22 Abril 2025
Após me certificar de que o ChatGPT sabia da transvivência do Papa Francisco, solicitei-lhe: “Em aproximadamente três mil palavras, quero que tu faças um resumo dos ensinamentos principais deste pontífice. Podes redigir na forma de artigo de opinião e pretendo publicar num site de notícias e entrevistas no Brasil”.
A ferramenta de inteligência artificial produziu o artigo a seguir, em que afirma, entre outras coisas, que Francisco representou uma mudança de eixo geográfico e simbólico. Para o ChatGPT, este pontífice, vindo da América Latina, “trazia em si a marca das ditaduras militares, da pobreza urbana, das comunidades eclesiais de base e da teologia do povo. Essa bagagem influenciou sua forma de ver o mundo e a missão da Igreja” e, completou, “o grande ensinamento de Francisco talvez tenha sido este: o cristianismo não é uma doutrina fria, mas um encontro vivo com a ternura de Deus. Ele insistia que a fé deve se traduzir em alegria, cuidado, acolhimento e compaixão”.
O artigo é elaborado por ChatGPT. A edição é de Isaque Gomes Correa.
A morte do Papa Francisco, ocorrida em 21-04-2025, encerra um capítulo singular e profundamente humano na história da Igreja Católica. Jorge Mario Bergoglio, argentino, jesuíta, latino-americano e o primeiro Papa a adotar o nome do Pobrezinho de Assis, foi um pontífice que optou, desde o início, pelo caminho da simplicidade e da proximidade com os mais vulneráveis. Sua morte deixa um vazio, mas também um legado vasto, que merece ser revisitado com atenção, respeito e espírito crítico.
Este artigo de opinião tem como objetivo apresentar, de forma ampla e reflexiva, os principais ensinamentos de Francisco – não apenas enquanto doutrina, mas como prática concreta de um líder religioso que procurou fazer do Evangelho uma experiência vivida no tempo presente.
Desde sua primeira aparição pública, na varanda da Basílica de São Pedro, em março de 2013, Francisco apresentou-se como “Bispo de Roma” e não como um soberano espiritual. Esse detalhe não foi acidental: ele sinalizava a escolha por uma Igreja menos institucional e mais pastoral. A famosa frase “quero pastores com cheiro de ovelha” tornou-se símbolo dessa visão: uma liderança eclesial que caminha junto com o povo, que escuta, que compartilha alegrias e dores.
Esse princípio moldou toda sua forma de governar e de ensinar. Ele fez do exemplo sua principal linguagem. Recusou os palácios, os anéis de ouro, os tronos, e preferiu a Casa Santa Marta como residência. Fez visitas inesperadas a presos, refugiados, catadores de lixo, enfermos e vítimas de tragédias. Seu magistério se dava tanto pelos documentos quanto pelos gestos – e estes falavam alto.
Um dos pilares do pontificado de Francisco foi a centralidade da misericórdia. Em diversas ocasiões, ele afirmou que Deus “nunca se cansa de perdoar, mas nós às vezes cansamo-nos de pedir perdão”. Esse ensinamento, simples e profundo, orientou a convocação do Ano Santo da Misericórdia (2015-2016) e motivou inúmeras decisões pastorais, como a ampliação da possibilidade de absolvição de pecados tradicionalmente reservados à Santa Sé, como o aborto.
Para Francisco, o cristianismo não é, em primeiro lugar, uma moral rigorosa, mas uma experiência de encontro com um Deus que ama, acolhe e perdoa. Essa ênfase provocou reações entre setores mais conservadores da Igreja, mas também reavivou a fé em milhões de pessoas que se sentiam excluídas ou culpabilizadas.
Inspirado nos textos do Concílio Vaticano II e na tradição latino-americana da “Igreja dos pobres”, o Papa Francisco propôs uma Igreja “em saída”, que não se acomoda nas estruturas institucionais, mas que vai ao encontro dos que sofrem. Esse conceito atravessa sua exortação apostólica Evangelii Gaudium (2013), talvez o documento programático mais importante de seu pontificado.
Ele convida bispos, padres e fiéis a abandonarem o “autorreferencialismo” e a redescobrirem a missão como serviço. Para ele, uma Igreja fechada em si mesma adoece. É preciso “sujar os pés” no caminho, aceitar o risco, dialogar com a cultura, com as periferias geográficas e existenciais.
Francisco foi um crítico contundente da lógica neoliberal, da idolatria do dinheiro e da exclusão social gerada por sistemas econômicos desiguais. Ele cunhou expressões fortes como “esta economia mata” e “preferência pelos pobres”, que não são apenas frases de efeito, mas reflexos de uma teologia comprometida com a justiça.
