22 Agosto 2024
A palavra a Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional: ‘Seu impacto em nível social está crescendo exponencialmente’.
“Os Jogos que recém terminaram foram uma excelente premissa ao que será o verdadeiro destaque de Paris 2024, as Paralimpíadas, é claro!” O brasileiro Andrew Parsons, à frente do Comitê Paralímpico Internacional desde 2017, bem como membro do COI desde 2018, lança a piada com um sorriso cujo componente de humor acaba sendo, na verdade, imediatamente submerso por outra coisa: a ambição firme e nada velada de tirar definitivamente o esporte para pessoas com deficiência da zona de sombra em que permaneceu preso no passado. Nesse sentido, mostrando-se já ao lado de personalidades como a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, ou o diretor de Paris 2024, Tony Estanguet, Parsons aplaudiu o desejo declarado da França de dedicar aos Jogos Paralímpicos “o mesmo nível de ambição das Olimpíadas”.
A entrevista é de Daniele Zappalà, publicada por Avvenire, 20-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os Jogos Paralímpicos ainda lutam para ganhar as manchetes das mídias. Em sua opinião, como se poderia resolver isso?
Certamente é preciso apostar no aumento da cobertura televisiva, como já será o caso de Paris 2024. Mas não podemos esquecer que a diferença de visibilidade que nos separa dos Jogos Olímpicos também está ligada ao fato de que o movimento olímpico já tem mais de um século de história. Nosso movimento, ao contrário, é muito mais jovem, tem menos de 40 anos. Nossa taxa de crescimento é boa e eu diria que hoje não estamos mais no cone de sombra das Olimpíadas. Pelo contrário, já estamos em uma fase de colaboração mútua frutífera com o evento esportivo número um. Portanto, em comparação com muitos outros movimentos esportivos, desfrutamos de uma situação muito invejável que nos oferece excelentes perspectivas de crescimento futuro. Temos, em resumo, o parceiro ideal para propiciar as mudanças que promovemos em escala mundial.
Qual foram os maiores progressos do movimento paraolímpico na última década?
Acho que nos tornamos um evento esportivo muito relevante. Provavelmente o terceiro mais relevante em escala planetária. Mas também fortalecemos nossos laços com o movimento internacional de direitos humanos. Portanto, além de sermos um evento esportivo empolgante de se acompanhar, somos também um movimento com um objetivo claro. E, pessoalmente, acredito que, em geral, o futuro do esporte estará na interseção entre o entretenimento e um empenho com um propósito humanístico.
Para Thomas Bach, à frente do COI, as Olimpíadas que recém terminaram foram de “uma nova era”. Uma virada que também afetará as Paralimpíadas?
Espero que sim, pois, como eu dizia, continuamos a crescer e esse contexto parisiense exaltará ainda mais o caráter espetacular de nossas competições. Certamente teremos um impacto ainda mais forte do que no passado, com mais pessoas em todo o mundo prontas para acompanhar os nossos atletas. Sim, pessoalmente, estou convencido de que chegamos a um ponto de virada, não apenas para o movimento paralímpico, mas também na percepção social da deficiência em escala global.
Devemos esperar surpresas durante esta edição?
Acima de tudo, eu diria, a evidência de termos atingido, como nunca antes, um novo patamar. Em comparação com nosso início ainda bastante recente, no final da década de 1980, já sentimos que podemos demonstrar que nosso movimento pode exercer uma influência real sobre os comportamentos, as percepções e as tendências na sociedade.
É realmente uma boa ideia organizar os Jogos Paralímpicos logo após as Olimpíadas?
Sim, acredito que é o melhor calendário e formato possível para nós. Em termos de infraestruturas, precisamos nos manter juntos. Além disso, como estamos vendo aqui em Paris, as Olimpíadas, um pouco como uma irmã mais velha, podem ajudar a despertar o máximo de interesse para o nosso evento.
Qual é a sua primeira ambição para esta edição em Paris?
A primeira meta, neste contexto parisiense, é iniciar um caminho duradouro para mudar as mentalidades sobre a nossa percepção geral do que significa uma pessoa com deficiência no mundo de hoje. Nesse grande desafio que está cada vez mais evidente para todas as sociedades, mesmo em continentes prósperos como a Europa, queremos ser vistos e compreendidos como o evento com o maior potencial de transformação do planeta.
Já estamos no caminho certo para erradicar os velhos estereótipos sobre deficiência e esporte?
Acho que sim, mas ainda temos uma montanha de trabalho pela frente para escalar. Obviamente, não é suficiente que um grande público se empolgue a cada dois anos, alternadamente, com os atletas paralímpicos nos Jogos de Verão e de Inverno. No último caso, aguardando Milão-Cortina 2026. A conexão entre esporte e deficiência deve permanecer relevante para as pessoas mesmo entre uma edição olímpica e outra. Se tivermos sucesso, estaremos realmente mais próximos de nosso objetivo final.
Em certas modalidades, os atletas com deficiência conseguem competir mesmo entre aqueles sem deficiência. São casos a serem valorizados?
Isso é extremamente importante, antes de tudo, para cada um desses atletas. Porque cada atleta, com ou sem deficiência, sonha em ir mais longe e entrar em um nível mais alto de competição. Mas ainda é um número muito restrito de modalidades ou categorias de provas. Além disso, em todos os casos, devemos permanecer vigilantes para garantir uma plena equidade esportiva.
Em uma cidade com um DNA revolucionário como Paris, você lançou um apelo para uma “revolução da inclusão”. O que entende?
Deveríamos ser capazes de mudar a maneira de perceber a toda a sociedade. Uma sociedade é para todos e deve ser construída por todos. Quando começamos nosso raciocínio separando as pessoas com deficiência das demais, já estamos cometendo um erro, não intencional e certamente de boa-fé. Nos Jogos Paralímpicos, ao contrário do que alguns ainda acreditam, o público não é, de forma alguma, composto principalmente por pessoas com deficiência. Em geral, são apaixonados por esportes de todos os tipos que vêm simplesmente para admirar e incentivar grandes atletas em ação. Esse é um bom começo para a revolução da inclusão.
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“As Paralimpíadas mudam o mundo”. Entrevista com Andrew Parsons - Instituto Humanitas Unisinos - IHU