26 Novembro 2022
"Gonzalo Villagrán Medina dedica ao tema do pluralismo nas sociedades contemporâneo um artigo publicado no dia 19 de novembro no novo fascículo da revista dirigida pelo Pe. Antonio Spadaro, La Civiltà Cattolica".
O artigo é de Riccardo Cristiano, jornalista italiano, publicado por Formiche, 18-11-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As sociedades de hoje são pluralistas. O termo deve ser bem entendido, e começaremos a partir daqui, ilustrando o artigo que a La Civiltà Cattolica, assinado por Gonzalo Villagrán Medina, dedica ao tema: “A palavra da Igreja nas sociedades pluralistas”, e que está publicado no novo fascículo da revista dirigida pelo Pe. Antonio Spadaro.
O articulista parte de uma afirmação no mínimo surpreendente: “Em qualquer instituição apostólica atual da Igreja, mesmo que minimamente aberta ao contexto social, encontramos pessoas de origens, situações pessoais e existenciais cada vez mais diferentes e distantes daquilo que se poderia definir como o modelo eclesial tradicional. Embora algumas dessas pessoas talvez possam conservar uma sombra de preconceito ou de rejeição àquilo que é religioso-eclesial, cada vez mais, na percepção geral, prevalecem simplesmente um distanciamento e uma estranheza em relação a isso”.
Essa abordagem explica por que logo se levanta o problema: “É claro que uma situação como essa envolve um grande desafio no que diz respeito à transmissão da fé”. Esse desafio tem sido muitas vezes rejeitado, acolhendo somente quem já está convencido. Há algum tempo, porém, busca-se evitar essa solução de um problema fundamental.
O autor aborda de imediato a questão do que é o pluralismo: “Não há dúvida de que a secularização existe e de que é preciso levá-la em consideração, mas acreditamos que, como nos mostrou o sociólogo Peter Berger (1929-2017), a quem nos referiremos, o problema é mais amplo. Segundo esse autor, o problema deveria ser mais bem posto em relação à experiência do pluralismo, uma situação social nova em que existem diversas possibilidades de doutrinas abrangentes ou de estruturas de plausibilidade”.
Aceitar o pluralismo social, para o articulista, implica a necessidade de uma “teologia pública”. Do que se trata? É o fruto do pensamento de Peter Berger: “Berger define o pluralismo como a coexistência de diversas visões de mundo e escalas de valores na mesma sociedade”. Em sua opinião, o pluralismo contribuiu para a secularização, é uma condição-chave dele: “No mundo globalizado, as sociedades são plurais porque contêm diferentes visões de mundo. A forma de gerir tal realidade plural não pode passar pelo fundamentalismo nem pelo relativismo: o primeiro, de fato, gera conflitos na sociedade, e o segundo impossibilita a partilha a partir de uma base moral comum. Portanto, o pluralismo requer das religiões propostas mais profundas e capazes de compreender as sociedades humanas contemporâneas, para aprender a conviver em seu contexto”.
Portanto, todos devem dialogar com todos, e para as religiões entra em jogo não apenas o “quê”, mas também o “como”. O moralista Marciano Vidal indicou a necessidade de superar o esquematismo da lei natural: como permanecer em uma sociedade pluralista propondo que existem princípios morais universais, e ponto final? Eis a sua proposta, muito importante: “Vidal afirma que a moral cristã na sociedade pluralista deve ser uma moral do sentido, não da norma”.
Estamos na arquitrave de um raciocínio que envolve o famoso discurso da hermenêutica. A proposta a partir da qual se parte, a de Tracy, é fascinante: “A ‘estratégia’ – como ele a denomina – que Tracy adota para desenvolver uma teologia adaptada ao pluralismo é substancialmente hermenêutica. Para ele, a verdade e o sentido da teologia têm um estatuto análogo ao da arte. Seguindo Hans-Georg Gadamer, que no ‘clássico’ entrevia o modo pelo qual a verdade se revela na arte, Tracy, por sua vez, fala de clássicos religiosos. Se os clássicos, como diz Gadamer, são aquelas obras do espírito humano que nos oferecem uma verdade sobre o ser humano, os textos e as obras religiosas também podem ser clássicos. De fato, eles podem ser entendidos como ‘clássicos’ que oferecem uma verdade sobre o ser humano a todos aqueles que desejam apreendê-la, mesmo no caso de não compartilharem essa fé. Por meio do conceito de ‘clássico’, Tracy mostra como a religião é capaz de dirigir uma mensagem de verdade a uma sociedade pluralista: tal mensagem pode ser encontrada conforme o modo proposto por Gadamer para as ciências do espírito, e não como uma verdade científica. As religiões podem contribuir com essa busca, sem obrigar ninguém a adotar a sua fé, pois suas fontes contêm uma mensagem de verdade sobre o ser humano”.
Segue-se daí que esses “clássicos” poderão ter uma correlação crítica. Mas o caminho não acabou aqui, continua: novos teólogos evidenciam a necessidade de formular uma palavra social de denúncia mais forte do que Tracy havia pensado. Ao mesmo tempo, em outros lugares dos Estados Unidos, a ideia de uma teologia pública como resposta ao pluralismo foi bem recebida, e hoje, em vários países do mundo, estão sendo desenvolvidas teologias públicas.
Uma frase das conclusões, em que se diz que é preciso encontrar formas de entrar em diálogo com os outros na sociedade, a fim de buscar juntos também os projetos éticos adequados, leva a pensar que o novo pluralismo parte da Casa Santa Marta.
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Um novo pluralismo que pode nascer da Igreja: a necessidade de uma teologia pública - Instituto Humanitas Unisinos - IHU