#sofrer. Artigo de Gianfranco Ravasi

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28 Março 2025

"Mais do que a alegria, talvez seja a dor a verificação suprema de um amor puro, absoluto e total", escreve o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, em artigo publicado em Il Sole 24 Ore, 23-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Se alguém sofre, a dor é totalmente sua, ninguém mais pode tomar para si uma mínima parte dela; que, se alguém sofre, os outros não vão sofrer por isso, ainda que o amor seja grande, e é isso o que causa a solidão da vida.

Era 1940 quando foi publicado, mas atravessou muitos anos em reedições contínuas e tem sido uma leitura absorvente para muitos. Estamos falando de Deserto dos Tártaros, de Dino Buzzati. Amarga é a experiência confessada pelo protagonista, o militar Giovanni Drogo, doente e sozinho naquela fortaleza distante, nos confins do país, em uma misteriosa estepe.

Infelizmente, sua convicção é frequentemente confirmada: quando você sofre, a dor é sua, e os outros não podem carregar nem mesmo uma parte dela em seus ombros. No máximo, eles ouvem seu lamento, adotam uma atitude de consolo e respiram quando saem da sala e de sua atmosfera pesada.

O sofrimento, de fato, gera solidão. Era novamente Buzzati em um terrível conto autobiográfico, I due autisti (Os dois motoristas), que escreveu: “Toda verdadeira dor está escrita nas placas de uma substância misteriosa, em comparação com a qual o granito é manteiga. E uma eternidade não é suficiente para apagá-la”.

Tendo dito isso, é necessário, por outro lado, desmentir o escritor. Existe “um grande amor” que é capaz de entrar em simbiose com a dor do ser amado, em plena “sim-patia”, ou seja, em um padecimento que é ao mesmo tempo terno e intenso. Acredito que todos nós já tivemos a oportunidade de ver esse entrelaçamento de almas e corpos entre uma mãe e seu filho doente, entre um marido que aperta a mão de sua mulher deitada no leito, sofrendo de uma doença atroz. Esse é o milagre do amor, talvez mais comum do que o tenente Drogo acreditasse. De fato, mais do que a alegria, talvez seja a dor a verificação suprema de um amor puro, absoluto e total.

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