28 Fevereiro 2023
Apresentado na sede de La Civiltà Cattolica, em Roma, o livro que repropõe o último texto do cardeal Martini, integrado com considerações e comentários de Francisco sobre o ministério episcopal em uma ótica sinodal. Padre Casalone: contém intuições que inspiram quem realiza um serviço de responsabilidade em uma comunidade humana, eclesial e civil, porque indica um estilo de relacionamento, uma forma de exercer a autoridade que promove a pessoa, eleva as consciências e constrói comunidade.
A reportagem é de Antonella Palermo, publicada por Vatican News, 27-02-2023.
"Dois bispos que guardam e acompanham o rebanho de Deus". Cada um com um estilo distinto e a herança do comum seguimento nas pegadas de Inácio de Loyola". Foi assim que a irmã Nicla Spezzati, adoradora do sangue de Cristo, entrelaçou a experiência pastoral do falecido arcebispo de Milão, Carlo Maria Martini, e a do Bispo de Roma, o Papa Francisco, autores do livro "O Bispo o Pastor". A autoridade na Igreja é sempre "ao serviço" (San Paolo edizioni) apresentado neste dia 24 de fevereiro, na sede de La Civiltà cattolica, em Roma.
O volume coloca novamente em circulação O Bispo, um texto hoje que não se encontra de Martini, acompanhado das considerações e comentários do Pontífice que nos permitem aprofundar o tema do vínculo entre o bispo e o povo. Foi a Fundação dedicada a Martini que propôs sua publicação por ocasião do décimo aniversário de sua morte. A Fundação quis ir além de uma simples operação celebrativa, criando uma continuidade entre as reflexões dos dois jesuítas, num momento em que a sinodalidade assume uma importância crucial.
O livro foi publicado pela editora San Paolo e contém o texto do cardeal Martini, ao qual faz eco o Papa Francisco com reflexões e comentários sobre o papel do bispo na Igreja e na sociedade de hoje | Foto: Divulgação
"Este é o último livro que Martini escreveu e, portanto, reúne toda sua sabedoria a partir da experiência que teve, um livro profundo em toda sua simplicidade", diz padre Carlo Casalone SJ, presidente da Fundação Carlo Maria Martini. "E então ele tem muitas intuições que inspiram ou podem inspirar qualquer pessoa que realiza um serviço de responsabilidade em uma comunidade humana, seja eclesial, como é o caso do bispo ou outras formas de ministério, ou civil, porque ele indica um estilo de relacionamento, uma forma de exercer autoridade que promove a pessoa e é obediente à dinâmica da comunidade como um todo", aponta, "cuida da comunidade e ao mesmo tempo exerce a autoridade como um serviço às consciências para que elas não se abstenham da vida comunitária". Em certo sentido, ele volta ao conceito original de autoridade que significa "fazer crescer", fazer o outro autor, capaz de assumir na primeira pessoa aquelas responsabilidades que são próprias também em relação aos outros, e isto constrói a comunidade".
As páginas do Bispo de Roma sobre as peculiaridades do pastor enfatizam como esta é uma figura que não nasceu em um laboratório, e que deve sempre se esforçar para se valer dos conselhos de seu clero e de seu povo, evitando todas as formas de carreirismo. No seu texto, o Papa Francisco escreve que Martini pretendia pintar uma imagem viva do bispo, concreta e sem falsas pretensões, usando "extrema franqueza". Revendo as reflexões que mais o marcaram, o Papa enfatiza a relação imprescindível com o Senhor que o bispo deve ter essencialmente na oração, a peculiaridade de ser um "homem de misericórdia", o fato de que ele deve agir como um "médico em um hospital de campo" e não deve negligenciar a relação com os jornalistas.
Este é um ponto que ele considera tão importante quanto o arcebispo de Milão. "Mesmo que alguns erros possam acontecer", diz Francisco, "devido a seu despreparo, o bispo deve saber que 'o importante é conduzir o barco em direção ao porto, comunicar-se verdadeiramente com o povo, saber entrar em uma relação quase pessoal com a ajuda da mídia'.
Especialmente em vista dos trabalhos sinodais atuais, Francisco enfatiza a necessidade de que o bispo, assim como Martini escreve, manifeste a comunhão com os outros bispos e com o Papa, e toda a paternidade espiritual para com os sacerdotes. E ele convida à reflexão sobre a necessidade de meios simplificados e rápidos de receber opiniões. Ciente de que não existe um pastor "standard" para todas as Igrejas, Francisco descreve brevemente o bispo como "aquele que vela, apoiando pacientemente os processos pelos quais o Senhor leva avante a salvação de seu povo". E recorrendo mais uma vez à metáfora do cheiro das ovelhas, ele acrescenta:
"Não basta vigiar, é preciso ter a mansidão, a paciência e a constância da caridade" - Papa Francisco
Nas palavras da irmã Nicla - que viveu recentemente a experiência sinodal em Praga n etapa continental europeia, onde a delegação italiana da qual ela fazia parte expressou sua voz fazendo muito uso do legado de Martini - o contínuo paralelismo entre Martini e Bergoglio se traduz em destacar como ambos "são bispos que recordam, a cada hora, a terra de origem e de realização, com a vitalidade dos homens em constante busca. Vitalidade que se torna um discernimento vigilante, um guia para escolher o essencial em cada circunstância". Ambos nos convidam a levar a sério o fato de nos tornarmos vizinhos, promovendo uma fraternidade que não só é desejada, mas possível. Ambos convidam "a escutar com o ouvido do coração" os pobres, prisioneiros, intelectuais, crentes e não crentes, jovens, evitando qualquer miopia particularista e sem recorrer precipitadamente, aponta a religiosa, a respostas pré-embaladas. Ambos se fazem intercessores pela paz.
O bispo no meio de seu rebanho | Foto: Vatican Media
A apresentação do livro foi selada por monsenhor Paolo Bizzeti SJ, Vigário Apostólico da Anatólia, que compartilhou seu testemunho de uma região ferida, onde o exercício da autoridade episcopal tem que lutar, por um lado, com escassos recursos humanos e materiais e, por outro, com uma variedade de ritos e "modelos" de bispos que "devem necessariamente interpelar", também na ótica de realizar um efetivo caminho ecumênico. Bizzeti recorda sua relação com o cardeal Martini: desde o tempo em que era reitor do Pontifício Instituto Bíblico ("um homem tradicional, no melhor sentido do termo"), até a época da 32ª Congregação da Companhia de Jesus ("um homem que, embora já muito estruturado, se questionava, não se afastava de enfrentar as novidades da época"); desde o tempo em que em Milão reconhecia com extrema lucidez a complexidade do ministério e os inevitáveis limites a ele associados, até o período, finalmente, de Jerusalém, quando uma séria reflexão sobre o mistério da morte o ocupava e o preocupava.
Bizzeti também enfatiza a abertura total com que Martini concebeu e viveu sua missão pastoral: relações com judeus, com várias Igrejas locais, com não-crentes, em um estilo que nunca foi impositivo. Porque, de fato, trata-se de levar em conta constantemente o fato de que, ao mesmo tempo em que se impõe, espalharia o rebanho, por outro lado - nas palavras de Inácio de Antioquia - "onde está o bispo, aí está a Igreja". O importante é tirar o bispo de seu nicho, como escreve Martini, e vê-lo em contato com o povo. Mais sinodal do que isso.
Apresentação do livro | Foto: Vatican Media
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O último texto de Martini reproposto com o comentário do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU