11 Junho 2024
A lendária selva tropical, antes um sumidouro de CO₂, começa a liberar carbono à medida que a mudança climática, o desmatamento e outras ameaças humanas a levam ao limite. Um grupo de especialistas tenta prever seu futuro.
A reportagem é Daniel Grossmann, publicada por El País, 09-06-2024.
Luciana Gatti olha sombriamente pela janela da pequena aeronave enquanto decola da cidade de Santarém, Brasil, no coração da selva amazônica oriental. A poucos minutos de voo, o avião passa sobre uma faixa de cerca de 30 quilômetros de devastação ecológica. É um mosaico de terras agrícolas, cheias de fileiras de milho verde esmeralda e áreas recentemente desmatadas onde antes havia floresta tropical. "É horrível. Muito triste", lamenta Gatti, climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais de São José dos Campos (Brasil).
Gatti faz parte de um amplo grupo de cientistas que tentam prever o futuro da selva amazônica. Os ecossistemas terrestres do mundo absorvem cerca de 30% do dióxido de carbono liberado pela queima de combustíveis fósseis. Os cientistas acreditam que a maior parte desse processo ocorre nas florestas, e a Amazônia é, de longe, a maior floresta contínua do mundo. Desde 2010, Gatti coleta amostras de ar sobre a Amazônia com aeronaves como esta, para monitorar quanto CO₂ está absorvendo. Em 2021, ela apresentou dados coletados em 590 voos que mostravam que a absorção da floresta amazônica - seu sumidouro de carbono - é fraca na maior parte de sua extensão. No sudeste da Amazônia, a floresta se tornou uma fonte de CO₂.
A descoberta fez manchetes ao redor do mundo e surpreendeu muitos cientistas, que esperavam que a Amazônia fosse um sumidouro de carbono muito mais forte. Na opinião de Carlos Nobre, climatologista do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (Brasil), a mudança estava ocorrendo muito cedo. Em 2016, usando modelos climáticos, ele e seus colegas previram que o desmatamento desenfreado, combinado com a mudança climática global, acabaria empurrando a selva amazônica além de um "ponto de inflexão", transformando o clima em uma vasta área da Amazônia. Nesse ponto, as condições necessárias para manter uma floresta densa de copa fechada deixariam de existir. Segundo Nobre, que foi um dos 12 coautores do artigo de 2021 junto com Gatti, as observações da cientista brasileira parecem mostrar os primeiros indícios do que ele previu que aconteceria em duas ou três décadas. Outra grande incógnita é se a selva ainda pode ser salva reduzindo o aquecimento global, interrompendo o desmatamento amazônico e restaurando suas terras danificadas, algo que Nobre acredita ser possível.
A desflorestação em larga escala é a ameaça mais visível para a Amazônia, mas a floresta sofre de outras maneiras menos evidentes. Erika Berenguer, ecologista da Universidade de Oxford e da Universidade de Lancaster (Reino Unido), descobriu que até mesmo a parte da floresta intacta já não é tão saudável como antes, devido às mudanças climáticas e aos efeitos da agricultura que se estendem para além dos limites das explorações. No início deste ano, uma grande equipe internacional de pesquisadores, incluindo Berenguer, relatou que essas mudanças afetavam 38% da Amazônia ainda intacta.
Gatti visitou Santarém pela primeira vez no final dos anos noventa, quando a maioria da agricultura nesta parte da Amazônia era praticada por pequenos agricultores para subsistência. Agora, ela está surpresa com a magnitude da destruição que assolou a floresta. Ao passar sobre uma enorme área recentemente devastada da Amazônia, a voz de Gatti é ouvida pelo intercomunicador da aeronave. "Estão acabando com a floresta para transformar tudo em soja".
A avioneta que coleta amostras de ar para Gatti está abrigada em um enorme hangar no aeroporto de Santarém. Em um dia chuvoso de maio, ela se reúne lá com Washington Salvador, um de seus pilotos regulares. Gatti revisa as robustas malas de plástico que lhe foram enviadas para Santarém e que ela guarda em seu pequeno escritório no aeroporto. Dentro delas, envolvidos em papel espuma, há 12 frascos de vidro do tamanho e forma de garrafas de refrigerante de um litro.
