10 Janeiro 2025
É o primeiro Natal sob a insígnia do conflito na Ucrânia. Onde tudo fala das hostilidades que chegam quase ao terceiro ano. Para celebrar a festividade ortodoxa, que de acordo com o calendário juliano recai em 7 de janeiro, Vladimir Putin escolhe a Igreja de São Jorge, o Vitorioso, na colina Poklonnaja, em Moscou, no parque dedicado à Grande Guerra Patriótica que levou à derrota do nazismo.
A reportagem é de Rosalba Castelletti, publicada por la Repubblica, 08-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ele participa da vigília cercado por veteranos do front ucraniano - eufemisticamente chamados de “membros do Distrito Militar do Norte” - e suas famílias. Pais com crianças nos ombros, meninas com véus rendados, que o presidente russo olha satisfeito.
“Nos dias de Natal, sentimos claramente, com todo o coração, o quanto são importantes para nós as tradições paternas e familiares, transmitidas de geração em geração”, afirma Putin em sua mensagem de votos natalinos à nação, louvando a Igreja Ortodoxa Russa por sua “contribuição significativa para fortalecer a instituição familiar, a educação dos jovens e o estabelecimento na sociedade de ideais e valores morais duradouros”. Em seguida, ele se junta ao Patriarca de Moscou e de toda a Rússia na Catedral de Cristo Salvador e lhe pede para abençoar cruzes e ícones. “Pretendo enviá-los como presentes a todos os nossos comandantes”. Retratam Vladimir I, o santo príncipe de Kiev e seu patrono, e terão “gravadas as suas iniciais”. “Acredito que nossos companheiros ficarão honrados em receber esses símbolos de fé consagrados pelo patriarca”, alegra-se seu porta-voz, Dmitry Peskov.
Em sua homilia, Kirill reitera que, enquanto o Ocidente está em colapso moral, a Rússia propõe “um caminho diferente e alternativo de desenvolvimento civil”. É por isso que “nos odeiam”, argumenta o patriarca, um fervoroso defensor da chamada Operação Militar Especial, em meio às velas acesas na catedral reconstruída na década de 1990, onde antes havia uma piscina depois que Iosif Stalin tinha mandado derrubá-la. “Mas eles não podem realmente nos sufocar, mesmo que tentem por meio de diferentes tipos de calúnias e criando bloqueios de todos os tipos para nos enfraquecer. Eles não terão sucesso porque Deus está conosco. Onde está Deus, está a vitória”, está convencido Kirill.
Entrevistado pela emissora de TV Rossija 1, o patriarca compara esse ódio, que, segundo ele, está na raiz do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, a uma “intoxicação”, “uma anestesia”, “um sono” do qual, mais cedo ou mais tarde, a gente se despertará, percebendo que “tudo era uma ilusão”. E ele reitera: “Há também crimes políticos que levaram a colocar duas nações fraternas uma contra a outra em uma luta interna”.
No entanto, ele não menciona que foi a Rússia que agrediu a Ucrânia em fevereiro de 2022. Isso é lembrado pelo primaz da Igreja Ortodoxa Ucraniana, o Metropolita Onufrij de Kiev e de toda a Ucrânia, que desde 2023 antecipou a celebração do Natal para 25 de dezembro a fim de se distanciar de Moscou: “Infelizmente”, diz ele, “nem todos lutam pela paz. Há aqueles que, em vez da paz, agitam as armas, iniciam guerras, roubam e destroem os outros”.
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Putin na igreja para o Natal ortodoxo pede para abençoar os ícones a serem enviados ao front - Instituto Humanitas Unisinos - IHU