A Igreja precisa redescobrir a humildade. Artigo de Enzo Bianchi

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09 Outubro 2025

"Estou convencido de que somente uma espoliação que leve a Igreja a abraçar não apenas a pobreza econômica possa garantir a permanência da fé na nossa terra! Uma espoliação que não seja somente moral, mas revelativa, cristológica, à imagem de Jesus, que cumpriu sua missão na Terra na pobreza, na humildade e na submissão, e não na supremacia sobre os poderes deste mundo", escreve o monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado em La Repubblica, 23-09-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Somente agora está chegando à Igreja institucional um debate na sobre a situação muito preocupante do catolicismo na Itália. Somente quem não tem memória pode deixar de lembrar que essa conscientização, que alguns já haviam alcançado há algumas décadas, era então julgada pela hierarquia como uma contestação aos arranjos da Igreja. Quem ousava dizer que a cristandade havia acabado (como havia declarado o teólogo Marie-Dominique Chenu na década de 1960) era chamado a ser coerente com a visão de grande parte do episcopado. Agora são os bispos que anunciam o “fim da cristandade”, ou seja, aquele arranjo social e cultural no qual a Igreja era a maioria e quase totalidade. Era a época, desde Constantino até meados do século passado, em que pertencer à Igreja e pertencer à sociedade civil eram uma só coisa.

A partir dessa constatação, surge o convite para que os cristãos se repensem como minoria e se sintam na situação da comunidade primitiva, da Igreja em sua origem. Mas considero isso uma grande ingenuidade: não se pode voltar a viver como as comunidades do Novo Testamento ou das décadas pré-constantinianas. Naquela época, os cristãos viviam em um mundo hostil. Como poderíamos reviver aquela situação? Mas, além de constatar a ingenuidade dos desejos e dos propósitos eclesiais, é preciso também se perguntar como é possível que a Igreja ainda se compraza em contar no mundo ocidental como “instituição muito importante” para os temas da paz e da justiça! Depois, nos entristecemos porque a Igreja já perdeu quase completamente sua capacidade de orientar a ética das massas nos temas da vida e da sexualidade.

Estou convencido de que somente uma espoliação que leve a Igreja a abraçar não apenas a pobreza econômica possa garantir a permanência da fé na nossa terra! Uma espoliação que não seja somente moral, mas revelativa, cristológica, à imagem de Jesus, que cumpriu sua missão na Terra na pobreza, na humildade e na submissão, e não na supremacia sobre os poderes deste mundo. Os jovens não estão mais presentes na Igreja não porque o cristianismo não ofereça caminhos de espiritualidade, mas porque não faz com que conheçam Jesus Cristo. Para sentir a urgência e a beleza do anúncio de Cristo aos outros, é preciso primeiro conhecer Cristo. Somente a diferença cristã pode fazer retroceder a indiferença niilista que reina em nossa sociedade. Os cristãos devem ter orgulho de proclamar que Jesus Cristo é o único Salvador do mundo!

Isso não significa, de forma alguma, que aqueles que não o conhecem ou que escolhem outros caminhos religiosos não sejam salvos por ele. O Novo Testamento testifica que Cristo deu sua vida por todos e quer que todos os seres humanos sejam salvos. Sem exclusivismo e sem ingenuidade. O Papa Francisco, que se inclinou para beijar os pés dos rejeitados deste mundo, certamente não partilha visões entusiásticas da igreja: ele gostaria que ela fosse uma suplicante do Reino de Deus.

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