1º Domingo do Advento – Ano B – Subsídio exegético

01 Dezembro 2023

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF 

Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló

Leituras do dia

Primeira Leitura: Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7
Segunda Leitura: 1 Cor 1,3-9
Salmo: 79,2ac.3b.15-16.18-19
Evangelho: Mc 13,33-37

O Evangelho

Neste domingo, iniciamos um novo ano litúrgico, o chamado ano “B”. Iniciamos este novo ano litúrgico com o capítulo 13 de Marcos, conhecido como “Discurso escatológico”. O trecho do evangelho de hoje está na terceira parte desse discurso escatológico e quer nos exortar à vigilância e a não ceder à irresponsabilidade.

Os versículos de hoje (vv. 32-37) centram-se na impossibilidade de se conhecer antecipadamente o kairós – isto é, o momento exato – em que acontecerão os episódios narrados anteriormente no capítulo 13.

Às perguntas “Como? Quando? Onde?”, o v. 32 responde com uma incrível clareza, para que ninguém fique em dúvida: “Ninguém sabe, nem os anjos, nem o Filho”. O Pai sabe, mas ele não contou para ninguém! Por isso, o convite a estar atento e a vigiar é repetido várias vezes no capítulo 13 de Marcos: vv. 5.9.23.32.33.35.37.

Os vv. 33-37 são apenas as consequências práticas dessa impossibilidade de se saber o kairós. A divisão da noite em quatro partes – tarde, meia-noite, cantar do galo, amanhecer – corresponde às quatro vigílias da noite para os romanos, e serve para reforçar a necessidade de estar sempre alerta.

Importante é notar que Jesus se refere aos discípulos como servos a quem são dadas autoridades e tarefas especificas. Entre elas, destaca-se a do porteiro, que deve vigiar. Ora, “vigiar” é exatamente a ocupação do porteiro; igualmente, as tarefas deixadas aos outros servos não é nada mais do que a obrigação de fazerem exatamente aquilo para o qual foram contratados. Ou seja, “vigiar” significa assumir com decisão a própria vida, pois não se sabe quando chegará o senhor da casa. Por isso, Jesus convida a comunidade a viver com “olhos abertos” para discernir os acontecimentos presentes. Em outras palavras, a vinda do Senhor não tem nada a ver com triunfalismo e sim com a prática das comunidades em defesa da vida.

É por essa razão que, no v. 37, o Jesus de Marcos afirma: “O que digo a vós, digo a todos: ‘Vigiai!’”. Deve-se, pois perguntar: A quem Jesus faz essa recomendação, isto é, quem é o “vós”? E quem são “todos”?

O “vós” refere-se aos discípulos de Jesus, que no relato estão ouvindo seu discurso.

O “todos” refere-se, em primeiro lugar, à comunidade de Marcos, uma comunidade que vivia na ansiosa espera da volta de Jesus. Mas refere-se também aos demais leitores do evangelho, não só os contemporâneos do evangelista, mas também todos os que viriam depois. É como se o Jesus de Marcos, olhando e falando para os discípulos que aparecem junto a ele nesta cena, desse uma indireta bem direta a todos os cristãos, mesmo àqueles que não pertencem à comunidade de Marcos.

Relacionando com as outras leituras

A primeira leitura pertence à terceira parte do livro de Isaías, também chamada de “Trito-Isaías”, na qual encontram-se profecias anônimas, do tempo do pós-exílio. A profecia deste período recorda e atualiza antigas verdades ou infunde novas esperanças. Em momentos de desânimo, em meio a tantas ruínas, o Trito-Isaías quer alimentar a fé do povo em um futuro melhor. A ideia central é que YHWH não abandonará Israel, mas, ao contrário, manifestará sua salvação e dará a vitória ao seu povo. A leitura de hoje chama YHWH de “pai” e “redentor/resgatador” (v. 16). É uma das raras vezes em que, no Antigo Testamento, YHWH é chamado de “pai” do povo: o título exprime relação de intimidade e de confiança. Nessa mesma linha, vai o título “redentor/resgatador”. Em hebraico, este título se diz go’el. O redentor/resgatador – go’el – era o parente mais próximo que tinha vários encargos: vingar o sangue do irmão ou primo assassinado; casar-se com a viúva do irmão ou do primo, que morreu sem deixar descendência; pagar uma dívida para tirar um parente da escravidão. Chamar a YHWH de “redentor/resgatador” significa afirmar que YHWH vinga, defende e liberta seu povo Israel, mas também garante que Israel tenha uma descendência, isto é, um futuro.

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