12 Dezembro 2023
O Advento é um tempo decisivo para o crescimento da fé do cristão que infelizmente faz parte daquela massa atordoada que não espera mais nada. E quem não espera mais nada que irrompa em sua vida é como se já estivesse morto.
A opinião é do monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose e da Casa della Madia. O artigo foi publicado por La Repubblica, 11-12-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Todos os anos, perto do fim do ano civil, chega um tempo que os cristãos distinguem da passagem cotidiana dos dias e o chamam de “Advento”: um tempo de espera por uma vinda, por uma manifestação desejada que finalmente se imporá na história com uma novidade inaudita, haverá um novo céu e uma nova terra onde reinarão a justiça, o amor recíproco e a paz.
Os cristãos se empenham nessa espera devido às palavras de Jesus, que seus discípulos ouvintes compreenderam como o anúncio de uma partida, mas de uma consequente vinda na glória para a instauração do Reino de Deus.
Houve um tempo, certamente não o nosso, em que a pergunta “quem é o cristão?” podia ser respondida com as palavras: “aquele que espera Jesus Cristo, a sua vinda”.
Temos mais de dois milênios de cristianismo às nossas costas e devemos confessar: a esperança e a espera dos primeiros cristãos, sempre renovadas ao longo dos séculos, foram todas frustradas. Cristo não volta, tudo segue em frente como antes, não se vê o Reino de Deus, e a promessa de justiça, paz e salvação parece frustrada, um lindo sonho da humanidade condenado a ser frustrado.
No entanto, em séculos diferentes e em Igrejas diferentes, vemos cristãos que, para esperar a vinda de Jesus Cristo, vigiam durante a noite para estarem prontos para o encontro com seu Senhor. Houve cristãos que consagraram a vida a uma busca de sua presença, à escuta de sua Palavra, pedindo-lhe apenas: vem, Senhor.
Isso é loucura? Não, é um desejo guardado no coração e no comportamento: cada um de nós pode ser o Reino de Deus anunciado por Jesus como aquele que vem. Basta que deixe somente Deus reinar sobre si e, portanto, sua vontade, que é amor, justiça e paz, e impeça que outras presenças, os arcontes deste mundo, dominem. É quando o Reino de Deus vem, quando você quiser, se você quiser, sobre você.
Mas a certeza da fé não elimina a ansiedade, a esperança desesperada da razão pela qual Jesus atrasa sua promessa, tornando insuportável o nosso exílio dele.
Talvez tenhamos entendido mal, e ele não voltará. Há homens e mulheres que são consumidos por esse desejo.
O Advento é um tempo decisivo para o crescimento da fé do cristão que infelizmente faz parte daquela massa atordoada que não espera mais nada. E quem não espera mais nada que irrompa em sua vida é como se já estivesse morto.
Quem nos fez cair nesse clima de ausência, de apagamento do desejo? Os cristãos mais devotos já pensam no Advento como um tempo de preparação para o Natal, outros esperam a vinda do Messias com a mesma indiferença com a qual esperam o bonde – dizia Ignazio Silone –, e outros só sabem desejar a troca de presentes, as luzes da cidade e talvez a neve nas montanhas.
Mas esperar é um sentimento essencial para a humanização, para a edificação do ser humano que sabe esperar e que, quando espera, só pode fazê-lo com os outros.
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O tempo da espera. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU