Os cristãos diante da guerra russa na Ucrânia e o “ecumenismo de sangue”. O diálogo com a Igreja ortodoxa assassinado pelo patriarca de Moscou, cuja consciência está agora manchada de sangue

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08 Março 2022

 

O Papa Francisco falou em várias ocasiões de três tipos de diálogo ecumênico: o ecumenismo dos pobres, o ecumenismo da missão e o ecumenismo do sangue. Deve ser lembrado que o Papa Francisco falou no Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa da Bulgária sobre o ecumenismo do sangue com referência obviamente à perseguição dos cristãos e ao derramamento de sangue naquelas terras. (Sófia, 5 de maio de 2019). Também deve ser lembrado que o sangue humano é sempre tal, independentemente das confissões religiosas.

 

A reportagem é publicada por Il sismografo, 07-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

No caso do diálogo ecumênico com a Igreja Ortodoxa Russa, liderada hoje pelo Patriarca Kirill, aliado de ferro de Vladimir Putin, como podemos ler o que tem sido chamado de "ecumenismo do sangue"? Perguntam muitos cristãos, e entre eles muitíssimos católicos. É chocante ver uma nação cristã como a Rússia usar uma violência desumana contra outra nação cristã, embora seria igualmente horrível se não fosse cristã. A violência, para a doutrina católica e o cristianismo, é o mal absoluto. É aquela com a qual - dizia o Papa Francisco no domingo, 6 de março, durante o Angelus - não se fazem concessões.

 

Hoje, diante do massacre russo em curso sem parar na Ucrânia, onde os agressores chegar a usar para seus interesses aqueles que fogem famintos ou feridos, indefesos e aterrorizados, devemos nos perguntar que futuro há agora para o caminho ecumênico com a Ortodoxia russa? Para onde foram os enormes esforços, as décadas de trabalho complexo, as dolorosas concessões da Igreja Católica após o Concílio, para ver realizada - ainda que gradualmente - a vontade do Senhor que queria e rezava para que seus discípulos fossem um só?

 

Espera-se que nem tudo tenha sido destruído e que justamente por se tratar de sangue inocente algo, e em breve, possa ser recuperado entre o Patriarcado de Moscou e a Sé Apostólica. Seria bom para toda a humanidade e não apenas para os cristãos, mas parece que o ponto sem volta já tenha sido ultrapassado. É certo que o Papa Francisco estará mais do que à altura da tarefa e do desafio. Por outro lado, é menos certo, aliás improvável, que o mesmo aconteça com Kirill, que nesta guerra repugnante assumiu livremente o papel de "capelão" do exército russo. Kirill foi o primeiro a matar o diálogo com os irmãos cristãos e com as outras igrejas. Sua consciência é conspurcada pelo sangue de seres humanos inocentes, incluindo não poucos compatriotas.

 

O Patriarca Kirill, que desde sempre sabia de tudo, de toda a situação, poderia ter impedido essa catástrofe antes. Ele poderia ter agido clamorosamente ou com discrição, recorrendo a outros países ou líderes para impedir ou fazer fracassar o louco projeto de Putin. Ele poderia ter dito "não", in extremis, na noite entre 23 e 24 de fevereiro.

 

Kirill não fez nada disso simplesmente porque ele próprio fazia parte da guerra e, ao apoiar Putin, também assumiu o papel de agressor.

 

A partir de agora, será muito difícil e constrangedor para a Igreja Católica sentar-se à mesa com os representantes de Kirill. E a oposição a essas mesas ecumênicas virá, aliás, já está chegando, em primeiro lugar, dos fiéis do santo povo de Deus, os católicos e muitos outros.

 

Nesta circunstância extremamente delicada, mas muito provável, não será mais possível responder às críticas dizendo que determinadas tomadas de posição foram necessárias para deixar “algumas portas abertas”. Não! A busca da unidade dos discípulos de Cristo não é tática ou pior ainda, cinismo. É um mandato supremo de Cristo.

 

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