08 Agosto 2024
"Os aiatolás, que na época de Khamanei sempre souberam como evitar trazer a guerra dentro de casa, refletem. A necessidade de salvar a cara, especialmente diante dos nervosos clientes do eixo da resistência, não pressiona a ponto de não preservar os territórios pátrios da guerra. Será que terá de pagar a conta Líbano, única vanguarda utilizável? No entanto, Nasrallah também deve ter cautela, estando diretamente associado a Teerã", escreve Riccardo Cristiano, jornalista, em artigo publicado por Settimana News, 07-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
A sutil discussão teológica sobre a guerra justa de acordo com Teerã ocorre sobre uma linha divisória muito instável: salvar a cara sem quebrar o pescoço. Assim se explica o conselho desinteressado e sincero de todos os jornais da frente reformista aos nervosos seguidores do aiatolá Khamenei: "cuidado com a casca de banana que Netanyahu jogou em seu caminho: não escorreguem sobre o cadáver de Hanyeh. O objetivo dele é fazer com que vocês sofram uma queda terrível. Calibrem a reação, como fizeram em abril".
O cartel dos falcões não sabe como contrastar essa leitura, a não ser com a urgência de vingar a vergonha sofrida, custe o que custar.
O apoio interessado aos reformistas veio com a visita oficial do russo Shoigu. Seu conselho, ao mesmo tempo em que assegura todo o apoio bélico possível, a começar pelos radares, indispensáveis diante de uma artilharia como a israelense, é não ceder ao instinto, saber esperar e não atingir alvos civis. O risco seria uma retaliação ruinosa, que os radares russos dificilmente poderiam, com poucas horas para a instalação, ajudar a conter.
Obviamente, Moscou também tem outros interesses, a começar pela base militar na Síria, que não gostaria de comprometer por causa de uma explosão nervosa iraniana. E ainda há o petróleo, cujo preço deve ser acordado com os astutos sauditas: espera, paciência, é o conselho de Moscou. E, acima de tudo, não atingir alvos civis.
Os aiatolás, que na época de Khamanei sempre souberam como evitar trazer a guerra dentro de casa, refletem. A necessidade de salvar a cara, especialmente diante dos nervosos clientes do eixo da resistência, não pressiona a ponto de não preservar os territórios pátrios da guerra. Será que terá de pagar a conta Líbano, única vanguarda utilizável? No entanto, Nasrallah também deve ter cautela, estando diretamente associado a Teerã.
A linha que Teerã está tentando traçar pode ser resumida na palavra "calibrar", especialmente enquanto se aguarda a cúpula islâmica de quarta-feira, com o objetivo de transferir alguns problemas de imagem para os sauditas. Será que eles não têm nada a dizer?
O dilema iraniano está todo aqui: como calibrar uma resposta que salve a cara e a dissuasão, sem produzir o efeito indesejado de uma guerra regional que colocaria em risco o que Teerã mais preza: seus poços de petróleo e seu programa nuclear, agora a um passo do objetivo que vem perseguindo há anos.
Por isso, alguns em Teerã chegam a dizer que Israel gostaria de ter uma reação instintiva, para acertar contas que foram mantidas em suspenso por muito tempo. Teerã conseguirá "recalibrar"? Com o passar do tempo, os moderados conquistam posições porque a pressa é uma má conselheira e, no final das contas, não salva a cara.
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A guerra justa de acordo com Teerã. Artigo de Riccardo Cristiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU