Guerra na Ucrânia: Kiev insiste na ilusória "paz justa"

Foto: Jornal da USP

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21 Agosto 2024

O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy colocou a ofensiva em andamento em território russo no contexto de negociações para alcançar uma “paz justa”. No entanto, além das declarações, as condições para negociação ainda não parecem estar em vigor.

A reportagem é de Olivier Tallès, publicada por La Croix International, 20-08-2024.

Após meses de reveses lentos, mas constantes, contra forças russas mais bem equipadas e numerosas, a incursão ucraniana na região de Kursk chegou na hora certa para as autoridades de Kiev, que precisavam de boas notícias. "Esta operação contraria a narrativa pessimista sobre o rolo compressor russo, tanto internamente quanto com aliados ocidentais", observou a ex-diplomata Marie Dumoulin, agora chefe do programa europeu no think tank do Conselho Europeu de Relações Exteriores.

O presidente Volodymyr Zelenskyy justificou a incursão com um olhar para futuras negociações para alcançar uma “paz justa” com o agressor russo, que está ganhando terreno em Donbass a ponto de ameaçar uma das últimas cidades na região de Donetsk ainda sob o controle de Kiev: Pokrovsk. Em outras palavras, o objetivo seria chegar à mesa de negociações com alavancagem territorial e prisioneiros russos para trocar, ao mesmo tempo em que minaria a confiança do lado russo.

Depois de muito tempo rejeitando a ideia de negociar com o presidente russo Vladimir Putin, as autoridades ucranianas enfatizaram a busca por uma “paz justa” desde junho. “Os ucranianos querem mostrar que não são intransigentes”, acrescentou Dumoulin. Essa mensagem também foi direcionada à população ucraniana, cansada após dois anos e meio de conflito. “É necessário encontrar uma narrativa que ofereça uma perspectiva além da guerra sem fim, mesmo que a incursão na região de Kursk possa ajudar a reenergizar os espíritos”, disse ela.

Nenhuma concessão é possível sem o apoio da sociedade ucraniana

De acordo com as pesquisas, a população continuou a esperar pela vitória final em Kiev. A maioria continua se opondo ao abandono de territórios em troca de um tratado de paz (55%), embora esse número tenha diminuído constantemente desde o início da guerra, observou o Instituto de Sociologia de Kiev. “O presidente Zelenskyy não será capaz de fazer concessões sem o apoio da sociedade ucraniana”, acrescentou a pesquisadora Ioulia Shukan, professora da Universidade Paris Nanterre. O chefe de estado também especificou que qualquer potencial plano de paz seria submetido a um referendo.

Por enquanto, as condições necessárias para levar russos e ucranianos à mesa de negociações não estão prontas. As linhas de frente continuam mudando, e nenhum dos exércitos ganhou uma vantagem decisiva no campo de batalha. Todos os olhos estão voltados para a eleição presidencial dos EUA, resultando em um novo presidente e política. "Os russos estão convencidos de que os americanos detêm as chaves do conflito, e os ucranianos querem garantir garantias de Washington", disse Dumoulin.

Enquanto isso, ambos os lados permanecem entrincheirados em suas demandas. “Formalmente, meus contatos dizem que não querem abrir mão de nada — nem da Crimeia nem do Donbas”, observou um observador que preferiu permanecer anônimo. “Mas percebe-se um crescente senso de resignação entre alguns: eles se sentem capazes de se defender, mas não de retomar territórios perdidos e fortemente defendidos. Além disso, o exército tem problemas significativos de recrutamento.” O governo também questiona a capacidade da rede elétrica, 80% da qual foi danificada por mísseis russos, de suportar outro inverno.

Outra fonte de preocupação é o futuro do apoio militar ocidental. Além da incerteza nos Estados Unidos, a Alemanha, o segundo maior provedor de ajuda depois dos EUA, enviou um sinal negativo ao reduzir pela metade seu apoio financeiro a Kiev a partir de 2025. Com seus orçamentos fortemente deficitários, a França e o Reino Unido já estão lutando para cumprir suas promessas. “Outros países europeus já deram tudo o que tinham para dar e dificilmente podem fazer mais”, observou Léo Péria-Peigné, pesquisador do Instituto Francês de Relações Internacionais, que retornou recentemente de uma visita à Ucrânia.

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