25 Abril 2025
"Os 'grandes' da Terra, ou muitos deles, se encontrarão em Roma para as exéquias do Papa Francisco. Como em 8 de abril de 2005, para o funeral de João Paulo II, com um mundo que, grosso modo, estava em paz. Agora em guerra. Quem virá?", escreve o embaixador italiano aposentado Stefano Stefanini, em artigo publicado por La Stampa, 22-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um mundo em guerra perdeu um grande defensor da paz, o Papa Francisco. A sucessão ao trono papal ocorrerá em um cenário internacional profundo e abertamente conflituoso. Isso não acontecia há mais de um século: Pio X morreu após a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Depois, todos os conclaves foram em tempo de paz. A morte do Pontífice tem duas consequências imediatas: o desaparecimento de uma voz poderosa, embora não ouvida, que dava prioridade à paz sobre todo o resto – o Papa Bergoglio às vezes parecia colocar a paz acima da legítima defesa, especialmente na guerra russo-ucraniana; talvez, um pequeno vislumbre de diálogo entre líderes que querem conversar entre si. Até mesmo sobre a paz – isso seria a coroação de todos os esforços do primeiro Pontífice argentino.
Os “grandes” da Terra, ou muitos deles, se encontrarão em Roma para as exéquias do Papa Francisco. Como em 8 de abril de 2005, para o funeral de João Paulo II, com um mundo que, grosso modo, estava em paz. Agora em guerra. Quem virá? Certamente, os líderes europeus. Donald Trump (como GW Bush em 2005)? Ele colocou as bandeiras a meio mastro, mas ainda não decidiu. Uma viagem à Europa não estava em seus planos, exceto pela vaga promessa de uma cúpula com os europeus, justamente em Roma, feita a Giorgia Meloni. (Trump e a sua esposa estarão presentes no funeral do Papa Francisco. Nota do IHU)
Outros possíveis cruzamentos são muitos. Volodymir Zelensky? Ninguém diria não a ele. E se Vladimir Putin pedisse para vir? Idem – e ninguém o prenderia apesar do Tribunal Penal Internacional. Ambos alinhados na Praça São Pedro, sem se olharem e sem se falarem? Ou uma oportunidade para um encontro cara a cara? Altamente improvável, mas não com a imaginação no poder, como costumava se dizer em 1968. Do alto do céu, o Papa Francisco sorriria.
O Papa, como se sabe, não tem divisões. Mas seu poder terreno, desarmado, remonta a um longo caminho, aos primeiros séculos da Igreja de Roma, quando o Papa Leão, o Grande, deteve Átila no Mincio e poupou a Itália da invasão dos hunos. Isso foi em 452 d.C. Passaria cerca de um milênio e meio antes que Joseph Nye inventasse o “soft power”. Sem saber disso, o Trono Pontifício nunca deixou de exercê-lo. Às vezes, com uma boa dose de “hard power” temporal. Mas, no último século e meio, o poder do Vaticano tem sido desarmado, penetrante e, em parte devido à globalização, cada vez mais universal. Nos 12 anos de seu pontificado, o Papa Francisco o conduziu em uma direção quase que única: a paz no mundo. Justamente quando o mundo estava se embrenhando cada vez mais em um ciclo de guerras.
Mas o apelo de Bergoglio para depor as armas continuou a ressoar impertérrito em Gaza, na Ucrânia, no Sudão, no Congo, em toda parte.
Pela paz na Ucrânia, o Papa se esforçou tanto na forma quanto na substância.
Foi até o embaixador russo junto à Santa Sé, Alexander Avdeev, no dia seguinte ao início da invasão russa na Ucrânia. Em diplomacia, isso não se faz – não se vai, convoca-se – mas para Bergoglio era um gesto franciscano apaixonadamente contra a guerra, infelizmente sem sucesso. Depois, às vezes, ele quase pareceu aceitar a lógica de Moscou, atribuindo a responsabilidade à OTAN – que, contudo, não tinha a Ucrânia na tela em fevereiro de 2022. Como ele disse desde o início, foi uma “tentativa de mediar o conflito após o ataque de Moscou”. À medida que a guerra continuava, sua mensagem se tornou cada vez mais de solidariedade e empatia com o “martirizado povo ucraniano”. Também pela desproporção dos ataques e bombardeios russos contra alvos civis que tornam Moscou injustificável. Mas o Pontífice sempre manteve a visão ecumênica da Rússia e da Ucrânia enquadradas em uma única perspectiva, não em campos opostos.
Por dois motivos. Primeiro, para se comunicar com Putin – não muito diferente do que Trump tenta fazer, embora por motivações diferentes. Segundo, porque o Papa Bergoglio tem sido um intérprete perfeito e convicto de um ecumenismo católico que encontra um habitat natural no mundo globalizado. Há uma clara cesura internacional entre seu papado e o de seus predecessores imediatos, Bento XVI e João Paulo II. Especialmente este último: Wojtyla foi o Pontífice do fim da Guerra Fria. Ele foi profundamente europeu e ocidental. Bergoglio, latino-americano, não se identifica mais com o Ocidente. Ele reconhece a Rússia como o agressor, não chega a pedir à Ucrânia para oferecer a outra face, mas gostaria de uma reconciliação entre os dois países, apesar de o erro estar do lado de Moscou. Como bispo de Buenos Aires, Bergoglio travou batalhas pelos direitos e liberdades civis. Na arena internacional, para o Papa Francisco, defender a linha entre democracia e autocracia empalidecia diante da paz, um valor universal a ser buscado na Ucrânia, no Oriente Médio e na África. Ele se despendeu até o fim. “Faltou-lhe sorte, não valentia”. O bastão passa para quem o sucederá na visão do mundo a partir do Trono de São Pedro.