30 Outubro 2024
"Mas é preciso dizer com humildade que o andamento desse Sínodo nos mostrou que o povo de Deus, hoje, ainda não está pronto para acolher novidades em relação à mulher no ministério, em relação à moral sexual e em relação à possibilidade de os presbíteros serem casados", escreve o monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado em La Repubblica, 28-10-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Ontem terminou o Sínodo dos Bispos organizado pelo Papa Francisco sobre o tema da sinodalidade. Foi um Sínodo muito diferente dos anteriores, com inovações substanciais: em um longo processo que durou vários anos, foi praticada a escuta dos fiéis, das igrejas locais, convidadas a expressar seus desejos de uma reforma da Igreja com parresia e liberdade ampliada. Os não católicos também foram convidados a se expressar, embora, na realidade, essa escuta não tenha ocorrido, assim como não ocorreu a escuta dos tradicionalistas e, em parte, dos jovens. Continua sendo verdade que, durante o curso do trabalho, se constatava uma diversidade e uma distância entre as expectativas: o papa e aqueles que eram designados a liderar o Sínodo declaravam que o propósito do trabalho era a afirmação da sinodalidade da igreja, enquanto o povo de Deus esperava respostas para algumas das demandas formuladas em relação à valorização da mulher na igreja e a uma visão moral da sexualidade que reconhecesse a nova antropologia dominante.
Alguns teólogos observaram que o Sínodo corria o risco de ser decepcionante, “um aborto”, com um resultado que não seria suportável, especialmente para as mulheres que se sentiriam tentadas a deixar a igreja, especialmente nos países do norte da Europa, onde as demandas das teólogas e das feministas são atestadas há décadas.
Agora, foi publicado o documento final aprovado por uma maioria esmagadora dos membros do Sínodo: é um texto dedicado à sinodalidade que leva em conta as fontes e interpreta os sinais dos tempos para que possa ser vivida hoje.
Esse documento é uma grande recuperação da mensagem do Concílio Vaticano II sobre a comunhão na igreja e podemos realmente nos alegrar por isso. Se esse texto for acolhido nas igrejas locais, nas comunidades católicas, poderemos ver uma conversão que tornará a igreja mais evangélica e mais capaz de ser um lugar de acolhimento e liberdade.
Mas é preciso dizer com humildade que o andamento desse Sínodo nos mostrou que o povo de Deus, hoje, ainda não está pronto para acolher novidades em relação à mulher no ministério, em relação à moral sexual e em relação à possibilidade de os presbíteros serem casados. E tenho certeza de que posso dizer que, nessas questões, o pastor é mais profeta do que o rebanho que luta para segui-lo. É verdade: esses caminhos de abertura não foram declarados fechados, mas eu gostaria de ver mais coragem.
Acima de tudo, gostaria de não se propusessem mudanças aparentes e não autênticas, que mais uma vez acabam colocando a mulher em uma condição de minoridade, exaltando-as apenas na aparência. Gostaria que não se continuasse a dizer palavras contraditórias para aqueles que sofrem sua marginalização da igreja por causa de sua relação com a sexualidade fora do casamento.
Que o Papa Francisco garanta essa liberdade de busca e isso será suficiente para nós.
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