A guerra dilacerou a ortodoxia ucraniana

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27 Agosto 2024

A decisão do parlamento ucraniano de cortar as relações da Igreja Ortodoxa Ucraniana ligada à Igreja Russa também agrava o conflito do ponto de vista religioso entre Kiev e Moscou. Até 1991, havia um exarcado na Ucrânia ligado à Igreja Russa. Depois, com a queda da URSS e o nascimento da Ucrânia independente, a Igreja Ortodoxa do país praticamente se dividiu em três.

A reportagem é de Luigi Sandri, publicada por L'Adige, 26-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini

A Igreja Ortodoxa Russa (IOR) ligada a Moscou, a mais forte em termos de número de bispos, paróquias e fiéis; o Patriarcado de Kiev independente, considerado cismático pela Igreja Russa; uma Igreja autocéfala muito pequena.

Em 2018, Bartolomeu, Patriarca de Constantinopla, “primus inter pares” entre os hierarcas da Ortodoxia, propôs que as várias Igrejas ucranianas se unissem em uma Igreja “autocéfala”, ou seja, independente. Em dezembro daquele ano, em Kiev, um “concílio da reunificação” tentou unir todas as igrejas do país; e depois Bartolomeu assinou o documento que deu origem à nova igreja.

Mas, de acordo com o Patriarcado de Moscou, essa era uma organização cismática e, por isso, cortou a comunhão eucarística com Constantinopla.

Na semana passada, a Verkhovna Rada (o parlamento) em Kiev declarou fora da lei a IOR, estipulando que dentro de alguns meses suas organizações deverão se integrar à Igreja autocéfala existente.

Para o governo de Kiev, a IOR está “em continuidade ideológica com o regime do Estado agressor, cúmplice de crimes de guerra e crimes contra a humanidade”; portanto, “as atividades da IOR na Ucrânia são proibidas”.

Pelo contrário, para Moscou (patriarcado e Kremlin), a decisão do parlamento ucraniano é uma “violação flagrante” do Direito Internacional e do princípio da liberdade religiosa. Agora, se Bartolomeu aprovar a escolha da Verkhovna Rada, se agravará irreversivelmente o conflito entre a segunda Roma (Constantinopla) e a terceira (Moscou).

Esse emaranhado também coloca em extrema dificuldade o Papa da primeira Roma, que está de alguma forma envolvido nessa diatribe: ele terá que tomar partido, provocando mais divisões.

Ontem, de qualquer forma, referindo-se à decisão ucraniana, o Papa de fato a contestou, afirmando que “as Igrejas não devem ser tocadas”. A própria Ortodoxia Mundial, composta por 14 Igrejas autocéfalas, será envolvida nesse contraste, causando mais uma divisão entre seus aproximadamente 250 milhões de fiéis em todo o mundo.

Essa divisão também se estenderá ao Conselho Ecumênico de Igrejas, cujo secretário-geral, Jerry Pillay, considerou “intolerável” que o patriarca russo Kirill tenha chamado a agressão russa contra a Ucrânia de “guerra santa”.

Estamos praticamente diante de uma crise possivelmente irreparável da ortodoxia; nesse contexto, ontem Bergoglio praticamente ficou do lado de Moscou.

A guerra na Ucrânia, que já causou milhares de vítimas (duzentas ou trezentas mil?) e imensas destruições materiais, complica-se com um contraste religioso, que também é fonte de mais tragédias.

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