Gatti não precisa acompanhar Salvador quando ele coleta as amostras. É uma sorte, pois ela fica enjoada em aviões. Os pilotos que trabalham com ela voam duas vezes por mês para um local específico de amostragem em cada quadrante da bacia amazônica. Depois de atingirem uma altitude de cerca de 4.420 metros sobre um ponto de referência, o piloto pressiona um botão, abre as válvulas e liga um compressor que enche o primeiro frasco com ar do exterior através de uma válvula. Em seguida, eles entram em uma espiral pronunciada e estreita ao redor do ponto de referência, coletando mais 11 amostras, cada uma em uma altitude específica. Na altitude final, o piloto praticamente sacode as copas das árvores, às vezes a apenas 100 metros do solo.
Depois, a cientista medirá a quantidade de CO₂ nas amostras em seu laboratório no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Ela calculará quanto a floresta absorve (ou libera) comparando suas medições com as feitas sobre o Oceano Atlântico.
Scott Denning, um cientista atmosférico da Universidade Estadual do Colorado em Fort Collins que colaborou com Gatti, afirma que a pesquisa da cientista foi um “projeto logisticamente impressionante. A beleza do trabalho de Luciana, e também sua dificuldade, é que ela o fez repetidamente, a cada duas semanas durante 10 anos”.
Algumas das forças que estão transformando o bioma amazônico se exibem no porto de Santarém, onde um trio de silos de oito andares se eleva sobre o mercado de peixes da cidade. Cada silo pode conter até 20.000 toneladas de milho ou soja, à espera de serem enviadas para outras partes do Brasil e, em seguida, para todo o mundo. Em 2017, mais de 13% da floresta amazônica havia sido desmatada, em grande parte para a pecuária e os cultivos. Quase dois terços desse bioma estão no Brasil, que até aquele ano já havia perdido mais de 17% dessas florestas, e cujas taxas de desmatamento dispararam em 2019 durante o governo do então presidente, Jair Bolsonaro.
Supõe-se que o Código Florestal do Brasil proteja as florestas do país. Uma disposição-chave exige que, na Amazônia, 80% de qualquer parcela, uma porção conhecida como Reserva Legal, deva ser mantida intacta. Mas muitos cientistas e ativistas florestais afirmam que a frouxidão na aplicação da lei torna muito fácil burlá-la, e que as multas por descumprimento não são uma dissuasão eficaz porque raramente são pagas. Além disso, frequentemente são obtidos títulos de propriedade de terras públicas ou indígenas que são ocupadas e desmatadas ilegalmente, através de um processo denominado grilagem de terras. Philip Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia em Manaus, afirma: “O Brasil é basicamente o único país onde ainda se pode entrar na floresta, começar a desmatar e esperar sair com um título de propriedade. É como o Velho Oeste da América do Norte no século XVIII”.
A uma hora de viagem de carro de Santarém, o chefe indígena da minúscula aldeia de Açaizal, na reserva conhecida como Terra Munduruku do Planalto, está sentado em uma varanda para poder vigiar os forasteiros que passam em seus veículos. Josenildo Munduruku — como é habitual, seu sobrenome é o mesmo que o nome de sua tribo — conta que, há décadas, colonos não indígenas começaram a estabelecer pequenas propriedades em terras que ele e seus antepassados ocuparam por gerações. Ele afirma que construíram casas e abriram pastos para o gado sem nunca pedir permissão nem obter direitos legais. As gerações anteriores não se opuseram. “Nossos pais não tinham essa atitude, não se preocupavam”, lamenta. A terra acabou nas mãos de cultivadores comerciais, que compraram parcelas adjacentes e arrasaram enormes extensões de floresta. “Eles não se importam com essas árvores das quais extraímos remédios. Para eles, essas árvores não têm sentido, não servem para nada”, afirma Munduruku. Ele aponta que sua comunidade tentou sem sucesso obter ajuda do governo para deter o desmatamento e recuperar parte da terra.
