03 Junho 2024
Não são ingênuos, nem fanáticos. Não têm a raiva do extremismo verde, muito menos o interesse em se tornar instrumento de corporações ou partidos ecologistas por conveniência. São filhos deste tempo, são vozes adultas, independentemente da idade, de uma Igreja que obstinadamente está do lado do homem. E, portanto, da Terra que é de cada criatura ao mesmo tempo mãe e irmã. Lendo a pesquisa “Viver a Laudato Si'” realizada pela rede ELSiA (Aliança Europeia Laudato Si') fica-se impressionados, tanto positiva como negativamente. Porque se por um lado os dados mostram que se está se fortalecendo progressivamente uma consciência cristã da proteção da casa comum, por outro lado, a pergunta é como é possível que essa sensibilidade ainda não tenha se tornado um patrimônio unânime, para além de pertenças religiosas e políticas, apesar dos lobbies e dos interesses de mercado.
A reportagem é de Riccardo Maccioni, publicada por Avvenire, 29-05-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
A pesquisa, que envolveu mais de 283 organizações católicas de 20 países europeus, avaliava o impacto que a encíclica Laudato si' do Papa Francisco teve no mundo católico do continente. E que efeitos resultaram, e quão importantes, estão à vista de todos, interessa cada um de nós.
Basta pensar na primeira vez “revolucionária” de um Pontífice que trata com uma abordagem tão ampla e competente a questão ambiental ou à absoluta novidade do conceito de “ecologia integral”, com sua ênfase nos impactos devastadores que a natureza ofendida tem sobre a dignidade dos últimos, dos excluídos. Mas não menos envolvente é o destaque das responsabilidades, também aqui positivas ou negativas, dos gestos pessoais da vida cotidiana.
Da atenção ao consumo de água à reciclagem do papel, da coleta seletiva de resíduos ao desligamento de luzes desnecessárias, até ações mais sociais, como plantar árvores ou a melhoria do sistema de transporte público para reduzir o uso de veículos particulares. Comportamentos, especialmente aqueles de maior impacto coletivo, que compõem as respostas ao questionário da pesquisa ELSiA. Ao lê-los parece estar diante de uma agenda virtuosa que, se implementada em conjunto pela comunidade internacional, permitiria travar a doença da casa comum e provavelmente inverter a tendência.
Entre as iniciativas assumidas pelos movimentos católicos estão, de fato, o empenho em reduzir as emissões de dióxido de carbono em 60% até 2030, o desinvestimento em combustíveis fósseis, o uso cada vez maior de painéis solares e sistemas de energia renovável. Um empenho que na Itália está se traduzindo na criação das Comunidades energéticas renováveis (Cer) para as quais a CEI preparou um Vade-mécum preciso e detalhado que, ao reiterar como não pode haver desenvolvimento econômico autêntico sem sustentabilidade no longo prazo, reitera que as preocupações ambientais não devem traduzir-se em uma maior marginalização dos pobres, sob o peso, por exemplo, de custos demasiado elevados para a implantação de estruturas voltadas para a transição ecológica.
Considerados no seu conjunto, todos esses dados significam que no continente europeu a Laudato si' está fazendo cultura, acelerou a virada, desencadeou uma reflexão que é, em alguns aspectos, nova. De qualquer forma, mais orientada de baixo, ou seja, não permite que ninguém tire os olhos dos pobres, de quem paga as maiores consequências, em termos de rendimento, doença, proteção do próprio território, abuso indiscriminado do planeta. Mas para que essa abordagem possa resultar eficaz, precisa ser assumida por uma comunidade, a mais ampla possível.
Assim, entre os frutos maduros da encíclica de Francisco destacados pela pesquisa realizada pela ELSiA, ressaltam o envolvimento participativo de múltiplas entidades em conjunto e a colaboração encorajadora de grupos não só religiosos, mas também não religiosos. Afinal, a Terra é mãe e irmã de todos, que sejam os crentes a motivar e, muitas vezes, liderar o movimento para sua proteção é quase óbvio. Está, como se costuma dizer, no DNA do cristão que, como reza uma das mais belas páginas do Evangelho, sabe que por mais que gaste com roupas, maquiagens e acessórios, nunca conseguirá igualar a elegância, frágil e maravilhosa, dos lírios do campo.
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Os frutos maduros da Laudato Si' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU