16 Mai 2018
Jordi Bertomeu, que fez a maior parte da indagatória junto com o arcebispo Charles Scicluna, foi nomeado, no final de abril, Capelão de Honra do Papa. Um reconhecimento muito raro em seu pontificado e que indica que o cenário é complexo para os bispos chilenos.
A reportagem é de Carla Pía Ruiz e Carlos Reyes, publicada por La Tercera, 14-05-2018. A tradução é de André Langer.
Eles parecem contentes. Sorrindo. Ali, em duas fotos do final de abril, Juan Carlos Cruz e James Hamilton divertem-se em um restaurante romano e na tradicional Fontana di Trevi. Nas duas imagens estão acompanhados por um homem misterioso, também sorridente.
Sua identidade: ninguém menos do que Jordi Bertomeu, um dos dois investigadores especiais do caso chileno, que, junto com Charles Scicluna, o arcebispo de Malta, escreveu o relatório crítico de mais de 2.300 páginas, responsável pela ida de toda a Conferência Episcopal Chilena a Roma, para uma reunião com o Papa Francisco, que se apresenta como muito tensa.
Bertomeu foi designado diretamente pelo Papa para acompanhar Cruz, Hamilton e José Andrés Murillo durante os dias que passaram no Vaticano para encontrar-se com Francisco.
Mas, além disso, durante essa visita, o padre espanhol foi agraciado com um gesto do Papa. Um gesto raríssimo e muito especial em seu pontificado, e que fala da relevância que o Papa dá ao caso chileno.
Na sexta-feira passada, 27 de abril, enquanto os três denunciantes do ex-pároco de El Bosque, Fernando Karadima, chegavam a Roma, Francisco concedeu a Bertomeu o título de Capelão de Honra de Sua Santidade, designação que o próprio Papa tinha eliminado em 2014 para sacerdotes com menos de 65 anos, e que concedeu poucas vezes como um prêmio excepcional a serviços necessários para o seu pontificado.
O documento de sua designação, obtido por La Tercera PM, confirma este título honorífico. No mundo da Igreja, onde tudo é um sinal, esta nomeação reveste Bertomeu com uma aura especial. Sobretudo porque se sabe que Francisco não gosta de títulos e que, inclusive, aboliu a designação para evitar o carreirismo e a ostentação. Assim, desse dia em diante, seu título oficial é “Reverendo Monsenhor”, acrescentando este último termo à sua denominação. Curiosamente, o Capelão de Sua Santidade tem o título de Reverendo Monsenhor e pode se distinguir de outros sacerdotes por suas vestimentas, sendo a batina negra com filamentos e borlas violetas e com faixa violeta.
A nomeação foi concisamente confirmada na diocese de Tortosa, à qual pertence Bertomeu, onde, de fato, entendiam que tinha sido designado como “Prelado de Honra de Sua Santidade”, uma posição muito semelhante, mas que também foi abolida por Francisco. No entanto, a tradução para o latim do documento original revela que o posto é o de Capelão de Honra.
Esta designação confirma os numerosos sinais que Francisco teve com Bertomeu, que iniciaram com a alusão e gratidão ao padre espanhol na carta do Papa aos bispos chilenos. Alguns vaticanistas comentam que nunca se tinha visto um documento papal em que se elogia tanto um sacerdote em específico.
O poderoso sinal da nomeação de Bertomeu como Capelão de Sua Santidade, também terá um impacto no encontro dos bispos chilenos. Em Roma, comenta-se que Bertomeu – que liderou a maior parte da investigação no Chile devido às complicações de saúde que afetaram Scicluna – foi muito crítico em relação ao cenário que encontrou no país. De fato, as vítimas de Karadima o elogiaram publicamente por seu tratamento e abordagem do caso chileno.
No Vaticano, comenta-se inclusive que Bertomeu antecipou o que virá na reunião dos bispos chilenos e que espera que seja o início de algo novo e sugestivo e que ajude a superar a crise em que se viram envolvidos por conta dos abusos de poder, de consciência e sexuais.
Assim, o gesto de Francisco indica que o encontro com os bispos será o início de um terremoto. Um terremoto anunciado e aguardado, cujo início já é conhecido, mas cujas consequências ainda são imprevisíveis.
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O sinal chave do Papa Francisco: concede um título especial ao padre que investigou o caso chileno - Instituto Humanitas Unisinos - IHU