O elevado valor de algumas madeiras nobres tropicais representa uma ameaça constante para a floresta. Ao lado de uma estrada a oeste de Açaizal, um trabalhador de uma serraria passa um enorme tronco por uma serra industrial, que corta uma prancha da espessura de uma enciclopédia. Outros trabalhadores dão forma à prancha bruta para ajustá-la às dimensões padrão. Ricardo Veronese, proprietário da serraria, relata que os membros de sua família, uma pequena dinastia madeireira, chegaram do estado de Mato Grosso há 17 anos. “Viemos para o Pará porque ainda havia muita floresta virgem”, explica. Em Mato Grosso, desde meados dos anos 80, cerca de 40% da floresta tropical foi desmatada.
A cada ano, a serraria de Veronese corta madeira proveniente de cerca de 2.000 árvores gigantes, a maioria para pisos e varandas de alta qualidade nos Estados Unidos e na Europa. Com evidente orgulho, ele diz que só utiliza madeira “cortada de forma sustentável”. Os enormes troncos, empilhados aos montes em um pátio, provêm de operações madeireiras regulamentadas pelo estado que praticam a extração seletiva, assegura ele, na qual apenas os grandes troncos são cortados, permitindo que os restantes cresçam e preencham os espaços no dossel. Ele afirma que sua empresa segue as normas governamentais de extração seletiva, que exigem que as empresas tomem medidas para reduzir seu impacto.
Mas muitos ecologistas afirmam que a extração seletiva permitida pelo Código Florestal geralmente não é sustentável no sentido de preservar as reservas de carbono da floresta retidas nos troncos e conservar sua flora e fauna hiperbiodiversas. Isso ocorre porque as árvores que voltam a crescer após uma operação de extração não são da mesma espécie que as que foram removidas. As originais geralmente são espécies de crescimento lento e madeira densa, enquanto as substitutas têm madeira menos densa. Elas absorvem menos carbono no mesmo espaço. Erika Berenguer afirma que poucas empresas seguem os requisitos para limitar a construção de estradas ou o número de árvores que podem ser cortadas. “Estima-se que cerca de 90% da extração seletiva na Amazônia é ilegal e, portanto, não segue nenhum desses procedimentos”.
Vigiar a Amazônia durante longos períodos requer paciência e perseverança. Berenguer e sua equipe têm medido 6.000 árvores na floresta nacional de Tapajós a cada três meses desde 2015. A partir desses dados, calculam as mudanças na quantidade de biomassa da floresta e quanto carbono é armazenado nela.
Os censos desse tipo e as medições atmosféricas como as de Gatti são duas técnicas comuns que os climatologistas utilizam para estudar a captação e a liberação de carbono. Cada uma tem suas vantagens e desvantagens.
Os censos medem diretamente a quantidade de carbono (em forma de madeira) de uma floresta. Se combinados com medições dos detritos no solo e do CO₂ liberado pela terra, também podem levar em conta a decomposição. Porém, os censos examinam apenas um número limitado de locais. As medições atmosféricas podem avaliar o impacto combinado das mudanças nas florestas em escala regional e até continental, embora seja difícil decifrar a causa das mudanças que mostram.
Em 2010, Berenguer começou a monitorar mais de 20 parcelas na floresta de Tapajós e arredores. Seu objetivo era comparar a absorção de carbono da floresta primária com a da floresta degradada pela extração seletiva de madeira, legal ou não. Mas em 2015, uma onda de calor e uma seca sem precedentes atingiram a Amazônia oriental. Oito das parcelas de Berenguer pegaram fogo, matando centenas de árvores que ela havia medido pelo menos duas vezes. Berenguer lembra do dia em que visitou uma parcela recém-destruída pelas chamas. Seu assistente, Gilson Oliveira, tinha ido à frente. “Ele começou a gritar: ‘A árvore número 71 está morta. A árvore número 114 está queimando’. Eu desmoronei em lágrimas; sentei-me entre as cinzas”.
Em condições normais, a floresta amazônica é quase à prova de incêndios. É úmida demais para queimar. Mas quando esta longa estação seca terminou, os incêndios haviam queimado quase um milhão de hectares de floresta primária na Amazônia oriental, uma área do tamanho do Líbano, matando cerca de 2,5 bilhões de árvores e liberando tanto CO₂ quanto o Brasil libera queimando combustíveis fósseis em um ano. Algumas das pesquisas de Berenguer foram, literalmente, reduzidas a cinzas. Mesmo assim, ela viu a oportunidade de estudar um problema que se prevê que será cada vez mais comum: o efeito combinado de múltiplas complicações, como a seca extrema, os incêndios e a degradação humana causada pela extração seletiva de madeira e o desmatamento completo.
