teólogos e estudiosos chilenos, há muito tempo pedem e escrevem que não basta a renúncia de Dom Barros para dar um verdadeiro sinal de mudança na Igreja: também é preciso introduzir alguma forma de consulta do laicato nas nomeações episcopais futuras e próximas.
Há semanas, lê-se em diversos textos este pensamento que nós já relatamos no passado: no Chile, há muitos anos, o princípio de bom senso “nenhum bispo seja dado a quem não gosta dele” nunca foi seriamente respeitado. Esse princípio eclesiológico fundamental, sancionado em um decreto do Papa Celestino I na sua formulação completa, diz: “Nullus invitis detur episcopus; cleri, plebis et ordinis consensus et desiderium requiratur” (“Nenhum bispo seja dado a quem não gosta dele; exige-se o consentimento e o desejo do clero, do povo e da ordem”).
Essa questão, no entanto, não se limita apenas à diocese de Osorno: inclui, obviamente, os casos dos outros bispos que, no último dia 17 de maio, apresentaram sua renúncia ao Papa Francisco e que, no passado, estavam ligados a Karadima.
A mesma situação, portanto, poderia ser levantada para a diocese de Santiago, uma das quatro onde deverão ser substitutos os bispos que já completaram 75 anos e estão atualmente em regime de prorrogação, como o cardeal Ricardo Ezzati, muito contestado.
Em outras palavras, as decisões que serão tomadas no caso de Osorno e de Dom Barros não poderão se limitar a uma parte do país, mas necessariamente terão um impacto nacional sobre todas as outras 31 dioceses.
Por fim, é de grande importância a questão da imagem da Igreja chilena aos olhos da opinião pública, que aumenta seus sentimentos anticatólicos e anticlericais, quase sempre associados com o “problema da pedofilia no clero”.
Nesse campo, as medidas, locais e provenientes do Vaticano, devem ser convincentes se houver o desejo recuperar logo um mínimo de relação com a sociedade, e principalmente se houver o desejo de restituir a essa Igreja o prestígio e a autoridade que teve até algumas décadas atrás.
Não é uma questão secundária, e seria muito grave se, como alguns já disseram no Chile, ela fosse considerada como “irrelevante” por parte da hierarquia e do Vaticano, “porque não se governa a Igreja com a democracia”.
Isso é verdade, mas também é verdade que a Igreja não pode existir e viver separada do corpo social, porque a sua realidade última é justamente o Povo de Deus, e não as elites, os pactos, os grupos de pressão, a trama das conveniências e cumplicidades.
Nesse sentido, o futuro renovado da Igreja no Chile, como ressalta a esmagadora maioria dos católicos leigos comprometidos, é a paróquia.
1. Em 2013, ela contava com 125.000 batizados de um total de 241.000 habitantes.
O território se estende por 9.236 km² e está dividido em 23 paróquias, agrupadas em quatro decanatos: Centro, Rahue, Costa e Cordillera.
A diocese foi erigida em 15 de novembro de 1955, com a bula Christianorum, do Papa Pio XII, desmembrando o território da diocese de Valdivia e da diocese de Puerto Montt (hoje arquidiocese). Originalmente, era sufragânea da arquidiocese de Concepción.
Em 10 de maio de 1963, começou a fazer parte da nova província eclesiástica da arquidiocese de Puerto Montt.
- Francisco Maximiano Valdés Subercaseaux, O.F.M.Cap. (20 de junho de 1956 – 4 de janeiro de 1982, falecimento) – Venerável Servo de Deus;
- Miguel Caviedes Medina (8 de novembro de 1982 – 19 de fevereiro de 1994);
- Alejandro Goić Karmelić (27 de outubro de 1994 – 10 de julho de 2003);
- René Osvaldo Rebolledo Salinas (8 de maio de 2004 – 14 de dezembro de 2013);
- Juan de la Cruz Barros Madrid, desde 10 de janeiro de 2015.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Os enviados do papa ao Chile e a visita à diocese de Osorno: uma missão muito difícil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU