02 Fevereiro 2023
“Um país imenso cheio de vida, este diafragma da África, atingido pela violência como por um soco no estômago, parece sem fôlego há muito tempo”.
A reportagem é de Fabrizio Floris, publicada por Il Manifesto, 01-02-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Assim que chegou a Kinshasa na tarde da última terça-feira, Bergoglio durante o primeiro compromisso público na capital da República Democrática do Congo (RDC) foi logo ao ponto: “É trágico que estes lugares ainda sofram de diversas formas de exploração. Depois do colonialismo político, explodiu um ‘colonialismo econômico’ – acrescentou o pontífice – igualmente escravizador. Assim este país extensivamente depredado, não consegue se beneficiar a suficiência de seus imensos recursos (...)”. O veneno da ganância tornou seus diamantes de sangue. É um drama diante do qual o mundo economicamente mais avançado muitas vezes fecha os olhos, os ouvidos e a boca. Que se abra caminho para uma diplomacia do homem para o homem, dos povos para os povos, onde no centro não esteja o controle das áreas e dos recursos, os objetivos de expansão e aumento de lucros, mas as oportunidades de crescimento das pessoas. Não podemos nos acostumar com o sangue que escorre neste país há décadas, ceifando milhões de vidas no desconhecimento de muitos".
Foi feriado nacional na República Democrática do Congo, pelo início de uma viagem que Bergoglio fez questão de realizar e repetidamente adiou e que excluirá a etapa de Goma. Segundo fontes locais, a cidade está atualmente cercada por rebeldes do movimento M23. Os confrontos também são relatados em Bambo, Kishishe, Kitshanga.
O objetivo não seria tomar as grandes cidades como Goma, Beni e Butembo, militarmente impossível, mas despovoar as zonas fronteiriças para ocupá-las. De fato, o primeiro problema de Ruanda é a densidade populacional (406 habitantes por quilômetro quadrado), o país é superpovoado (13 milhões habitantes) e depois há, como se sabe, interesses econômicos (o Congo é rico em recursos).
A tensão interna contra Ruanda está crescendo ("os tutsis podem ser sentido pelo cheiro") e o caos de grupos que se autodenominam de autodefesa (Mai-Mai) extorquindo uma população cada vez mais exasperada. Deste ponto de vista, a viagem do Papa a Goma poderia ter exacerbado as tensões mais do que atenuá-las, segundo Gian Paolo Pezzi, missionário comboniano, “porque se tivesse dito palavras claro sobre a guerra teria inevitavelmente que indicar as responsabilidades de Ruanda. Com efeitos perigosos.
Atualmente existem soldados da força internacional de paz no leste do Congo (Monusco-Nações Unidas), exércitos da Comunidade dos Estados da África Oriental (EAC) e cerca de 120 grupos rebeldes, mas os que geram mais violência são o M23 (Movimento 23 de março pró-ruandês) e a ADF (Forças Democráticas Aliadas, afiliadas ao Estado Islâmico). Além do exército regular do Congo (FARDC).
Muitos se perguntam se a força internacional dos países da África Oriental não seria um processo planejado para colocar as regiões orientais do Congo sob a administração militar de uma força na qual estivesse presentes os próprios estados agressores (leia-se Ruanda e Uganda). De fato, descobriu-se que tiveram (pelo menos até hoje) oficiais ruandeses no Estado-Maior da Força regional da Comunidade dos Estados da África Oriental. “As forças de paz da ONU se revelam impotentes e limitam-se a contar os mortos” segundo os representantes de todas as religiões presentes em Butembo.
Ontem numa passagem (muito aplaudida) do seu discurso às autoridades da RDC o papa também falou da luta dos congoleses "contra as tentativas desprezíveis de fragmentar o país".
Música para os ouvidos do presidente congolês, Felix Tshisekedi, que indicou em seu discurso o presidente de Ruanda, Paul Kagame, sem o nomear, como “responsável pelas atrocidades em curso "no silêncio da comunidade internacional". Francisco também lembrou que "o poder tem sentido só se for serviço” (nenhum aplauso).
Em Kinshasa dizem que "a vida é fácil", que aqui se encontra "o Congo fácil" porque não há guerra.
Na manhã da quarta-feira, se aproveitarão disso os 2 milhões de pessoas aguardadas pela missa na pista do aeroporto de Ndolo.
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O papa no Congo contra o veneno da ganância. “Milhões de mortos e o mundo rico fecha os olhos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU