Entre Moscou e Kiev, o Natal da discórdia. Artigo de Luigi Sandri

Foto: Olena Znak | Anadolu Agency

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09 Janeiro 2024

"De fato, num emaranhado insolúvel de motivações históricas, religiosas e políticas, a data do Natal tornou-se mais um motivo de ódio teológico entre Kiev e Moscou. E assim, os votos do Papa ontem às Igrejas Orientais que celebravam o Natal foi, de fato, zombado pela Igreja Ucraniana autocéfala, que celebrou a festa no estilo ocidental treze dias atrás", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 20-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Um Natal triste e ao mesmo tempo de revanche contra os ucranianos, aquele celebrado ontem em Moscou pelo patriarca russo Kirill, que reiterou a acusação de ser "cismático" contra o Patriarca de Constantinopla, por ele considerado culpado de ter por fim abençoado o nascimento da Igreja Autocéfala Ucraniana (CAU). Aquela Igreja que, para irritar os russos, antecipou para 25 de dezembro, ao uso ocidental, a celebração do Natal.

Para entender a disputa em curso, é preciso voltar na história. Praticamente todas as Igrejas desde sempre celebraram o Natal no dia 25 de dezembro, data não indicada pelos Evangelhos, que não a especificam, mas por fim escolhida para “cristianizar” uma festa pagã dedicada ao sol. Mas em 1582 Gregório XIII decidiu modificar o calendário juliano em uso (introduzido por Júlio César), para substituí-lo por um que, daquele pontífice, recebeu o nome de "gregoriano". Isso foi decidido porque, segundo os astrônomos de Papa, o calendário juliano, embora preciso, “perdia” um dia aproximadamente a cada cento e trinta anos.

A Ortodoxia rejeitou a mudança, e hoje está “para trás” de treze dias: de forma que, o 25 de dezembro caia ontem, quando segundo o calendário gregoriano era 7 de janeiro.

Após a revolução de 1917, o Estado soviético escolheu quase imediatamente o “novo” calendário, mas a Igreja Russa (como outras ortodoxas) manteve o juliano. Até 2022, também a CAU – reconhecida por Constantinopla em 2019, mas considerada cismática e ilegal pelo Patriarcado Russo –seguiu o calendário juliano; mas, depois, em polêmica com a Igreja Russa (que apoiou a "Operação Militar Especial" decretada pelo Presidente Vladimir Putin contra a Ucrânia), em 2023 o Presidente Ucraniano, Volodymyr Zelensky com o pleno apoio da CAU, decidiu que no seu país o Natal se comemoraria no dia 25 de dezembro, segundo o calendário gregoriano.

Uma normativa que Kirill definiu como ultrajante. De fato, num emaranhado insolúvel de motivações históricas, religiosas e políticas, a data do Natal tornou-se mais um motivo de ódio teológico entre Kiev e Moscou. E assim, os votos do Papa ontem às Igrejas Orientais que celebravam o Natal foi, de fato, zombado pela Igreja Ucraniana autocéfala, que celebrou a festa no estilo ocidental treze dias atrás.

Também ontem Francisco batizou um pequeno grupo de meninos e meninas: a cerimônia aconteceu justamente na Capela Sistina onde, um dia, será realizado o conclave que escolherá seu sucessor.

Sob o olhar severo do Cristo pintado por Michelangelo, e que verá de perto como os cardeais votarão para escolher o novo bispo de Roma, o cenário era sideralmente diferente: entre os pequenos batizados, alguns dormiam pacificamente, outros choravam, outros se agitavam porque estavam com fome.

Mas, como bom “avô”, Francisco tirou todas as mães de qualquer constrangimento: “Se os seus pequenos choram porque estão com fome, podem amamentá-los”. Será que o divino Buonarroti alguma vez teria imaginado essa variante na Capela Sistina, onde pintou o seu dramático “Juízo Final”?

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