21 Setembro 2018
“Os cortes devem ser nos desperdícios, mas a solidariedade nunca deve ser cortada.” Foi o que disse o Papa Francisco na audiência da manhã dessa quinta-feira, 20, no Vaticano, aos membros da Associação Nacional dos Trabalhadores Mutilados e Inválidos do Trabalho (Anmil, na sigla em italiano), que há 75 anos reúne e apoia aqueles que sofreram mutilações ou ficaram inválidos no trabalho e que se esforça para promover uma cultura e uma prática atentas à saúde e à segurança.
A reportagem é publicada por Vatican Insider, 20-09-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“A escassez de recursos, que preocupa, com razão, os governos, certamente não pode tocar âmbitos delicados como esse”, disse o pontífice, expressando sua proximidade “àqueles que, no trabalho, feriram-se com consequências permanentes e debilitantes”, razão pela qual “vivem uma situação de sofrimento particular, especialmente quando a deficiência que portam os impede de continuar trabalhando e provendo para si mesmos e para seus entes queridos, como faziam antigamente”.
Francisco convida a “superar a falsa e prejudicial equivalência entre trabalho e produtividade, que leva a medir o valor das pessoas com base na quantidade de bens ou de riqueza que produzem, reduzindo-as a engrenagem de um sistema e degradando a sua peculiaridade e riqueza pessoal”. “Esse olhar doente – afirma – contém em si mesmo o germe da exploração e da subserviência, e se enraíza em uma concepção utilitarista da pessoa humana.”
Elogiando o compromisso “nobre e essencial” e “incansável” da Anmil em favor dos direitos dos trabalhadores, começando pelos mais fracos e menos protegidos, como “muitas vezes são as mulheres, os mais idosos e os imigrantes”, o papa sublinhou que “o nosso mundo precisa aqui de uma sacudida de humanidade, que leve a abrir os olhos e a ver que quem está na nossa frente não é uma mercadoria, mas uma pessoa e um irmão em humanidade”.
Daí um lembrete a toda a sociedade do “dever de reconhecimento e ajuda concreta aos que se feriram no desempenho da atividade laboral”. “A indispensável dimensão assistencial não esgota as tarefas da sociedade e da própria associação, que, em seu estatuto, prevê que se busque a inserção ou a reinserção profissional e social, e está atenta a que a solidariedade sempre se conjugue com a subsidiariedade, que representa a sua completude, de modo que se permita que cada um ofereça ao bem comum a sua própria contribuição”, acrescentou o Papa Bergoglio.
Ele também indicou o magistério social da Igreja como fonte de inspiração para o trabalho da Anmil, especialmente pelos seus constantes apelos ao ‘equilíbrio entre solidariedade e subsidiariedade”, que, disse, “deve ser buscado e construído em cada circunstância e âmbito social, de modo que, por um lado, nunca falte a solidariedade e, por outro, não nos limitemos a ela apassivando aqueles que ainda podem dar uma importante contribuição ao mundo do trabalho, mas que sejam envolvidos ativamente, frutificando as suas capacidades”.
Em conclusão, o Papa Francisco também recordou a sinergia da associação com as instituições civis e, em particular, com o Ministério do Trabalho italiano e com o da Educação, Universidade e Pesquisa, em projetos de formação voltados a estudantes de escolas e trabalhadores, gestores e responsáveis das empresas, voltados a conscientizar ainda mais sobre as “exigências da segurança e da proteção da saúde dos trabalhadores”.
“Essa constante atenção ao âmbito legislativo, bem do compromisso solidário”, revela a consciência de que “a criação de uma nova cultura do trabalho não pode abrir mão de um quadro legislativo mais adequado, que responda às reais exigências dos trabalhadores, além de uma consciência social mais profunda sobre o problema da proteção da saúde e da segurança, sem a qual as leis permaneceriam como letra morta”, evidenciou Francisco.
E concluiu observando que as batalhas sobre a saúde e a segurança nos locais de trabalho “não dizem respeito apenas àqueles que foram vítimas do trabalho ou desempenham trabalhos perigosos e desgastantes, mas a todos os cidadãos, porque, junto com a cultura do trabalho e da segurança, está em jogo a própria substância da democracia, que se baseia no respeito e na proteção da vida de cada um”.
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O trabalho segundo o papa: os governos devem fazer cortes no desperdício, não na solidariedade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU