20 Mai 2025
"Nenhum lema programático é melhor do que as palavras proferidas na noite da eleição. Lutar por uma “paz desarmada e desarmante”. O programa enunciado pelo Papa Prevost é agora conhecido. Os próximos meses e anos mostrarão como será realizado e como será explicitada aquela sinodalidade - a perspectiva de uma Igreja participativa - à qual também aludiu nos últimos dias. Resta apenas um ponto de interrogação, que diz respeito ao lugar da mulher na Igreja", escreve Marco Politi, em artigo publicado por il Fatto Quotidiano, 19-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
"O rei está morto. Viva o rei!" O antigo lema da monarquia na França expressa a virada brusca que caracteriza a chegada de um novo soberano. Não tem mais sentido olhar para o passado, conta apenas o novo caminho que se inicia. Em poucos dias, desde a eleição no conclave até o rito solene no domingo, 18 de maio, apareceu com clareza a perspectiva na qual se coloca o pontífice das duas Américas. A derrota dos ultraconservadores no conclave, onde foram incapazes de apresentar um candidato apto a oferecer uma visão do futuro, deixou o campo para uma personalidade orientada a continuar a renovação da Igreja. Isso aconteceu graças à aliança entre os curiais moderados e o grupo dos cardeais atentos à tradição, mas abertos à necessidade de continuar gradualmente as reformas eclesiais, a que se acrescentou o vasto arco de cardeais do Sul global (em sua maioria escolhidos por Bergoglio) com a intenção de manter o ímpeto reformador social e o empenho intransigente pela paz que caracterizaram o reinado de Francisco.
Leão XIV se apresenta como um arquiteto intencionado a tornar harmoniosos e homogêneos os impulsos reformadores do pontificado bergogliano (muitas vezes manifestados por mudanças e decisões solitárias) com seu próprio estilo, sua própria cultura teológica, seu próprio temperamento de “superior geral”, que sabe ouvir e proceder com racionalidade e profundo apego ao que, na linguagem católica, é chamado de “depósito da fé”.
Em seu curto sermão, mas intenso, na missa inaugural - outrora chamada de coroação - o papa respondeu a uma solicitação praticamente unânime dos debates pré-conclave.
Ele não será um “líder solitário ou um chefe posto acima dos outros”, que se faz de dono da comunidade que lhe foi confiada, garantiu, ecoando o papel de Pedro evidenciado pelos Atos dos Apóstolos. Em outras palavras, organizará uma cúria com a qual trabalhar em espírito de equipe, ao mesmo tempo em que estará disposto a uma consulta constante com todos os cardeais que representam o variegado mundo católico. Ciente das críticas dirigidas ao seu antecessor por repetidos ziguezagues doutrinários, Robert Francis Prevost enfatiza o desejo de “preservar o rico patrimônio da fé cristã”, mas sem espírito burocrático ou “retrocedista”. Mas, sim, na convicção da necessidade de “lançar o olhar para longe para ir ao encontro das perguntas, das inquietações e dos desafios de hoje”.
A Igreja de Roma, pontuou ele, repetindo textualmente o tema central do primeiro discurso de Francisco na Loggia do Vaticano, está voltada para a caridade: “Nunca se trata de capturar os outros com opressão, com propaganda religiosa ou com meios de poder”. É sempre e somente uma questão, ele enfatizou de forma quase meticulosa, de amar como Jesus amou. Uma estocada precisa no fundamentalismo intolerante que caracteriza a ideologia cristã típica dos seguidores de Trump e dos outros líderes soberanistas que reduzem a cruz a um símbolo identitário.
Ao contrário dos soberanistas identitários, o Papa Leão rejeita um clima no qual prosperam “muita discórdia, muitas feridas causadas por ódio, violência, preconceitos, medo do diferente e um paradigma econômico que explora os recursos da terra e marginaliza os mais pobres”.
Em seus discursos, Prevost formula cuidadosamente cada palavra, cada conceito. Ele é delicado e, ao mesmo tempo, determinado e preciso. Talvez por causa de sua tripla especialização universitária: matemático, filósofo, especialista em direito canônico. Por outro lado, a clareza é o que seus eleitores lhe pediram para levar a termo os muitos canteiros de obras abertos por Francisco.
Qual é a Igreja que Leão XIV quer? Essa era a pergunta que todos, crentes e não crentes, homens de estado e expoentes de outras religiões faziam na véspera da cerimônia de início do pontificado. A resposta clara foi: uma Igreja sob a insígnia do amor e da unidade. Com uma unidade interna redescoberta, no respeito pelas diversidades. Em poucas palavras, uma “uma Igreja missionária, que abre os braços ao mundo, que anuncia a Palavra, que se deixa inquietar pela história e que se torna fermento de concórdia para a humanidade”.
Palavras que não precisa explicar. É claro seu afã em combater as desigualdades sociais, sua atenção especial ao mundo dos migrantes, sua intenção de se medir com a nova revolução tecnológica e o advento da inteligência artificial. Igualmente claro é seu empenho pela paz, o que significa encontrar-se, escutar, não acreditar que se possui toda a verdade, trabalhar para restaurar o multilateralismo no mundo (outra alfinetada em Trump, Putin, Netanyahu e todos os autocratas tentados pelo desejo de resolver os problemas apenas entre poucos poderosos “chefões”). A Santa Sé, enfatizou, “está à disposição” para que os inimigos se olhem nos olhos e saibam negociar. O presidente ucraniano Zelensky, com quem Leão se encontrou em particular após a missa, agradeceu-lhe por isso.
Em última análise, nenhum lema programático é melhor do que as palavras proferidas na noite da eleição. Lutar por uma “paz desarmada e desarmante”. O programa enunciado pelo Papa Prevost é agora conhecido. Os próximos meses e anos mostrarão como será realizado e como será explicitada aquela sinodalidade - a perspectiva de uma Igreja participativa - à qual também aludiu nos últimos dias. Resta apenas um ponto de interrogação, que diz respeito ao lugar da mulher na Igreja. Não é um desafio pequeno.