20 Mai 2020
"E por que culpar o coronavírus, que apenas evidenciou - de maneira lamentável - o esvaziamento já em andamento? No entanto, já havíamos recebido sinais de alarme desde o Concílio Vaticano II, especialmente na Europa e em grande parte do Ocidente, onde muitas igrejas, mosteiros e seminários foram se esvaziando ou fechados. Nós os esnobamos como se não fossem dirigidos a nós e às nossas comunidades. Em vez disso, nos obstinamos em atribuir o esvaziamento a causas externas, sobretudo ao fenômeno da secularização - em suas várias dimensões e etapas -, sem perceber, como recentemente afirmado pelo Papa Francisco, que "não estamos mais em um regime de cristandade", escreve Mario Menin, missionário xaveriano, diretor da revista Missione Oggi, em artigo publicado por Viandanti, 15-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
No ano passado, antes da Páscoa, testemunhamos assombrados o incêndio da catedral de Notre-Dame em Paris. Este ano, participamos em streaming à Páscoa das igrejas vazias. Milhares de igrejas vazias! O que fazer? É discutido em todos os níveis. Os bispos italianos chegaram a levantar a voz com o governo para reabri-las para as celebrações com as pessoas. Por que esse frenesi de reabrir? Para voltar à normalidade? Qual, após essa pandemia? Não seria melhor, primeiro, ler esse esvaziamento como um sinal que vem de mais longe e mais alto do que o coronavírus? E se Deus - o Deus de Jesus Cristo, quero dizer - quisesse nos dizer algo precisamente com a linguagem absurda das igrejas vazias? Certamente é embaraçoso aceitar o esvaziamento de nossos espaços - e tempos - sagrados como um aviso profético.
Deveríamos ter olhos mais penetrantes, como aqueles dos profetas bíblicos, que viam além dos medos do povo, os anseios dos reis e o formalismo dos sacerdotes.
Deveríamos entrar em um processo de discernimento espiritual, ao qual, infelizmente, nossas comunidades cristãs não estão acostumadas, nem mesmo as de vida consagrada, muitas vezes prisioneiras de emoções e visões religiosas que têm pouco em comum com a escuta contemplativa e desarmante da palavra de Deus.
Um sinal de premonição. Por que não reconhecer nas igrejas vazias um sinal do que poderá acontecer em um futuro não muito distante, se não reformamos - mais evangelicamente – as nossas comunidades?
E por que culpar o coronavírus, que apenas evidenciou - de maneira lamentável - o esvaziamento já em andamento? No entanto, já havíamos recebido sinais de alarme desde o Concílio Vaticano II, especialmente na Europa e em grande parte do Ocidente, onde muitas igrejas, mosteiros e seminários foram se esvaziando ou fechados. Nós os esnobamos como se não fossem dirigidos a nós e às nossas comunidades. Em vez disso, nos obstinamos em atribuir o esvaziamento a causas externas, sobretudo ao fenômeno da secularização - em suas várias dimensões e etapas -, sem perceber, como recentemente afirmado pelo Papa Francisco, que "não estamos mais em um regime de cristandade..."
Talvez esse tempo de igrejas vazias possa nos ajudar a trazer à tona o vazio oculto em nossas comunidades, as nostalgias litúrgicas tridentinas, que tornam mais problemática a reconexão da Igreja à sociedade de hoje e a recuperação do atraso de "duzentos anos" denunciado pelo cardeal Martini.
Chegou a hora de refletir.
Talvez tenhamos nos preocupados demais - nós também, institutos missionários - em converter o mundo e pouco em converter a nós mesmos, colocando o Evangelho de Jesus Cristo no centro: "Pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, e perder-se ou destruir a si mesmo?". Deveríamos aceitar a atual abstinência de serviços religiosos e atividades pastorais como um kairós, uma oportunidade para um discernimento mais radical, diante de Deus e com sua Palavra.
Chegou a hora de refletir sobre como continuar o caminho da reforma, constantemente indicado a nós pelo Papa Francisco, com gestos e palavras inequívocas. Talvez devêssemos também dar mais crédito às palavras do Evangelho: "Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estou entre eles". Elas nos ensinam que os problemas das nossas comunidades não são tanto a falta de vocações ou a escassez de padres, mas uma nova maneira de ser Igreja, onde a ministerialidade dos leigos, das mulheres e das famílias seja reconhecida como constitutiva da própria Igreja. Por isso, devemos levar mais a sério as propostas do Sínodo Pan-Amazônico, mesmo na Itália. Aquele silêncio fantasmagórico que envolveu as liturgias solitárias dos últimos dois meses não estaria gritando o novo rosto - sinodal - da Igreja? Para quem toca o sino em tempos de igrejas vazias?
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Igrejas vazias. Para quem toca o sino? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU