02 Fevereiro 2023
“Perto do povo como pais e irmãos, com mansidão, paciência e misericórdia. Pobres, não cegados pela riqueza. Sem ambições e desejos de carreirismo, desprovidos de tentações de nobreza e mundanismo". Aqui está o esboço do novo bispo do terceiro milênio. O Papa Francisco o delineia em um livro distribuído recentemente, idealmente escrito em conjunto com um coirmão jesuíta e cardeal Carlo Maria Martini, arcebispo de Milão de 1979 a 2002, falecido em 31 de agosto de 2012 aos 85 anos.
A reportagem é de Orazio La Rocca, publicada por La Repubblica, 22-04-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um texto — O bispo, o pastor (Il vescovo, il pastore, no original) publicado pela San Paolo — dividido em duas partes. Na primeira, a reimpressão de Il Vescovo, escrito em 2011 por Martini poucos meses antes de sua morte dedicado à figura, à obra e ao papel que os bispos de hoje são chamados a desempenhar. Na segunda parte, o comentário do Papa Francisco que em muitos momentos retoma a análise de Martini. Tema delicado, por ser “ferramenta" operacional de cada Papa na investidura daqueles que serão enviados a governar as "províncias" da Igreja, os bispos, de fato, atualmente cerca de 5.400 em todo o mundo, entre chefes diocesanos, auxiliares e titulares com cargos ao serviço da Santa Sé (núncios apostólicos, responsáveis e secretários de dicastérios...), escolhidos entre um "pool" de mais de 400.000 sacerdotes.
Livro Il vescovo, il pastore (O bispo, o pastor), de Carlo Maria Martini e Papa Francisco | Foto: divulgação
“Que perfil deveria ter hoje um bispo? “, a resposta, na primeira parte do texto, do cardeal Martini não deixa margem para dúvidas. “Antes de tudo - escreve o cardeal - o candidato ao episcopado deve demonstrar integridade, honestidade e obediência às leis do Estado; deve ser leal, capaz de dizer a verdade e nunca mentir por qualquer motivo. Também deve ser dotado de muita paciência, virtude antiquíssima, mas sempre necessária, e ser um homem da misericórdia, capaz de assumir o sofrimento do mundo e oferecer motivos de esperança aos que sofrem, aos últimos e aos necessitados”. Não menos importante, o futuro bispo, segundo Martini, também deve ter "uma boa educação, doçura do trato, firmeza paterna, amor pela beleza e suas formas, e mostrar-se capaz de admitir seus erros." Portanto, conclui o cardeal, deve ser "sobretudo um homem verdadeiro", capaz de "colocar no centro de tudo o Evangelho de Jesus Cristo, a Palavra do Pai concretizada pelo Espírito Santo, de quem descendeu e desce todo o bem sobre a terra, agora e nos séculos futuros".
Conceitos, características e indicações que o Papa Francisco retoma e amplia - 11 anos após a publicação de Il vescovo - à luz de sua experiência pontifícia. “Estou tentando consagrar bispos - Bergoglio confessa de fato - que sejam em primeiro lugar pastores fiéis e não alpinistas sociais. Bispos que se sintam filhos da Igreja, que é mulher e é a única que pode dar à luz seus filhos se nós lhe permitirmos. E devemos sempre perguntar ao clero e aos leigos – observa o Papa Francisco, relançando surpreendentemente uma modalidade episcopal eletiva das primeiras comunidades cristãs – o que pensam de um determinado candidato a bispo. E não aceite pressões para sua indicação.
Isso porque as nomeações de um bispo devem ser transparentes!...”. Quanto aos critérios adotados pelo atual pontífice nas nomeações episcopais, há muitos traços em comum com Martini, ainda que o Papa Francisco não deixe de acrescentar sua marca pessoal. Segundo Bergoglio, os candidatos ao episcopado devem, de fato, ser “pastores próximos e no meio do povo como pais e irmãos; capazes de mansidão, paciência e misericórdia; devem amar a pobreza, tanto interior (como liberdade para o Senhor) quanto exterior (como simplicidade e austeridade de vida). Não devem ter uma psicologia de "princípios"; não devem ser ambiciosos, nem brigar para obter o episcopado como se fosse um cargo mundano. Finalmente, devem estar cientes de serem esposos de uma comunidade específica, da Igreja da qual são enviados, sem nunca ambicionar a uma maior e mais prestigiosa". No que diz respeito à missão pastoral, para Bergoglio os novos bispos “já que seu ministério será o de semear a Palavra, devem ser também homens pacientes”. Recordando, a esse respeito, que “o cardeal Giuseppe Siri costumava dizer que há 5 virtudes de um bispo: primeira a paciência, segunda a paciência, terceira a paciência, quarta a paciência e última a paciência com aqueles que nos convidam a ter paciência”.
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Retrato de um bispo do terceiro milênio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU