21 Fevereiro 2025
Milhares de pessoas estão fugindo para o Burundi, deixando para trás a guerra no leste da República Democrática do Congo (RDC). O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), que trabalha com as autoridades de Bujumbura para prestar assistência, explica que os fugitivos chegam ao posto de fronteira de Gatumba, perto da capital, exaustos e traumatizados. Muitos outros cruzaram pontos de fronteira não oficiais, por exemplo, ao longo do rio Ruzizi, e teriam se afogado ali. O país já abriga mais de 90.000 refugiados da RDC.
A reportagem é de Marinella Correggia, publicada por Il Manifesto, 19-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Enquanto isso, um oficial do exército de Burundi declarou a retirada de suas tropas da RDC, onde estavam lutando junto com as Forças Armadas Congolesas (Fardc) contra os milicianos do M23, apoiados por Ruanda. Além disso, teria se oficializado uma autodenominada Frente de Libertação do Burundi, de etnia tutsi, para a derrubada do poder em Bujumbura.
Em Bukavu, a cidade de Kivu do Sul ocupada pelo M23 nos últimos dias, o braço político da milícia, a Alliance Fleuvue Congo (Afc), em um comunicado agradeceu à população “pelo acolhimento”, prometeu reorganizar o Estado, proibiu reuniões e pediu que continuassem a apoiar Afc/M23 “até o fim de nossa luta, que também é a de vocês”. A população começou a sair novamente para praticar a economia de subsistência.
“Os invasores já nos chamam de 'libertados': por quem e do quê, eu não sei. Estão abrindo à força os escritórios das várias instituições da província e estão se instalando”, escreve uma freira que vive em Bukavu para seus contatos. O missionário xaveriano Barthélemy Kabwana Minani lamenta mortos, feridos, saques e múltiplos desafios para o futuro, incluindo “a convivência entre os agressores, embriagados pelo triunfo, e as vítimas. Os habitantes de Bukavu se lembram da devastação causada pelo exército ruandês no passado”.
Não está claro quem decidiu a não-intervenção de fato das Fardc na cidade estratégica do Kivu do Sul, exceto por uma solicitação oficial da sociedade civil para que fossem evitados os confrontos urbanos. Certamente, a retirada de fato dos soldados (também caótica, com confrontos com grupos armados aliados que, ao contrário, pretendiam lutar, como os Wazalendo) levanta questões sobre a capacidade de resistência do governo de Kinshasa e do presidente.
Como e quando terminará uma das piores crises humanitárias do mundo, trinta anos de guerra com milhões de mortos e desabrigados? A diplomacia internacional está paralisada. A própria União Africana, em sua cúpula em Adis Abeba na sexta-feira e no sábado, embora pedindo um cessar-fogo e reafirmando a soberania da RDC, evitou uma condenação explícita da - poderosa - Ruanda (pedida apenas pela RDC e pelo Burundi). Houve grande tensão; a primeira-ministra congolesa recusou uma foto de grupo e uma coletiva de imprensa foi cancelada. Quanto à Comissão Europeia, ela não parece querer dar continuidade à resolução quase unânime do Parlamento Europeu que pede a suspensão dos acordos surreais com Ruanda para a exportação dos minerais congoleses. Ruanda, que semanas atrás assinou um acordo militar com a Turquia de Erdogan. E que ontem, em um comunicado oficial, suspendeu a cooperação para o desenvolvimento com a Bélgica, acusando-a de uma campanha “agressiva” de sabotagem com relação ao financiamento do desenvolvimento e de ter tomado partido. Com a RDC, é claro. Há duas semanas, o Kivu do Norte proclamou seu próprio governador, Erasto Bahati Musanga.
O mecanismo da administração paralela está em operação, assim como a propaganda. Em Goma, alguns jovens pró-M23 se manifestaram contra a missão da ONU (Monusco), em particular contra os soldados da Comunidade da África Austral (Sadc), reclamado os militares congoleses que estariam refugiados na base e pedindo a renúncia do presidente Félix Tshisekedi.
Por sua vez, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos escreveu: “O avanço das milícias M23, apoiadas por Ruanda, para o Kivu do Sul mergulhou a região em uma crise humanitária e de segurança”; e pede “a Ruanda e ao M23 que garantam o respeito aos direitos humanos”. Denuncia violências, inclusive a execução em Bukavu de três crianças (que haviam encontrado armas em um quartel), ataques a hospitais, prisões arbitrárias e perseguição.