19 Junho 2024
A reportagem é publicada por Valores Religiosos e reproduzida por Religión Digital, 18-06-2024.
Setores religiosos reformistas nos Estados Unidos e na Alemanha, entre outros, promovem a formação de um diaconato feminino, o primeiro passo para a concessão do sacerdócio às mulheres dentro da Igreja Católica.
Menos extremas, outras posições propõem incluir um diaconato feminino não sacramental, em consonância com o ministério do leitorado ou acólito já oficializado, bem como um diaconato sacramental que não permite o acesso ao presbitério e ao episcopado.
Imagem: Praising © Mary Southard www.ministryofthearts.org/ Used with permission | Arte: IHU
Em mais de uma ocasião, o papa Francisco foi firme em sua decisão de não concordar em discutir a ordenação sacerdotal de mulheres.
Em 2016, durante um encontro com 900 superiores religiosos de todo o mundo no Vaticano, Francisco anunciou a criação de uma comissão para estudar o diaconato feminino, uma virada histórica.
"A Igreja deve envolver consagrados e leigas na consulta, mas também no processo decisório", disse. "Esse papel crescente das mulheres na Igreja não é feminismo, mas um direito de todos os batizados: homens e mulheres", refletiu na época. Uma comissão de estudos teológicos continua analisando a questão.
Em entrevista recente à rede americana CBS, referindo-se à segunda parte do Sínodo sobre as grandes mudanças da Igreja, que começou no ano passado e recomeça no final de setembro, o papa Francisco rejeitou categoricamente a discussão sobre essa questão.
"Se são diáconos com ordens sagradas, não. As mulheres sempre tiveram, eu diria, a função de diaconisas como ministras dentro das ordens." Ele se referia ao fato de que as mulheres podem celebrar casamentos, batizados e funerais; podem pregar, mas não dar missa. A consagração da Eucaristia e o perdão dos pecados no sacramento da confissão são apenas prerrogativa dos homens.
A Conferência sobre a Ordenação de Mulheres (WOC), dada a sua origem norte-americana, expressou a sua decepção. A instituição defende e reza por um novo status para as mulheres dentro da Igreja. Eles argumentam que Jesus incluiu muitos como parceiros de ministério, incluindo Maria Madalena, Maria de Betânia e Salomé, mas os 12 apóstolos escolhidos eram homens.
Read our response to Pope Francis on CBS: "No" to Women Deacons? https://t.co/7ln5xR3gpv#OrdainWomen
— Women's Ordination Conference (@OrdainWomen) May 21, 2024
Eles também afirmam que há testemunhos do cristianismo primitivo e das cartas de São Paulo sobre mulheres líderes de igrejas domésticas, sacerdotisas e bispos. Apelando para o fato de que a Igreja deve estar em sintonia com "os sinais dos tempos" (encíclica Gaudium et Spes) e que não haveria base nas Escrituras para proibir a ordenação de mulheres, eles lamentam que a exclusão das mulheres de cargos de autoridade eclesial leve ao descarte dos dons e talentos de mais da metade dos membros da Igreja, cerca de 1300 milhões de fiéis.
Promovem o que chamam de Ministério da Irritação, apelando analogamente à ação de um grão de areia que acaba dando origem a uma bela ostra, para fazer suas reivindicações serem ouvidas.
Note-se que no debate que a Igreja Anglicana teve no final do século passado, a questão do sacerdócio feminino foi amplamente abordada.
Atualmente há várias mulheres que exercem o ministério episcopal, que é teológico.Pressupõe a plenitude do sacerdócio. E na Igreja Católica hoje há mulheres que têm voz e votam no sínodo e algumas ocupam posições hierárquicas na Santa Sé.
O papel das mulheres no governo da Igreja foi um dos temas incluídos no documento preparatório para o Sínodo, por isso a OMB considera o "não" papal como "uma traição ao projeto sinodal de caminhar juntos". Refira-se que a possível abertura ao diaconato feminino tinha sido um dos pontos com mais votos de rejeição em outubro passado. Para este segundo caso, o papa removeu muitas questões controversas do tratamento.
O cardeal Jean-Claude Hollerin, arcebispo do Luxemburgo, alertou contra a "impaciência excessiva", uma vez que a polarização "levaria à morte da Igreja" e sublinhou que "a ordenação sacerdotal ou diaconato não é o único critério para a paridade".
O valor teológico da unidade confronta formas variáveis em diálogo com uma diversidade cada vez mais ampla. O debate, que já estava estabelecido nos primeiros séculos do cristianismo, ainda está em curso.
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O diaconato feminino será novamente debatido no Sínodo? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU