22 Mai 2025
"O tom humilde e firme dessa carta do sucessor de Pedro às Igrejas e ao mundo embarca-nos a todos novamente com Jesus, mostrando querer unir, na própria singularidade do seu ministério, a vitalidade da fé cuja graça nos é dada e a qualidade do amor que lhe confere verdadeira autoridade", escreve o teólogo e padre italiano Pierangelo Sequeri, ex-presidente do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II para as Ciências do Matrimônio e da Família (2016-2021) e consultor do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, em artigo foi publicado por Avvenire, 20-05-2025.
Podemos ser mansos e firmes como uma rocha ao mesmo tempo? Podemos. A Palavra com a qual o apóstolo Pedro (sim, aquele original) se dirige aos seus confirma isso, ampliando a bela imagem da pedra viva: "À medida que se aproximam dele, a pedra viva — rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele — vocês também estão sendo utilizados como pedras vivas na edificação de uma casa" (cf. 1Pe 2,4-5).
“Pedra viva” – um oximoro que a graça transforma em milagre – representa com eloquência o que vem ao mundo quando se forma a comunidade daqueles que confiam em Jesus, “pedra viva” da construção de Deus que desafia o tempo e abraça a eternidade. O apóstolo Pedro entende de pedras vivas: ele próprio recebeu o seu novo nome de Jesus, precisamente com o ministério da unidade e da estabilidade da comunidade dos discípulos do Senhor. Essa graça faz dele um guardião manso e firme como uma rocha do amor evangélico, mas não o transforma em pai-senhor. Nenhum daqueles que exercem qualquer autoridade em nome e por conta do Senhor deve sê-lo: ainda mais aquele a quem o Senhor pediu um amor muito especial para o cuidado de todas as suas ovelhas (aquelas abrigadas e aquelas perdidas). Pedro escreveu isso, desde o início, lembrando o amor que Jesus lhe pediu: "Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados [...] Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho" (1Pe 5,2-3).
Na homilia da missa oficial de início do ministério pontifício, o Papa Leão XIV reescreveu, em sua linguagem “agostiniana”, a primeira carta de Pedro (que, de fato, entre as pouquíssimas citações bíblicas, ele cita explicitamente duas vezes).
O fundamento é confiado, antes de tudo, ao Senhor, “pedra viva” sobre a qual tudo repousa. “E se a rocha é Cristo, Pedro deve pastorear o rebanho sem jamais ceder à tentação de ser um líder solitário ou um chefe posto acima dos outros”.
A recomposição da unidade da Igreja, que não mortifica as diferenças das qualidades, dos ministérios e dos dons, advém do fato de que ela é inteiramente como uma polifonia de pedras vivas: ninguém é senhor, ninguém é súdito. Essa recomposição, porém, não é um fim em si mesma. O tema do testemunho que a torna persuasiva não provém da presunção mundana de se sentir “superiores ao mundo”, isto é, a toda a comunidade humana. O tema é, antes, o amor (ágape) iluminado na palavra e na ação de Jesus, que abre o destino de cada vida à intimidade de Deus. Nas palavras francas e decisivas do Papa Leão, que se inspiram diretamente em Pedro, não se trata de "capturar os outros pela submissão, pela propaganda religiosa ou pelos meios do poder, mas é sempre e somente uma questão de amar como Jesus amou".
O caminho para a intimidade do mundo de Deus – explicou o Papa Leão – que já agora transforma o caminho da vida no tempo, fermentando o Reino de Deus – deve ser percorrido juntos: "entre nós, mas também com as Igrejas cristãs irmãs, com aqueles que seguem outros caminhos religiosos, com aqueles que cultivam a inquietação da busca de Deus, com todos os homens e mulheres de boa vontade". Nenhuma regressão identitária: pelo contrário, um claro progresso comunitário de abertura eclesial às periferias extremas do diálogo salvífico (ouço aqui, com emoção, a clara ressonância da grande encíclica Ecclesiam suam de Paulo VI, cuja férula o Papa Leão empunhava; e o eco daquele “todos, todos, todos” profeticamente entregue à Igreja pelo legado espiritual do Papa Francisco).
O tom humilde e firme dessa carta do sucessor de Pedro às Igrejas e ao mundo embarca-nos a todos novamente com Jesus, mostrando querer unir, na própria singularidade do seu ministério, a vitalidade da fé cuja graça nos é dada e a qualidade do amor que lhe confere verdadeira autoridade. As disputas clericais sobre os direitos de prevaricação que nos seriam concedidos pela graça da verdade, bem como as disputas mundanas que confiam à guerra o trabalho da justiça, devem ser unidas novamente num imenso sobressalto de vergonha planetária. Nenhum presunçoso progresso de civilização, nenhuma suposta pureza da religião, pode conquistar crédito dessa maneira. E nenhuma civilização, como nenhuma religião, devem oferecer a essa vergonha o menor pretexto. O sucessor de Pedro, na serenidade de seu tom, já usou palavras particularmente decisivas em poucos dias para enfatizar essa dúplice vergonha. A humildade de seu jeito e a firmeza de seu pronunciamento nos conquistam. Sentimos verdadeiramente em seu estilo aquilo que o apóstolo Pedro aprendeu com Jesus, sobre o que significa ser "pedra viva". Já nos sentimos menos nervosos (e mais determinados).