Em um passeio pelo local onde a equipe de Berenguer trabalha na floresta de Tapajós, seu diretor de campo, Marcos Alves, caminha até um local que queimou em 2015. Pouco antes do incêndio, madeireiros ilegais derrubaram as árvores maiores e de maior valor econômico. A floresta voltou a crescer com vegetação abundante, incluindo algumas espécies que já atingem a espessura de um poste de telefone. Mas não há nenhum dos gigantes que podem ser encontrados em outras partes da floresta.
Alves, Oliveira e Gatti dirigem-se a um local a três quilômetros da estrada que nunca foi objeto de extração seletiva de madeira ou desmatamento completo, e que escapou dos incêndios de 2015. Aqui há menos luz porque o dossel arbóreo é muito denso. E a sensação é de estar mais frio: as árvores não apenas bloqueiam a luz do sol, mas também liberam grandes quantidades de água, o que resfria o ar. Gatti se maravilha com o tamanho de uma árvore de castanha-do-pará (Bertholletia excelsa). “É incrível a quantidade de água que esta árvore coloca no ar”.
Em 2021, Berenguer e uma equipe de coautores do Brasil e da Europa publicaram um estudo sobre a absorção de carbono e a mortalidade das árvores em suas parcelas durante três anos após os incêndios de 2015 e 2016. Eles compararam parcelas que haviam sido exploradas seletivamente ou queimadas nos anos anteriores com outras que não haviam sido exploradas nem queimadas. O estudo descobriu que mais árvores morriam nas parcelas degradadas. Embora as parcelas não degradadas tivessem obtido os melhores resultados no estudo, Berenguer afirma que já não existem “florestas pristinas”. A mudança climática aqueceu toda a floresta amazônica em 1 °C nos últimos 60 anos. A Amazônia oriental se aqueceu ainda mais.
A pluviosidade amazônica não mudou de forma apreciável, se feita uma média de todo o ano. Mas a estação seca, quando a chuva é mais necessária, está se prolongando, especialmente no nordeste da Amazônia, onde as precipitações durante a estação seca diminuíram 34% entre 1979 e 2018. No sudeste, a estação seca agora dura cerca de quatro semanas a mais do que há 40 anos, o que representa um estresse para as árvores, especialmente para as grandes. Ainda assim, Berenguer assegura que, até agora, os efeitos mensuráveis da mudança climática na floresta são relativamente sutis em comparação com o impacto humano direto, como a exploração madeireira.
David Lapola, especialista em modelagem de sistemas terrestres da Universidade de Campinas (Brasil), afirma que a desmatamento por si só não pode explicar por que o sumidouro de carbono da Amazônia se enfraqueceu e se inverteu no sudeste. Ele e mais de 30 colegas, incluindo Gatti e Berenguer, publicaram no ano passado uma análise indicando que as emissões de carbono resultantes da degradação igualam ou superam as do desmatamento por clareamento.
Além disso, mesmo os bosques intactos, sem um impacto humano local evidente, acumulam menos carbono do que antes, conforme observado em alguns estudos de censos de árvores. Uma análise de 2015 de 321 parcelas de floresta primária amazônica sem impactos humanos evidentes registrou “uma tendência decrescente a longo prazo na acumulação de carbono”. Um estudo similar publicado em 2020 apontava o mesmo na floresta da bacia do Congo, a segunda maior floresta tropical do mundo.
Isso representa uma mudança em relação a décadas anteriores, quando os censos indicavam que essas florestas primárias da Amazônia armazenavam mais carbono. Não existe uma explicação consensual para essas desacelerações, nem para o motivo de uma floresta primária acumular carbono anteriormente. Mas muitos pesquisadores suspeitam que os ganhos de carbono em décadas anteriores (e os restantes hoje) se devem à influência positiva do CO₂ adicional na atmosfera, que pode estimular o crescimento das plantas.
Em vários estudos em que grandes parcelas de florestas foram expostas a níveis elevados de CO₂, conhecidos como experimentos de enriquecimento de carbono ao ar livre (FACE), os pesquisadores mediram aumentos na biomassa. Mas, em uma exceção notável, não houve crescimento a longo prazo, o que sugere que nem sempre se pode contar que o aumento de CO₂ beneficie as florestas.