No documento Laudato Si’ (2015), ele ligou a crise ambiental à crise social, alertando que os mais pobres são sempre os mais atingidos pela degradação do planeta. Propôs uma ecologia integral que inclui respeito à criação, aos trabalhadores e às culturas indígenas.
Essa postura ampliou o alcance da Igreja no debate global, fazendo com que Francisco fosse ouvido por líderes políticos, jovens ativistas e intelectuais do mundo inteiro.
Outro traço marcante foi a disposição para o diálogo inter-religioso e intercultural. Francisco visitou países de maioria muçulmana, como o Iraque, assinou a Declaração de Abu Dhabi com o Grande Imã de Al-Azhar, encontrou-se com líderes judeus, budistas, hindus e até mesmo ateus.
Seu apelo à fraternidade humana foi consolidado na encíclica Fratelli Tutti (2020), em que propõe uma cultura de encontro e denuncia o populismo, o nacionalismo excludente, o racismo e a xenofobia. Para ele, a fé não deve ser barreira, mas ponte.
Esse ensinamento também se refletiu em sua abertura para com os grupos marginalizados dentro da própria Igreja: pessoas LGBTQIA+, divorciados recasados, mulheres vítimas de violência e povos indígenas foram acolhidos, ouvidos e respeitados. Ainda que a doutrina oficial tenha mudado pouco, o tom mudou muito – e isso tem impacto real na vida das pessoas.
Francisco enfrentou resistências internas para promover reformas estruturais. Desde a reorganização das finanças vaticanas até a revalorização dos sínodos, ele procurou descentralizar o poder, escutar as igrejas locais e fortalecer a corresponsabilidade.
A palavra “sinodalidade” tornou-se chave em seu governo. Ele via a Igreja como um povo que caminha junto, e não como uma pirâmide hierárquica. Promoveu consultas amplas, incentivou o protagonismo dos leigos, especialmente das mulheres, e criou instâncias de escuta inéditas.
No entanto, as reformas avançaram com lentidão, e alguns críticos apontaram a dificuldade de transformar estruturas milenares. Ainda assim, seu esforço plantou sementes que podem germinar no futuro.
Francisco representou uma mudança de eixo geográfico e simbólico. Vindo da América Latina, trazia em si a marca das ditaduras militares, da pobreza urbana, das comunidades eclesiais de base e da teologia do povo. Essa bagagem influenciou sua forma de ver o mundo e a missão da Igreja.
Ele não buscou “europeizar” sua visão, mas convidou a Europa a redescobrir sua alma. Deu visibilidade à África, à Ásia e à América Latina, condenou o colonialismo e valorizou a sabedoria popular. Foi, nesse sentido, um papa global em sua sensibilidade e local em sua escuta.
Como qualquer liderança complexa, o pontificado de Francisco não esteve isento de limitações. Muitos esperavam avanços mais rápidos e contundentes na inclusão das mulheres, na luta contra os abusos sexuais e na democratização da Igreja.
Sua linguagem popular, às vezes informal, causou polêmicas e más interpretações. Seus gestos foram celebrados por muitos e contestados por outros tantos. É natural: um papa que se move provoca reações. Um papa que fala do Evangelho como subversão do poder e riqueza inevitavelmente incomoda estruturas consolidadas.
No fim das contas, o grande ensinamento de Francisco talvez tenha sido este: o cristianismo não é uma doutrina fria, mas um encontro vivo com a ternura de Deus. Ele insistia que a fé deve se traduzir em alegria, cuidado, acolhimento e compaixão.
Mais do que dogmas, ofereceu testemunho. Mais do que respostas, propôs escuta. Mais do que mandamentos, viveu o amor.
Seu legado é um chamado: a Igreja deve ser casa de portas abertas, hospital de campanha, mãe e mestra, mas nunca juíza distante. Sua voz ecoará ainda por muitos anos, não apenas nos arquivos do Vaticano, mas na memória afetiva de um povo que viu, em Francisco, um pastor de verdade.
O Papa Francisco nos ensinou que é possível ser fiel à tradição sem ser prisioneiro do passado. Ele nos mostrou que o Evangelho pode ser atual, transformador, politicamente engajado sem ser partidarizado.
Ao chorarmos sua partida, não o fazemos apenas com saudade. Fazemo-lo também com gratidão. Porque, ao longo de doze anos, ele nos ajudou a enxergar o rosto misericordioso de Deus – e isso ninguém poderá apagar.