No sábado, 29 de novembro, véspera da Festa de Santo André, irmão do Apóstolo Pedro, no Palácio Patriarcal de Fanar (Istambul), o Papa Leão XIV e o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I assinaram uma Declaração Conjunta, cujo texto reproduzimos abaixo.
O texto é publicado por Settimana News, 30-11-2025.
«Deem graças ao Senhor, porque ele é bom;
o seu amor dura para sempre»
Salmo 106 (105), 1
Na véspera da Festa de Santo André, o primeiro chamado entre os Apóstolos, irmão do Apóstolo Pedro e Patrono do Patriarcado Ecumênico, nós, Papa Leão XIV e Patriarca Ecumênico Bartolomeu, agradecemos de coração a Deus, nosso Pai misericordioso, pelo dom deste encontro fraterno. Seguindo o exemplo de nossos Veneráveis Predecessores e atentos à vontade de Nosso Senhor Jesus Cristo, continuamos a caminhar com firme determinação pelo caminho do diálogo, no amor e na verdade (cf. Ef 4,15), rumo à desejada restauração da plena comunhão entre nossas Igrejas irmãs. Cientes de que a unidade cristã não é simplesmente o resultado de esforços humanos, mas uma dádiva divina, convidamos todos os membros de nossas Igrejas — clérigos, monges, consagrados e fiéis leigos — a buscar fervorosamente o cumprimento da oração que Jesus Cristo dirigiu ao Pai: "para que todos sejam um; para que... assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles também estejam em nós, para que o mundo creia" ( Jo 17,21).
A comemoração do 1700º aniversário do Primeiro Concílio Ecumênico de Niceia, realizada na véspera de nosso encontro, foi um momento extraordinário de graça. O Concílio de Niceia, realizado em 325 d.C., foi um evento providencial de unidade. O propósito de comemorar este evento, contudo, não é simplesmente recordar a importância histórica do Concílio, mas nos encorajar a estarmos constantemente abertos ao mesmo Espírito Santo que falou por meio de Niceia, enquanto enfrentamos os muitos desafios de nosso tempo. Somos profundamente gratos a todos os líderes e delegados de outras Igrejas e comunidades eclesiais que desejaram participar deste evento. Além de reconhecermos os obstáculos que impedem a restauração da plena comunhão entre todos os cristãos — obstáculos que buscamos abordar por meio do diálogo teológico —, devemos também reconhecer que o que nos une é a fé expressa no Credo Niceno. Esta é a fé salvadora na pessoa do Filho de Deus, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, homoousios com o Pai, que por nós e para nossa salvação se encarnou e habitou entre nós, foi crucificado, morto e sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus e há de vir a julgar os vivos e os mortos. Pela vinda do Filho de Deus, somos iniciados no mistério da Santíssima Trindade — Pai, Filho e Espírito Santo — e somos convidados a nos tornarmos, na pessoa de Cristo e por meio dEle, filhos do Pai e coerdeiros com Cristo pela graça do Espírito Santo. Munidos desta confissão comum, podemos enfrentar os desafios que compartilhamos ao testemunhar a fé expressa em Niceia com respeito mútuo e podemos trabalhar juntos em busca de soluções concretas com sincera esperança.
Estamos convencidos de que a comemoração deste aniversário significativo pode inspirar novos e corajosos passos no caminho rumo à unidade. Entre suas decisões, o Primeiro Concílio de Niceia também estabeleceu os critérios para determinar a data da Páscoa, comum a todos os cristãos. Somos gratos à Divina Providência por, neste ano, todo o mundo cristão ter celebrado a Páscoa no mesmo dia. É nosso desejo comum continuar o processo de busca de uma possível solução para celebrarmos juntos a Festa das Festas a cada ano. Esperamos e oramos para que todos os cristãos, "em toda a sabedoria e entendimento espiritual" (Colossenses 1:9), se engajem no processo que visa alcançar uma celebração comum da gloriosa Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.
