12 Outubro 2023
O governo federal anunciou na última semana uma série de medidas de combate à seca que assola o estado do Amazonas. Entre elas está a dragagem dos rios Madeira e Solimões, com o objetivo de recuperar a capacidade de navegação de alguns trechos. A medida, no entanto, pode ser temerária, diz especialista em organismos aquáticos do Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA).
A reportagem é de Cristiane Prizibisczki, publicada por ((o))eco, 09-10-2023.
Segundo o pesquisador Jansen Zuanon, professor do Programa de Pós-Graduação em Biologia de Água Doce e Pesquisa Interior do INPA, diante do cenário futuro de agravamento dos eventos climáticos extremos, a dragagem, além de cara, pode se mostrar pouco eficiente, com um alto impacto ambiental.
“O fenômeno das secas severas e dos eventos extremos já é muito mais frequente do que a gente imaginava. E esses rios, como o Solimões e o Madeira, são rios que mobilizam muito sedimento o tempo todo. Então, fazer uma dragagem agora é enxugar gelo, na minha opinião. É resolver um problema momentaneamente, com um custo muito alto, para um problema que vai se repetir em breve, talvez até no ano que vem”, diz.
Segundo o governo federal, no Solimões, a dragagem será feita em área com 8 km de extensão, com custo estimado em R$ 38 milhões e duração prevista de 30 dias. Já os trabalhos no Madeira serão feitos em área de 12 km de extensão, ao custo de R$ 100 milhões e duração de 45 dias.
De acordo com o pesquisador do INPA, a dragagem é até importante em algumas situações especiais, como para escoar peixes mortos ou para religar trechos que ficaram isolados pela seca. A proposta do governo é somente aumentar a navegabilidade.
“No caso de navegabilidade, a não ser que sejam casos muito específicos, me parece que é uma medida de duração muito curta para um custo muito elevado, sem contar os impactos ambientais. Fazer dragagem em uma situação emergencial provavelmente vai ser realizado sem nenhum estudo prévio de impacto ambiental. Não dá tempo. Então, acredito que isso vai ser feito inclusive ao arrepio da legislação, o que é muito triste”, diz.
Segundo ele, seria mais interessante que o governo comparasse custos de suprimento de bens e serviços para as populações afetadas e planejasse com calma as soluções possíveis para as próximas secas que virão. Porque elas certamente virão.
Questionado por ((o))eco sobre a eficácia da medida, o Ministério do Meio Ambiente informou que os impactos ambientais são, de fato, uma preocupação, mas que as obras de dragagem serão realizadas por uma questão humanitária.
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Dragar rios da Amazônia para enfrentar seca pode não ser uma boa estratégia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU