2º domingo do Advento – Ano B – Um caminho de conversão para a missão

Por: MpvM | 07 Dezembro 2023

"O Evangelho deste segundo domingo do Advento nos apresenta João Batista. Marcos nos coloca em um caminho de conversão para a missão e, como modelo de preparação, introduz a tradição sobre João que podemos destacar os seguintes aspectos: preparar o caminho para a vinda do Filho de Deus; em preparação para esta vinda prega um batismo para o perdão de conversão, o que implica uma mudança de vida; sua vestimenta lembrava a do profeta Elias (2Rs1,8); e seu alimento muito austero, denunciando não só o luxo dos banquetes da elite religiosa e civil, mas também a cultura urbana do desperdício."

A reflexão é de Rita de Cácia Ló.. Ela é graduada em teologia pela Faculdade Teológica Sul Americana (2006) e mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (2006). Atualmente é professora de estudos bíblicos na Escola de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF, de Porto Alegre/RS.


Leituras do dia

1ª Leitura - Is 40,1-5.9-11
Salmo - 84,9ab-10.11-12.13-14
2ª Leitura - 2Pd 3,8-14
Evangelho - Mc 1,1-8

Eis a reflexão

A primeira leitura de hoje é do profeta Isaías. Em 540 a.C., os judeus foram exilados na Babilônia por quase cinquenta anos, período complicado de muito sofrimento e saudade de casa. O profeta comunica a boa notícia da jornada de retorno. Que não será fácil! O caminho da volta precisa ser preparado, isso não é um acontecimento mágico, mas é nossa responsabilidade preparar o caminho, sem tantas pedras sem tantas mortes sem tanto sofrimento. É um caminho ético, é a missão dos cristãos.

O Evangelho deste segundo domingo do Advento nos apresenta João Batista. Marcos nos coloca em um caminho de conversão para a missão e, como modelo de preparação, introduz a tradição sobre João que podemos destacar os seguintes aspectos: preparar o caminho para a vinda do Filho de Deus; em preparação para esta vinda prega um batismo para o perdão de conversão, o que implica uma mudança de vida; sua vestimenta lembrava a do profeta Elias (2Rs1,8); e seu alimento muito austero, denunciando não só o luxo dos banquetes da elite religiosa e civil, mas também a cultura urbana do desperdício.

João prega no deserto (v.4). Por que João não prega em Jerusalém, ou em alguma cidade, como Hebron ou Jericó? Precisamos lembrar as tensões religiosas e políticas que ocorriam em Israel desde o século II a.C., portanto o fato de João pregar no deserto significa que ele pertence a um grupo de oposição, que olha com desconfiança para o clero de Jerusalém. O reino de Deus não está confinado no templo, nem na Cidade Santa. E o sinal da conversão não será o sacrifício de animais, mas o reconhecimento dos pecados e o batismo.

Batizar significa “lavar” em grego. Foi o que o sírio Naamã fez a mando de Eliseu para se livrar da lepra: foi batizado sete vezes no Jordão (2Reis 5,14). É o que fazem os fariseus e a maioria dos judeus quando regressam do mercado (Mc 7, 2-4). Porém João lava, não copos, jarras e panelas (Mc 7,4), mas pessoas.

Logicamente, ele faz isso com água, e é por isso que atua ao lado do rio Jordão. Em Israel existem ritos de purificação desde os tempos antigos. A novidade introduzida por João é que não é um rito que se repete várias vezes ao dia, mas um único rito, acompanhado da confissão dos pecados e mudança de vida.

João prega um batismo de conversão e no final ele acrescenta algumas palavras sobre Jesus, sem nomeá-lo: “não tenho o direito de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias”, mas o que significa isso? Este versículo tem como pano de fundo Rute 4,7-8, que fala do costume de antigamente: quando dois homens fechavam o negócio da venda de um campo, os dois trocavam as sandálias: o vendedor calçava as sandálias do comprador e o comprador calçava as sandálias do vendedor. Na história de Rute, ao adquirir o campo, Booz adquiriu também o direito de se casar com Rute. Neste costume antigo, “calçar as sandálias” equivale a ter direito e poder sobre uma propriedade.

Então, quando João Batista diz “não tenho o direito de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias”, ele não está dizendo que é humilde, e sim que não se deixa cair na tentação de ocupar o lugar do verdadeiro esposo, que é Jesus. João Batista não se deixa levar pelo estrelismo, nem pelo desejo de aparecer mais do que Jesus. João Batista sabe qual é o seu lugar e a sua missão.

Ele batiza com a água, Jesus batizará com o Espírito Santo. O batismo com o Espírito Santo indica o tempo messiânico: terminou a espera e o noivo chegou. O tempo messiânico, prometido pelos profetas, realiza-se em Jesus. No Antigo Testamento, pouco a pouco foi se formando a ideia de um personagem quase mítico denominado “Messias”. Ele seria um descendente do grande Rei Davi e viria restaurar o reino de Israel e trazer tudo o que é bom para o povo: justiça, verdade, paz, saúde, educação, salário justo, emprego, fim da corrupção etc.

Como batizadas/os, precisamos atuar conforme o Espírito Santo: ele é a força que Deus nos dá para anunciarmos a justiça e o direito dos mais fracos. Não podemos usar o Espírito Santo só para nosso gozo pessoal, em um espiritualismo dobrado sobre si mesmo e fechado em nosso comodismo. É necessário “rasgar” o comodismo, o individualismo e o egoísmo, para denunciar as injustiças presentes em todos os setores da nossa sociedade. Só assim poderemos “ver o Espírito de Deus presente”, e ouvir a voz de Deus ecoar na sociedade.

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