Até agora, todos os experimentos florestais FACE foram realizados em regiões temperadas. E muitos cientistas suspeitam que as florestas tropicais — e a Amazônia, em particular — possam seguir regras diferentes. Finalmente, será realizado o primeiro experimento FACE a 50 quilômetros ao norte de Manaus. Está previsto que seu sistema de tubulações para liberar dióxido de carbono nas parcelas de teste seja ativado em algum momento deste ano. Nobre espera que o experimento possa ajudar a prever se os contínuos aumentos de CO₂ beneficiarão a Amazônia.
Durante várias décadas, Nobre e seus alunos utilizaram modelos computacionais para prever como o clima e o desmatamento afetarão a Amazônia. A pesquisa baseou-se, em parte, em trabalhos realizados nos anos setenta, que demonstraram que a própria floresta amazônica contribui para criar as condições que a mantêm viva. A umidade que sopra do Atlântico cai em forma de chuva na Amazônia oriental e depois evapora e é transportada para o oeste. Ela se recicla várias vezes antes de chegar aos Andes. Uma floresta menor ou gravemente degradada reciclaria menos água e, com o tempo, poderia não ser capaz de manter a floresta exuberante e úmida.
Em seu estudo de 2016, Nobre e vários colegas calcularam que a Amazônia atingiria um ponto de inflexão se o planeta se aquecesse mais de 2,5 °C acima das temperaturas pré-industriais e se entre 20% e 25% da floresta fosse desmatada. Segundo as Nações Unidas em 2022, o planeta está a caminho de atingir os 2,5 °C de aquecimento até 2100. Nobre agora se pergunta se seu estudo anterior foi muito conservador. "O que o trabalho de Gatti mostra é que toda esta área sul da Amazônia está se tornando uma fonte de carbono". Ele está convencido de que, embora a Amazônia ainda não tenha atingido o ponto de inflexão, poderia fazê-lo em breve.
Susan Trumbore, diretora do Instituto Max Planck de Biogeoquímica de Jena (Alemanha), não concorda em usar o termo "ponto de inflexão", uma frase sem definição precisa, para falar sobre a Amazônia. Mas ela concorda que o futuro da floresta está em jogo. "Tenho a sensação de que será uma alteração gradual do ecossistema que sabemos que está por vir com a mudança climática", afirma. Independentemente de ser rápida ou lenta, Trumbore concorda com a maioria dos cientistas que estudam a Amazônia de que ela enfrenta sérios desafios que podem ter ramificações globais.
Alguns desses desafios estão diretamente relacionados à política da região. Em agosto passado, Gatti e seus colegas relataram que os ataques à Amazônia - como desmatamento, queimadas e degradação - aumentaram drasticamente em 2019 e 2020 devido a uma aplicação da lei menor. E isso dobrou as emissões de carbono da região.
O destino da Amazônia está na mente de Gatti enquanto ela sobe uma torre de treliça na floresta de Tapajós, um dos pontos de referência que seus pilotos sobrevoam quando coletam amostras de ar. A estrutura metálica balança e estala enquanto ela sobe. Quando ela alcança o topo, 15 andares acima do solo, contempla a floresta que se estende em todas as direções até o horizonte. "Estamos matando este ecossistema direta e indiretamente", diz, emocionada. Uma lágrima escorre. "Isso é o que me assusta terrivelmente e o que me afeta tanto quando venho aqui. Eu vejo a floresta morrendo."
No final de 2023, vários meses após visitar a floresta de Tapajós, Erika Berenguer relata que os arredores de Santarém estão envoltos na fumaça de dezenas de incêndios florestais. Há "hectares e hectares de floresta queimada", até mesmo em pelo menos uma de suas parcelas, ela explica em uma mensagem de texto. A fumaça é muito densa para avaliar o impacto em sua pesquisa até o momento, diz ela. "Algo que me parece especialmente preocupante é que parece que 2023 é uma reedição de 2015. Quantas reedições teremos até que medidas sejam tomadas para evitar incêndios florestais?"
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Os cientistas que monitoram uma Amazônia em apuros - Instituto Humanitas Unisinos - IHU