02 Junho 2018
O homossexual a quem o Papa Francisco disse "Deus te fez assim e o ama desse jeito", compartilhou mais sobre sua conversa com o Papa e sobre sua própria fé em entrevista à revista America.
A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 01-06-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Juan Carlos Cruz comentou sobre Francisco e suas palavras de boas-vindas: “Eu vi um homem compassivo. Vi alguém que estava sendo amável com a outra pessoa, sem se preocupar se somos homossexuais ou heterossexuais. Ele estava escutando alguém que foi ferido, abusado."
"'Não há nenhuma razão para que pastores hierarquicamente abaixo do Papa não possam ser acolhedores com todas as pessoas. Acho que pessoas gays em geral foram feridas o suficiente. Eles não são de segunda classe e merecem o mesmo amor e respeito como qualquer outro sujeito. Ninguém quer tratamento especial. Ninguém."
"Acolher significaria apenas integrar a todos nesta grande comunidade que tem pessoas de caminhos diferentes, de todo o tipo de etnia, de diferentes orientações sexuais, todas as nacionalidades. É isso que Católica significa.'"
Cruz tinha certeza de que "o ideal seria obviamente transformar o ensino", mas por ora, o processo de encontros entre pessoas LGBT e líderes de Igreja é um passo positivo. Ele acrescentou que, apesar de afirmações de alguns líderes da Igreja de que a homofobia não existe, "acho que há muita homofobia na Igreja, e isso é muito triste."
Cruz também falou sobre ser uma vítima de abuso sexual do clero e como o caminho para a cura e a responsabilidade tem sido mais difícil por causa de sua orientação sexual. A revista America relata:
"[Cruz] disse que falou ao Papa que, quando ele trouxe à tona alegações de abuso sexual, líderes da Igreja chilena, incluindo o cardeal Javier Errazuriz, membro do Conselho Consultivo do Papa, disseram que por ser gay não era uma vítima legítima de abuso, afinal poderia ter 'gostado'."
"Isto, disse ele, pareceu comover o Papa.”
“'Eu acho que o Papa reagiu a tudo isso sendo o homem compassivo que é', disse Cruz".
As cartas de demissão enviadas por todos os bispos no Chile, onde Cruz nasceu, poderiam ser um passo útil e potencialmente "o começo do fim dessa cultura de acobertamento entre os bispos", disse ele.
Em uma nota mais positiva, Cruz disse a revista America que depois de decidir compartilhar parte de sua conversa com o Papa Francisco, que "nunca esperou que isso se tornasse um grande tema", mas começou a receber muitas cartas e tweets com a mensagem, "isto mudou minha vida". Esse tipo de cura é precisamente o porquê de Cruz ter compartilhado a história em primeiro lugar. Quanto a sua atual posição dentro da Igreja, enquanto homossexual:
"Cruz disse que ele pratica a fé católica, mantendo seu compromisso feito no início de sua luta por justiça, que não iria ‘deixá-los vencer’. Estes bispos podem me magoar de todas as maneiras, mas não os deixarei tirar algo tão precioso para mim, que é a minha fé.'
"'Sou católico. Eu vou à Igreja. Eu mantive minha fé quando todas as probabilidades estavam contra ela, e agradeço a Deus por isso. Porque ela deu o suporte para me tornar a pessoa que sou hoje' disse ele."
Católicos têm lutado para entender como o Papa Francisco realmente se posiciona sobre a homossexualidade. As reações sobre seus comentários a Cruz foram variadas, e naquela mesma semana foi noticiado que o Papa reafirmou a proibição de homens gays serem aceitos ao sacerdócio.
Um acadêmico sugeriu que o Papa deve ser compreendido mais como um diretor espiritual do que um executor da doutrina. Mas para muitos católicos, as condenações de Francisco à ideologia de gênero e ao casamento de pessoas do mesmo sexo são o que definem seu papado em relação a questões LGBT. Você pode decidir por si mesmo se Francisco tem sido positivo, negativo, ou em algum lugar no meio-termo sobre tais questões, utilizando a linha do tempo feita pelo New Ways Ministry, "The Many Faces of Pope Francis" (As muitas faces do Papa Francisco, em português. Pode ser acessado aqui).
Mas uma coisa é certa: para Juan Carlos Cruz, o Papa é um homem compassivo, que se preocupa profundamente com as pessoas que encontra. E, se for só isso, que o cuidado possa ser um ponto de partida e o modelo de boas-vindas para todos os líderes da Igreja seguirem.
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Depois de encontro com Francisco, homossexual relata: "Eu vi um homem compassivo" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU