Leão XIV, em visita à Turquia e ao Líbano, destaca-se por moderação e prudência

Foto: Vatican Media

Mais Lidos

  • O drama silencioso do celibato sacerdotal: pastores sozinhos, uma Igreja ferida. Artigo de José Manuel Vidal

    LER MAIS
  • O documento que escancara o projeto Trump: um mundo sem regras, sem Europa e sem democracia. Artigo de Maria Luiza Falcão Silva

    LER MAIS
  • “A esquerda é muito boa em apontar injustiças, mas isso pode ser uma desculpa para não fazer nada”. Entrevista com Rutger Bregman

    LER MAIS

Assine a Newsletter

Receba as notícias e atualizações do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em primeira mão. Junte-se a nós!

Conheça nossa Política de Privacidade.

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

12 Dezembro 2025

Após três dias na Turquia, o Papa chegou ao Líbano no domingo, para a segunda etapa de sua primeira viagem ao exterior desde a sua eleição. Como em Istambul, observou uma certa moderação no uso das palavras, para evitar deslizes num país atravessado por tensões religiosas.

A reportagem é de Sarah Belouezzane, publicada por Le Monde, 30-11-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

O avião azul que transportava o Papa preparava-se para aterrar no porto de Beirute quando dois caças se aproximaram da aeronave para escoltar a descida. Após três dias na Turquia num ambiente relativamente indiferente, Leão XIV foi calorosamente recebido no Líbano no domingo, 30 de novembro, na segunda etapa da sua primeira viagem fora de Itália desde a sua eleição em maio.

Por toda parte, ao longo do percurso, nas ruas e nas pontes, estavam pendurados cartazes com sua imagem enquanto saúda a multidão.

Após uma visita de cortesia ao presidente libanês Joseph Aoun e conversas com o presidente da Câmara dos Deputados, Nabih Berri, e o primeiro-ministro Nawaf Salam, Leão XIV dirigiu-se às autoridades, à sociedade civil e ao corpo diplomático.

Assim como na Turquia, demonstrou seu método: moderação, palavras ponderadas e mensagens a serem lidas nas entrelinhas. Elogiando os líderes da terra dos cedros, a quem evitou cuidadosamente ofender, o papa os chamou de "artesãos da paz, em circunstâncias muito complexas, conflituosas e incertas".

Em um Líbano atravessado por tensões religiosas permanentes e particularmente suscetível às convulsões geopolíticas do Oriente Médio, Leão XIV exortou calorosamente todos que o ouviam a jamais negligenciar o ato de recordar, uma tarefa essencial para "reaproximar aqueles que sofreram injustiças e opressões". Um esforço, em sua opinião, necessário para a "paz".

Pensando nos jovens do país, para quem discursará na segunda-feira em Bherke, ao norte de Beirute, Leão XIV elogiou aqueles que "ousam ficar". "Às vezes acontece que é mais fácil fugir ou, simplesmente, mais prático, ir para outro lugar", lamentou, acrescentando que é preciso "realmente coragem e visão de futuro para ficar ou retornar" num país onde as "condições" são "difíceis". Ele também dirigiu um apelo aos cristãos da região, particularmente na Síria, que deixaram o país em massa desde 2011.

Para garantir que permanecer seja possível, o líder católico alertou os dirigentes libaneses, explicando que as situações não melhoram apenas graças à "boa vontade e à coragem de alguns". A reconciliação, insistiu, "exige autoridades e instituições que reconheçam que o bem comum é superior ao de uma única parte". Pouco antes, ele havia pedido que "nunca se separar das pessoas e se colocar a serviço do [seu] povo".

Desde o início de sua viagem, como vem acontecendo desde sua eleição, Leão transmitiu suas mensagens com discrição, calma e moderação, jamais expressando críticas aos seus interlocutores. Os três dias e meio que passou na Turquia, reunindo-se com o presidente Recep Tayyip Erdogan, autoridades muçulmanas e armênios turcos, foram sempre marcados por essa cautela, tanto nas palavras quanto nos gestos. Uma diferença em relação a seu antecessor, Francisco, que ocasionalmente "repreendia" seus interlocutores no exterior.

No discurso proferido em Beirute, no domingo, Leão não respondeu a uma mensagem enviada a ele no dia anterior pelo Hezbollah, que o instava a rejeitar a "injustiça e a agressão de Israel" contra o Líbano.

Na Turquia, as circunstâncias exigiam cautela, assim como no Líbano, particularmente em questões sensíveis como o genocídio dos armênios de 1915. No domingo, antes de seu último almoço com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, a convite de quem viajou à Turquia para celebrar o 1.700º aniversário do Concílio de Niceia (que definiu o Credo, ou seja, os elementos essenciais da profissão de fé compartilhada por católicos, protestantes e ortodoxos), Leão XIV visitou a Catedral armênia.

Lá, evitou cuidadosamente usar a palavra "genocídio", demonstrando mais uma vez sua sobriedade: "Esta visita me oferece a oportunidade de agradecer a Deus pelo corajoso testemunho cristão do povo armênio ao longo dos séculos, muitas vezes em circunstâncias trágicas", afirmou simplesmente, antes de insistir na necessidade de diálogo entre os cristãos.

No avião que o levava a Beirute, o Papa respondeu, em uma coletiva de imprensa improvisada, a duas perguntas de jornalistas turcos sobre o papel do presidente Erdogan nos conflitos que assolam a região, na Ucrânia e em Gaza. Relembrando os temas de sua viagem — “paz e unidade” — Leão XIV simplesmente reiterou sua visão de uma solução de dois Estados para pôr fim ao conflito israelense-palestino. Reiterou também sua esperança de que o presidente Erdogan possa ajudar a deter a guerra na Ucrânia, atuando como intermediário entre Moscou e Kiev.

No sábado, durante sua visita à Mesquita Azul em Istambul, o Papa já havia demonstrado sua ponderação. Após tirar os sapatos e revelar suas meias brancas — uma homenagem ao seu time de beisebol favorito, o Chicago White Sox —caminhou sob as magníficas abóbadas do monumento.

Acompanhado pelo Grão-Mufti de Istambul e outros líderes muçulmanos da cidade, Leão XIV optou por não parar para rezar, como indicado na agenda da descrição da viagem. Ao fazer isso, o Papa das Américas se diferenciou de seus antecessores, Bento XVI e Francisco, pois ambos se recolheram na Mesquita Azul, em 2006 e 2014. Ele também demonstrou seu desejo de diálogo com os muçulmanos, mas evitou ofender aqueles, entre eles, a quem tal gesto poderia desagradar, ou aqueles, entre os católicos, que poderiam tê-lo repreendido por isso.

Leia mais