22 Mai 2025
O governo de Donald Trump vê oportunidade após mudança de acordo entre Brasil e Paraguai; declaração causa apreensão em Brasília.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 21-05-2025.
Durante audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado americano na 3ª feira (20/5), o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou aos senadores que a energia excedente da usina hidrelétrica de Itaipu poderia ser direcionada para o desenvolvimento de inteligência artificial. A declaração surpreendeu o governo brasileiro, que acompanha a repercussão dela dentro do Paraguai.
A fala de Rubio caiu de paraquedas no Senado norte-americano, já que a pergunta original, feita pelo senador republicado John Curtis (Ohio), falava sobre a participação do governo Trump na COP30 no Brasil em novembro. O ex-senador pela Flórida deu a volta e, ao invés de falar da COP, comentou sobre a questão do excedente de energia no Paraguai.
“Se alguém for esperto, vai até o Paraguai e instala uma fábrica de IA lá”, disse Rubio, destacando a oportunidade criada pelo fim do acordo de 50 anos que permitia ao Brasil comprar o excedente paraguaio de energia. O novo acordo entre Brasil e Paraguai, firmado em 2024 pelo ministro Alexandre Silveira e o presidente Santiago Peña, estabelece que a partir de 2027 o Paraguai poderá vender sua cota de 50% da energia de Itaipu diretamente à indústria brasileira no mercado livre.
Antes, esta operação estava restrita ao mercado regulado. O Paraguai utiliza somente aproximadamente 17% de sua parte, comercializando o excedente com o Brasil por valores determinados pelo CUSE (Custo Unitário dos Serviços de Eletricidade).
As negociações sobre as bases financeiras da usina, contudo, foram suspensas em abril após denúncias de espionagem paraguaia pela ABIN. Rubio enfatizou aos parlamentares americanos que países com excedentes energéticos, como o Paraguai, estão em posição privilegiada na corrida tecnológica global.
Na mesma audiência, Rubio alertou sobre a pressão sobre países dependentes de energia e defendeu maior envolvimento dos EUA. “Temos que discutir não apenas nosso papel na energia, mas como investimos e fazemos parcerias com quem tem suprimento”, disse.
No Paraguai, a declaração de Rubio soou conveniente. “Claro que é muito positivo para nós estarmos presentes na agenda do secretário de Estado norte-americano, e sermos mencionados e destacados perante uma sessão do Senado daquele país é algo extremamente fundamental. Não apenas pela questão energética em si, mas pelo fato do Paraguai estar presente na agenda”, declarou Justo Zacarías, diretor paraguaio da Itaipu Binacional, ao jornal paraguaio La Nación.
Já no Brasil, as declarações geraram apreensão, com especial atenção do Ministério da Fazenda, noticiou a VEJA. O ministro Fernando Haddad realizou uma visita aos EUA no começo do mês com o propósito de incentivar empresas de IA a se estabelecerem no Brasil, utilizando como principal atrativo, justamente, a abundância de energia limpa e renovável, incluindo a proveniente de Itaipu.
O Globo, Valor, Poder 360, InfoMoney e Metrópoles informaram sobre a declaração do Ministro de Estado norte-americano.
A pegada de carbono pesada das IAs não resume o impacto dessa tecnologia para a crise climática. Ela também pode gerar benefícios, especialmente para adaptação. No Valor, Daniela Chiaretti deu detalhes de um projeto do Banco Mundial que utiliza a IA para otimizar o uso de fertilizantes, aumentar a produtividade agrícola e diminuir os impactos ambientais da atividade rural. “Trata-se de um exemplo de como a agricultura de precisão pode melhorar a resiliência climática para agricultores, principalmente na parte do mundo mais pobre ou em desenvolvimento, o Sul Global”, destacou.