Neste ano, comemoramos também o 60º aniversário da histórica Declaração Conjunta de nossos Veneráveis Predecessores, o Papa Paulo VI e o Patriarca Ecumênico Atenágoras I, que extinguiu a troca de excomunhões de 1054. Damos graças a Deus porque este gesto profético levou as nossas Igrejas a prosseguirem "em espírito de mútua confiança, estima e caridade, o diálogo que as conduzirá, com a ajuda de Deus, a viverem novamente, para o bem maior das almas e a vinda do Reino de Deus, na plena comunhão de fé, harmonia fraterna e vida sacramental que existiu entre elas durante o primeiro milênio da vida da Igreja" ( Declaração Conjunta do Papa Paulo VI e do Patriarca Ecumênico Atenágoras I, para apagar da memória e no seio da Igreja as sentenças de excomunhão do ano de 1054, 7 de dezembro de 1965). Ao mesmo tempo, exortamos aqueles que ainda hesitam em relação a qualquer forma de diálogo a ouvirem o que o Espírito diz às Igrejas (cf. Ap 2,29), instando-nos, nas atuais circunstâncias da história, a apresentar ao mundo um testemunho renovado de paz, reconciliação e unidade.
Convencidos da importância do diálogo, manifestamos nosso apoio contínuo ao trabalho da Comissão Internacional Conjunta para o Diálogo Teológico entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, que atualmente examina questões historicamente consideradas fontes de divisão. Além do papel insubstituível que o diálogo teológico desempenha no processo de reaproximação entre nossas Igrejas, também elogiamos os demais elementos necessários a esse processo, incluindo os contatos fraternos, a oração e o trabalho conjunto em todas as áreas em que a cooperação já é possível. Exortamos veementemente todos os fiéis de nossas Igrejas, especialmente o clero e os teólogos, a acolherem com alegria os frutos já alcançados e a se comprometerem com seu crescimento contínuo.
O objetivo da unidade cristã inclui o de contribuir de forma fundamental e vital para a paz entre todos os povos. Juntos, elevamos fervorosamente nossas vozes, invocando o dom divino da paz sobre o nosso mundo. Tragicamente, em muitas regiões do mundo, conflitos e violência continuam a destruir a vida de tantas pessoas. Apelamos àqueles que têm responsabilidades civis e políticas para que façam todo o possível para garantir que a tragédia da guerra termine imediatamente, e pedimos a todas as pessoas de boa vontade que apoiem nosso apelo.
Em particular, rejeitamos qualquer uso da religião e do Nome de Deus para justificar a violência. Acreditamos que o autêntico diálogo inter-religioso, longe de ser causa de sincretismo e confusão, é essencial para a coexistência de povos pertencentes a diferentes tradições e culturas. Lembrando o 60º aniversário da Declaração Nostra Aetate, exortamos todos os homens e mulheres de boa vontade a trabalharem juntos para construir um mundo mais justo e solidário e a cuidar da criação que Deus nos confiou. Só assim a família humana poderá superar a indiferença, o desejo de dominação, a ganância e a xenofobia.
Embora profundamente alarmados com a atual situação internacional, não perdemos a esperança. Deus não abandonará a humanidade. O Pai enviou seu Filho unigênito para nos salvar, e o Filho de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, nos deu o Espírito Santo para nos tornar participantes de sua vida divina, preservando e protegendo a sacralidade da pessoa humana. Através do Espírito Santo, sabemos e experimentamos que Deus está conosco. Por isso, em nossa oração, confiamos a Deus todo ser humano, especialmente os necessitados, aqueles que sofrem com a fome, a solidão ou a doença. Invocamos sobre cada membro da família humana todas as graças e bênçãos, para que "os seus corações sejam consolados e, unidos em amor, sejam enriquecidos com pleno entendimento para conhecer o mistério de Deus" (Colossenses 2:2), que é nosso Senhor Jesus Cristo.
De Phanar , 29 de novembro de 2025.